Homilia - 29/11/2020 - Primeiro Domingo do Advento
Iniciamos neste 1º Domingo do Advento um Novo Ano Litúrgico. É a ocasião para desejarmos “Feliz Ano Novo em Cristo”. Vivemos, atualmente, num tempo difícil por causa da pandemia. Como podemos sentir felicidade se tantas pessoas estão sofrendo por causa do isolamento e das consequências nada agradáveis do Covid-19. Poderíamos, também, comentar meio desanimados: vamos repetir tudo de novo; já vimos este filme antes”. Quantos Adventos já celebramos? Quantos Natais? Já passaram vinte anos do Terceiro Milênio do cristianismo, e será que o mundo está melhor? Apesar de todos os apelos dos papas e da Igreja pela paz, estamos vendo crescer a cada dia o ódio, a intolerância, a violência, a injustiça, as guerras, o racismo e o medo. Teremos de concordar com os pessimistas e dizer que a humanidade não aprende, “nem que Deus desça do céu”? Podemos ainda ser otimistas quanto ao futuro do nosso mundo ou esperamos pelo pior? Mas a pergunta mais importante é esta: o que iremos fazer?
Este Tempo do Advento nos convoca a levantar a cabeça, a olhar para gente, a acreditar no futuro e construí-lo passo a passo, retomando a caminhada, alimentando os nossos sonhos e assumir a nossa parte de ação para que eles se realizem. Celebrando este Advento é tomar de novo consciência de que carregamos conosco as sementes da esperança de um futuro mais feliz.
Neste Tempo do Advento estamos nos preparando para o nascimento de Jesus, a festa do Natal. É fácil perceber, que na leitura do Evangelho de hoje não existe nenhuma palavra relacionada ao Natal, porque o objetivo desta celebração de hoje é anunciar a plenitude da Salvação divina, quando Jesus voltar, em sua segunda vinda.
Por isso, o texto do Evangelho fala da importância da vigilância em nossas vidas. Faz, igualmente, um questionamento: como será o encontro definitivo com o Senhor?
“Cuidado! Vigiem e fiquem atentos!” Este é o apelo veemente de Jesus. O que significa isso? Será que Jesus está nos ameaçando, nos amedrontando com coisas terríveis que virão? Ou será que está nos advertindo para a nossa responsabilidade? Há quem diga que o nosso mundo não tem mais jeito e que “só Deus pode mudar o mundo”. Diante disso, muitos ficam esperando pela volta de Cristo para acabar de uma vez com essa história e passar o mundo a limpo. Quem pensa assim está negando uma das afirmações centrais da nossa fé: que Jesus está vivo no meio de nós, até o fim dos tempos (Mt 28,20).
Não podemos interpretar a “volta de Cristo” como sendo um fato isolado que acontecerá num dia e numa hora especificados no calendário. É inútil tentar determinar a hora, como nos lembra o próprio Jesus (Mc 13,32).
Devemos, sim, pensar na responsabilidade que ele entregou em nossas mãos: construir o Reino de Deus a partir daqui e agora. E fazemos isso colocando em comum o que temos, partilhando nossas experiências, servindo uns aos outros, praticando o bem, promovendo a justiça e a paz, ajudando os idosos e necessitados nesta época da pandemia, amando a todos como ele nos amou. Numa palavra, é fazendo o que Cristo fez e assim tornando-o presente entre nós e no mundo.
Não cabe, portanto, a nós cristão deixar as coisas para Cristo resolver. Todos nós esperamos por um país e um mundo melhor. Mas temos de ter consciência que isso não acontece por milagre, nem por um passe de mágica, muito menos acontecerá de noite para o dia com a simples mudança dos governantes. Nossa esperança deve ser ativa, atuante, pois sabemos que o futuro depende das ações que fazemos no presente.
O Natal está chegando como um tempo de esperança, alegria, expectativa de dias melhores. Vamos celebrar o Advento neste ano de maneira diferente, mas não menos especial. É importante que encontremos maneiras de vivenciar a nossa fé enquanto aguardamos o nascimento do Menino Jesus. Mesmo não podendo participar das celebrações na igreja de modo presencial, podemos encontrar maneiras de vivenciar de modo também muito profundo.
Importante é a oração que podemos fazer através da Novena de Natal.
Neste ano vai ter que ser feita em família, com os que moram conosco em nosso lar. É um gesto de piedade muito importante.
Muito significativa é a decoração de Natal feita nos lares, que pode ajudar ainda mais as famílias neste ano a entrarem no mistério do que é celebrado. É necessário que os itens de decoração sejam compostos dos símbolos cristãos. Em meio a tantos símbolos que nos remetem ao comércio, às festas nada cristãs, não podem faltar na casa das famílias cristãs os símbolos cristãos, velas acesas, mas, sobretudo, o presépio, ou ao menos o menino Jesus na manjedoura. Porque Ele é o centro do Natal!
Neste ano atípico, de pandemia, em que muitos no Brasil estão confinados desde março, talvez já desanimados, o Natal deve chegar como um tempo de esperança, alegria, expectativa de dias melhores.
Deixemos de lado o consumismo que já tomou conta deste período. Lojas, shoppings e o ambiente virtual são convidativos, e podem dispersar e tirar o sentido verdadeiro deste tempo. A prática da solidariedade é a melhor preparação de Natal. De muitas formas podemos ajudar os irmãos. Estamos isolados fisicamente, mas nunca espiritualmente. Temos que nos preocupar e nos compadecer, e ajudar os mais necessitados, os doentes e idosos. Não deixe de ajudar e manifestar sua solidariedade.
Advento é perceber a situação e os problemas à nossa volta e, olhando o futuro, assumir atitudes responsáveis e ações concretas.
Advento é ser “vigilante”, é “esperar caminhando”.
“Cuidado! Vigiem e fiquem atentos!”
Frei Gunther Max Walzer