Homilia - 20/06/2021 - XII Domingo do Tempo Comum
Todos nós conhecemos o canto: “Se as águas do mar da vida quiserem te afogar, segura na mão de Deus e vai!”. A vida, realmente, é, muitas vezes, como um mar turbulento. Quem não tem experiência disso? As tempestades da vida são frequentes e, algumas vezes, parecem não ter solução. Sentimos medo de certas turbulências. É bem verdade que o medo faz parte de nossa condição humana. Quem diz que nunca teve medo, está mentindo.
Atualmente, o mundo está passando por um dos períodos mais difíceis e tristes da história humana, a pandemia. Muitas vezes fazemos perguntas como estas: Por que existem a doença e a morte em nossa vida?
Além da morte que aflige as pessoas, há os desastres da natureza, como enchentes, que deixam, de um dia para o outro, milhares de famílias sem teto. Há os acidentes de trânsito, que tiram a vida de tantos, de modo súbito, ou deixam pessoas mutiladas. Há a miséria e a fome batendo à porta de muitas famílias, e, enfim, a morte se anuncia sem pedir licença, que bate à porta da nossa família e nos leva um ente querido, um amigo ou uma amiga.
Diante de todas essas “turbulências”, as pessoas se perguntam ”onde está Deus nessas horas? Vale a pena acreditar em um Deus que está dormindo bem na hora em que se arma uma tempestade dentro ou fora da gente? Não dizem que Deus nos ama e nos protege? É assim que as dúvidas invadem o coração.
A Sagrada Escritura nos ajuda a entender a “posição” de Deus. Jó está desesperado e questiona o próprio Deus: “Por que estou sofrendo tanto?”. É assim mesmo: na hora da angústia, chamamos a Deus, esperamos que nos ajude a não afundar. Jó não concordava com as explicações de seus “amigos”, que teimavam em dizer que o sofrimento dele era o castigo por algum pecado muito grave que ele teria cometido. Essa explicação Jó não aceitava e apela para o próprio Deus.
E Deus não dá uma explicação ao porque do sofrimento, mas põe em evidência a pequenez do ser humano diante do mistério de Deus, que tudo fez com sabedoria, equilíbrio e bondade. “Quem dominou as forças do mar, quem demarcou os limites das águas? Sou eu que diz: até aqui chegará, e não além” (Jó 38,1.8-11). Assim, Jó percebe a presença e a bondade de Deus em tudo, inclusive do seu sofrimento.
Há, também, em nossa vida momentos em que nos sentimos tragados pelas ondas de problemas e dificuldades. Isso acontece quando enfrentamos graves problemas na família, infidelidade do marido e da mulher, mau comportamento dos filhos, doenças, dificuldades econômicas ou então quando nos desentendemos com os irmãos da comunidade, quando se espalham maledicências, fofocas e calúnias, quando surgem incompreensões.
Nessas horas nos perguntamos: - Onde está Deus? - Onde está Cristo? - Por que não intervém? - Por que não mostra o seu poder? - Por que não faz justiça?
Parece, mesmo, que Deus esteja dormindo. Sentimos que Ele está longe ou mesmo completamente ausente. O seu silêncio nos desconcerta e nos causa medo.
Nós gritamos por Deus e Jesus Cristo quando sentimos medo. Sentimos medo do contágio e da contaminação com o corona-vírus, medo de doenças, medo de acidentes, medo de assaltos, medo de expressar nossos pensamentos, sentimentos, emoções, medo de perder a pessoa amada, medo da crítica, medo do desemprego, medo do futuro, medo da solidão, medo da morte, medo de sentir medo.
O sofrimento, a angústia, o medo, a ameaça à nossa vida nos tornam semelhantes aos discípulos na barca da tempestade. Por isso, Jesus repreende os discípulos com palavras duras. Ele não só lhes pergunta: “Por que vocês são tão medrosos?”, mas também acrescenta: “Ainda vocês não têm fé?”.
Por que Jesus censura os discípulos, como se eles não tivessem fé nele? A falha que eles cometeram é a de se terem lembrado do Mestre, somente, quando se encontraram numa situação desesperadora. Discípulos sem fé, sem adesão a Jesus: seguem-no, ouvem-no, mas não põem a sua plena confiança nele... Quem acredita em Cristo está sempre em contato com ele, não recorre a ele somente quando a situação já está incontrolável. Só então rezam com toda a devoção e lhe pedem para que venha socorrê-los. Será que esta fé é autêntica?
"Por que vocês são tão medrosos?”, Jesus está dirigindo está pergunta a você, também?
O medo é um cão perigoso, terrível, que morde quando temos medo dele.
O medo é a força negativa que faz acontecer o que o medo teme, assim como a fé é uma energia positiva que faz acontecer o que a fé espera.
Ter medo é ter mais fé no perigo do que em Deus. A vitória da fé é a vitória sobre o medo.
Existe uma saída? Existe uma terapia?
Sim! Para enfrentar o fantasma do medo, com confiança e coragem, é fundamental tomar consciência da presença de Deus em nós. Só Deus é a força invencível da vida, contra a qual nada nem ninguém pode. Sem esta convicção é impossível vencer “o gigante negro da alma”. Sem esta fé é impossível recuperar o equilíbrio, a serenidade, o sentido, a alegria de viver.
Só existe uma terapia, a terapia de abandonar-se às mãos de Deus, como nós cantamos: “Se as águas do mar da vida quiserem te afogar, segura na mão de Deus e vai. Se as tristezas desta vida quiseram te sufocar, segura na mão de Deus e vai”.
Os discípulos perguntaram: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?”.
E nós respondemos com fé: “É o Cristo Ressuscitado que prometeu estar conosco todos os dias, porque somos filhos e filhas muito amados por Deus, porque nossa vida está em suas mãos”.
Frei Gunther Max Walzer