Homilia - 13/12/2020 - Terceiro Domingo do Advento
Quando, no meio de graves problemas, surge uma esperança de solução ou uma melhora, o pessoal costuma dizer: Está aparecendo uma luz no fim do túnel. Estão lembrados, nos domingos de algumas semanas para cá, as leituras só falavam em fim do mundo, tomar cuidado porque o Senhor vem de repente e, por isso, devamos ser vigilantes.
Cada povo e cada pessoa encontra-se em barcos diferentes, mas todos estão enfrentando a mesma tempestade: a pandemia do VOVID-19. Com certeza, ela está confundindo e assustando centenas de milhões de pessoas. Muitas pessoas ao redor do mundo estão doentes, e muitas outras morreram. A menos que a situação mude drasticamente, muitas mais adoecerão e morrerão em todo o mundo.
Esta crise levanta sérias questões médicas, éticas e logísticas. Mas levanta questões importantes para as pessoas de fé. “Onde está Deus? Por quê ele não se manifesta?”
Nas grandes encruzilhadas da história do povo bíblico, sempre surgiram pessoas iluminadas, cheias de Deus, que apontaram saídas para a crise, indicaram o caminho a seguir, animaram os desanimados, alimentaram a esperança dos que já estavam por desistir. Os profetas eram essas pessoas, homens e mulheres imbuídos do Espírito de Deus, bastante lúcidos para não se deixar levar pela dúvida, justos e retos na vida para não se deixarem corromper, bastante fortes para não voltarem atrás quando incompreendidos e perseguidos, muito humilhados para saírem de cena quando terminassem sua missão.
O profeta Isaías era um desses homens que ficou na memória e no coração do povo. Num momento em que tudo parecia perdido e o povo não tinha mais ânimo para retomar o caminho, para reconstruir a nação, para começar de novo, esse profeta vem cantando e falando de coisas novas que Deus fará. Quando reinava tristeza, a desolação, a falta de ânimo, ele anuncia uma festa; onde ninguém conseguia ver a mínima possibilidade de nascer alguma coisa, ele anuncia que Deus vai plantar a justiça, vai transformar a vida do povo num jardim bonito. Será que não estamos precisando hoje de uma dessas injeções, não seria esta a vacina da cura que procuramos?
Há pessoas que querem fugir da situação triste da pandemia e querem festa fingindo por alguns momentos e dizendo que o corona-vírus não existe mais. Isso seria alienação! Fazer festa só tem sentido quando temos certeza de que podemos vencer o problema, podemos acertar o “novo normal” da caminhada e chegar à vitória. Foi para dar uma sacudida no povo que João Batista assumiu o papel de profeta. É verdade que ele não falava em festa, em alegria, mas convidava o povo a pôr-se a caminho, a arrumar a vida para encontrar-se com Alguém muito especial que “já estava no meio do povo”, e que viria trazer a alegria tão sonhada.
Logo, no início do Evangelho, João Batista é apresentado como “testemunha, para dar testemunho da LUZ” (Jo 1,6-7).
Todos sabem o que acontece quando caminhamos na escuridão: esbarramos, caímos, nos machucamos. À noite, numa floresta facilmente podemos ser mordidos por uma cobra ou podemos nos ferir com espinhos.
A vinda de Jesus ao mundo é como a chegada da luz. De si mesmo Jesus disse: “Eu vim como luz do mundo” (Jo 12,46).
Muitas luzes apresentam-se a nós hoje. Quantas luzes enganadoras tentam nos seduzir! Quantas propostas enganosas nos são apresentadas!
João Batista nos indica a luz verdadeira e dela ele dá testemunho: é Jesus. Ele não desilude, mostra os verdadeiros valores, aqueles pelos quais ninguém se arrependerá de ter empenhado a sua vida.
Na segunda parte do evangelho fala-se de um grupo de sacerdotes e levitas (os sacristãos daquele tempo) que se apresentam a João Batista, querendo saber quem ele era. Afinal, quem junta tantos discípulos deve ser olhado mais de perto, porque a qualquer momento ele pode se tornar uma ameaça ao poder estabelecido. Eles levantam três hipóteses: será ele o Messias? Ou, talvez, Elias? Ou o profeta esperado? Ele afirma não ser nenhum deles. E eles nem desconfiam que algo radicalmente novo está surgindo. Não desconfiam que João é apenas um pequeno sinal de algo muito, muito maior!
E João Batista se define: “Eu sou a VOZ”. Nada mais! O que á a voz?
É um conjunto de sons que servem para transmitir uma mensagem e o que acontece depois com a voz? Nada. Ela desaparece.
Fica somente a mensagem que ela transmitiu. Vejam o que é o João Batista; uma voz que dá testemunho da vinda da luz ao mundo e depois, cumprida a missão, desaparece.
Pergunto: de que modo é possível chegar a reconhecer em Cristo a luz da nossa vida? De uma única maneira: através do testemunho de alguém que nos fale, como fez o Batista. A fé não nasce de raciocínios ou de revelações particulares, mas da escuta da “voz” de alguém que encontrou Cristo antes.
E de que nos falam as vozes nos jornais, na rádio e no noticiário da TV? Só se fala em corrupção, narcotráfico, drogas, violência, pornografia...
Onde encontramos a voz de João Batista? Onde encontramos a "voz que grita no deserto"? Onde está a voz no meio de tantas vozes que blasfemam o nome de Deus?
Não somos nós, hoje, a voz de João Batista que grita no deserto?
Depois de 2020 anos, as palavras de João deveriam ressoar com nova matiz. "Eu não sou o Messias. Mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis".
O que sobrou da luz que veio ao mundo 2020 anos atrás? Apenas crucifixos em nossas casas e até em repartições públicas. As Bíblias grandes e bonitas que enfeitam a sala de nossas casas. Fazemos feriado no Natal, mandamos mensagens de felicitações para nossos amigos, o comércio faz propaganda com Papai Noel que não tem nada a ver com Jesus, para comprarmos presentes para o dia de Natal.
Será que as pessoas se dão conta do significado de Natal? Será que, mesmo nós cristãos, conhecemos o conteúdo do projeto do Reino que Jesus anunciou e o significado da salvação pela qual Jesus sacrificou sua vida?
O testemunho nosso é a melhor preparação do Nata! O tempo do Advento é uma oportunidade para rever a importância do testemunho da fé e avaliar a vivência da nossa fé em nossas famílias, no lugar de trabalho e na sociedade!
Frei Gunther Max Walzer