Homilia - 06/06/2021 - X Domingo do Tempo Comum
Jesus levava uma vida missionária itinerante, mas, hoje, o encontramos na casa em Cafarnaum que passa a ser o local da nova comunidade dos discípulos de Jesus. Jesus se encontra dentro da casa onde estão reunidos os discípulos e discípulas em torno dele, seus parentes estão do lado de fora e a multidão que são pessoas do povo: são os aleijados, coxos, pobres, doentes que estão “como ovelhas sem pastor (Mc 6,34)”.
Também fariseus e doutores da Lei estavam lá. Eles tinham descido de Jerusalém e afirmavam: «Ele está dominado por Belzebu, o chefe dos demônios» (Mc 3,22). Podemos observar, Jesus não é acusado por ter infringido a Lei, ou os costumes dos judeus, ou o Sábado. Nem sequer é denunciado por blasfemar. Ele é acusado de estar possuído pelo chefe dos demônios! Percebemos que esta é uma das primeiras acusações dirigidas a Jesus, antes de o acusarem de violar a Lei Judaica.
Realmente, ficamos surpreendidos ao ver até onde podem chegar a cegueira e a malícia humanas, neste caso de uns “doutores”. Eles deviam ser os entendidos, os que conhecem as coisas de Deus para ajudar o povo, e afinal não só não o reconhecem como Messias como o acusam de diabólico.
Mas, interessante é a resposta que Jesus lhes deu: “Como é que Satanás pode expulsar a si mesmo?... Se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não poderá sobreviver, mas será destruído. Ninguém pode entrar na casa de um homem forte para roubar seus bens, sem antes o amarrar. Só depois pode saquear sua casa” (Mc 3,23-24.27).
Jesus diz, ainda, que eles estão pervertendo a ação de Deus, ao afirmarem que o bem realizado por Jesus é obra do demônio. Esta acusação é a maior ofensa que eles poderiam fazer contra o Espírito Santo que é quem age em Jesus curando os doentes, afastando os demônios e operando os milagres.
Isto mostra que Jesus rejeita completamente a ideia de estar agindo para Satanás. Por este motivo, começa a falar da casa do homem forte. Jesus parece apontar diretamente para a sua missão de construir o Reino de Deus “amarrando” o homem forte, Satanás, através da salvação realizada por ele.
Na verdade, a expulsão dos espíritos malignos demonstra que Jesus é mais forte que Satanás. O Papa Francisco, numa audiência geral, afirmou: «No nosso ambiente, basta abrir um jornal para ver que a presença do mal existe, que o diabo atua. Porém, quero dizer em voz alta: Deus é mais forte! E vós, acreditais que Deus é mais forte?».
No texto do evangelho ouvimos que, naquele momento estão reunidos dois grupos: os seus parentes e os fariseus. Seus familiares querem “agarrá-lo” e levá-lo para casa. Mas qual era a preocupação dos seus parentes? Querem preservar a honra da família, pois estão preocupados pelos comentários que se fazem sobre Ele. Jesus praticava atos, curava doentes e falava coisas que não estavam de acordo com as normas e costumes da época, por isso, pensavam que Ele estava ficando louco, por estar colocando a sua vida em risco. Eles não entendiam que a Boa Nova exigia postura nova também! Jesus não pactua com o mal, e tem a missão de libertar todas as pessoas de qualquer tipo de opressão que as excluem da vida social e religiosa.
A mãe de Jesus aparece também no meio daqueles que não entendem sua mensagem. Mas a mensagem que se nos quer transmitir é que a grandeza de Maria está na sua fé e não porque ela é “mãe” de Jesus.
A partir desta ótica entende-se melhor que, no final do texto, Jesus diga que seu pai, sua mãe e seus irmãos são aqueles que estão sentados ao seu redor escutando-o. “Vejam! Aqui estão a minha mãe e os meus irmãos. Pois quem faz a vontade de Deus é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mc 3,34).
Somos convidados para também fazermos parte desse grupo de seguidores que nos relata o evangelho.
Somos convidados a sermos parte da família de Jesus, a qual não tem fronteiras de nenhum tipo nem critérios que consideram uns superiores aos outros. Um grupo aberto a todos e todas que queiram fazer a vontade de Deus. Estar ao seu redor, seremos seus amigos e familiares.
Estamos atentos a sua Palavra e seu agir para nos deixarmos transformar por ele e ser, assim, integrantes do Reino que ele nos convida a construir?
Ou somos questionadores de seu poder, de sua pessoa e rejeitamos todo tipo de ação reconciliadora que não entre nos nossos critérios?
O Reino de Deus é um Reino de unidade, e o reino de Belzebu é o império de divisão. Os dois poderes são reconhecidos nesta distinção: a luta entre ódio e perdão, entre inimizade e paz.
Fomos convidados para construir o Reino de Cristo. Não é de se admirar que tenhamos a oposição dos inimigos.
“Felizes quando vos injuriarem...”.
Como cristãos podemos esperar alguma coisa diferente?
Frei Gunther Max Walzer