Homilia - 31/01/2021 - IV Domingo do Tempo Comum
Na realidade sofrida e dura desta pandemia, todos nós somos sacudidos na nossa fé. Em que e quem podemos confiar? Nunca se publicou tanto como desde o início da pandemia do covid-19 sobre a doença e a vacina em revistas, artigos e na mídia social. Mas como saber nesse momento, quais informações servem apenas para disseminar pânico e medo? Navegando na internet e em redes sociais, encontramos muita informação útil, mas encontramos também muita desinformação.
Hoje, no Evangelho, encontramos Jesus na sinagoga de Cafarnaum. Ele dá lições de vida. O que mais chama atenção na atitude de Jesus é a autoridade com que ele age e ensina. Seus ouvintes perguntam, admirados: “O que é isto? Um novo ensinamento com autoridade!” (Mc 1,27). Eles estavam acostumados a ouvir os escribas e fariseus sempre interpretando e ensinando textos da tradição. Agora, os ouvintes de Jesus veem esse que ensina a partir de sua própria autoridade.
E suas palavras não são apenas palavras bonitas que tocam o coração, sentimentos. Jesus é autêntico, não vive com uma fachada, a pregação e a vida não ficam separadas, é ele, assim como ele é. Vive e ensina o Reino de Deus, por palavras e ações, ele é coerente. É por isso que os ouvintes reconhecem a sua autoridade, ao contrário dos doutores da lei.
Jesus sabe que sua autoridade vem do Pai. Ele expulsa espíritos maus que estavam dentro de certas pessoas. “Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem” (Mc 1,27).
Antigamente, o povo não tinha os conhecimentos científicos de que dispomos hoje, nada conhecia de micróbios, de bactérias e vírus, de epilepsia, de psicoses, e o povo acreditava que todas as doenças eram provocadas por algum “espírito mau”.
O fato relatado no Evangelho de hoje, a luta de Jesus contra um destes “espíritos”, tem um significado simbólico. Mas aí está a ironia do fato de ser justamente o “espírito mau” o primeiro que reconhece que a autoridade de Jesus vem de Deus. “Sei muito bem quem é você: é o Santo que Deus enviou!” (Mc 1,24).
E quem são os espíritos maus hoje? Ainda encontramos espíritos maus?
Será que temos a consciência de que herdamos de Jesus Cristo a mesma palavra e a mesma autoridade sobre todos os “espíritos maus”?
Estamos conscientes de que a palavra do Evangelho, quando anunciada com transparência, é um ataque vigoroso contra qualquer “demônio”?
Mas que demônio? Forcas demoníacas, com certeza, são: os sentimentos racistas que impelem ao ódio, à discriminação, às injustiças contra os que são diferentes de nós; “demônios” são os vícios da bebida e da droga, a ganância, a paixão sexual desenfreada e incontrolada. Enfim, “espírito mau” encontramos em tudo aquilo que prejudica as pessoas, provoca miséria, tira a dignidade do homem e da mulher.
“Espíritos maus” encontramos nos “fake news” que são armas usadas pelo demônio. Várias vezes, o Papa Francisco, em suas mensagens, chama atenção dos maus espíritos que criam falsas notícias “visando enganar e até mesmo manipular pessoas”. “A desinformação ou fofocas desacreditam as pessoas e fomentam conflitos. Hoje em dia”, afirma o Papa Francisco, “a difusão de ‘fake news’ pode contar com um uso manipulador das redes sociais que tornam ‘virais’ as notícias falsas”.
O Papa, voltando ao Livro do Gênesis, observa que, na base das notícias falsas, há a “lógica da serpente” que, de alguma forma, tornou-se “artífice da primeira fake news”. “O tentador assume uma aparência credível” e concentra-se “na sedução que abre caminho no coração do homem com argumentos falsos e sedutores”. Precisamente como as notícias falsas. Este episódio bíblico mostra que “nenhuma desinformação é inofensiva; antes pelo contrário, usa aquilo que é falso e produz consequências nefastas”, já que também “uma distorção da verdade aparentemente leve pode ter efeitos perigosos”.
Assim podemos encontrar, hoje, um “mau espírito”. E onde estaria a autoridade que se opõe aos “espíritos maus”? Diz-se que, hoje, já não há autoridade na família, na escola, na comunidade, na sociedade.
Eu tenho a impressão que isto infelizmente acontece muitas vezes na nossa vida: somos incoerentes, pouco autênticos, há uma discrepância entre a palavra e a ação. E é assim que ficamos sem autoridade. Que perdemos credibilidade.
Mas há uma esperança, há uma solução para nós: À medida que os ensinamentos de Jesus fizerem parte da nossa vida cotidiana, os espíritos maus não encontram mais espaço em nossa vida, pois é o Espírito Santo quem conduz os pensamentos e os atos de todos e de cada um de nós.
Que Deus atenda nossa prece: “Livrai-nos do mal!”.
Frei Gunther Max Walzer