Homilia - 27/06/2021 - XIII Domingo do Tempo Comum
Vivemos, atualmente, numa época muito difícil, arcada por uma pandemia que trouxe muita dor e sofrimento: milhares de vidas perdidas, famílias que perderam avós, pais, mães, filhos, netos, seus entes queridos. Estamos enfrentando também um agravamento da violência, feminicídio, fobias e muitas pessoas encontram-se em uma situação de desemprego e fome como há muito tempo não existia.
Há muitos questionamentos sobre as causas da pandemia e procuram-se culpados do agravamento dela que, em muitos casos, tornam-se vítimas expiatórias.
O texto do Evangelho de hoje nos confronta, novamente, com o sofrimento e a morte. A Palavra de Deus nos pode ajudar na reflexão sobre o que acontece à nossa volta, dentro de nós mesmos, e como enfrentar e vencer as tribulações.
O Evangelho nos traz dois milagres de Jesus. O primeiro deles foi para uma mulher que há dozes anos sofria com uma hemorragia. Havia perdido tudo o que possuía, com remédios, médicos, mas nada a curou. No entanto, se conseguisse tocar a roupa de Jesus, este ato poderia curá-la.
Na época de Jesus, o sangue era considerado impuro, e as pessoas doentes eram vistas como pecadoras. Mas Jesus não mandou que a mulher fosse se purificar para voltar depois. Não mandou que parasse de pecar. Como ele próprio disse, dele saiu uma força quando foi tocado. Ele não questionou, não repreendeu, não fez nenhuma exigência. Jesus simplesmente disse: “Filha a tua fé te salvou. Vai em paz e fica curada dessa doença.”
Esta mulher é exemplo de fé!
Isto nos faz lembrar das muitas doenças que trazemos dentro de nós e nos tornam impuros. Embora, muitas vezes, estejamos preocupados com a impureza dos outros. Por exemplo: o orgulho, o ódio, o preconceito, o egoísmo. Enfim, tudo aquilo que nos impede de amar ao meu irmão e minha irmã, principalmente aqueles que são diferentes de mim. Precisamos tocar em Jesus, com muita fé, pois só o seu amor, terá a força de nos libertar de nossas impureza
Naquele mesmo lugar estava o Chefe da Sinagoga Jairo que pedia a Jesus que fosse curar sua filha. Até que chegaram alguns de sua casa dizendo que a menina havia morrido, mas Jesus disse: Não tenhas medo. Basta ter fé. Levando consigo apenas Pedro, Tiago e João, assim que entrou na casa, ouviu choros, lamentos e gritos por aquela morte; então, expulsos todos da sala, naquele silêncio, ele pega a mão da menina e lhe diz em aramaico: “Talitá cum”, “Menina, eu te digo: levanta-te!”.
Ela levantou-se imediatamente e começou a andar, pois tinha doze anos.
A morte para Jesus não é o fim, não é limite. Há uma outra vida além dessa. Mas existem, em nossas vidas, muitas situações de morte, além da morte corporal, que nos fazem ser mortos vivos. Morte da esperança, morte da dignidade, morte da verdade, morte do amor e muitas outras. Jesus nos quer curar e salvar dessa morte, proporcionando-nos a possibilidade de ter uma nova vida através da fé. A mulher vai embora, não apenas curada, mas tendo escutado uma bem-aventurança por causa de sua fé e tendo recebido o nome de “filha”, um título familiar raro nos Evangelhos. “Minha filha, a tua fé te curou; vai em paz e fica curada dessa doença” (Mc 5,34).
Jairo prostra-se aos pés de Jesus e seu argumento é firme, não dando margem para dúvidas da fé que ele professava em Jesus. Jairo não pediu para Jesus estudar a possibilidade de ir á sua casa visitar a menina, mas falou como quem crê "Vem impõe-lhe as mãos, para que ela se salve e viva". A Fé não é uma possibilidade mas uma realização concreta. Jairo não desistiu, mesmo quando recebeu a notícia da morte de sua filha: "Não adianta incomodar a Jesus, a menina morreu".
Na vida de Fé também é assim, há pessoas que desistem fácil e qualquer coisa torna-se pretexto para desistir de tudo e abandonar a Fé em Jesus Cristo. Mas Jairo sabia que a Vida Nova que Jesus dava para as pessoas não tinha limites, nem a morte pode impedi-la de acontecer.
Muitas vezes queremos usar a nossa Fé para resolver coisas terrenas, uma Fé que coloca Jesus a nosso serviço. Tem muita gente, inclusive cristãos de comunidade, que pensa e age assim, não conseguem vislumbrar nada de novo em Jesus Cristo.
“Menina, levanta-te!” A fé perseverante da mulher e de Jairo até o fim obtém o resultado. Aquilo que parecia impossível acontece para aqueles que se entregam na fé em Jesus. Estamos vivendo uma situação parecida com a de Jairo, de muitas dificuldades e tristeza. Talvez não com uma filha à beira da morte, mas com alguma situação sobre a qual já não temos mais controle. Já usamos todos os recursos, nossa inteligência e a nossa influência para solucionar essa questão, mas nada mudou.
Coragem e fé! Tomemos uma atitude que deveria ter sido tomada desde o começo da nossa angústia: prostrar-se aos pés de Jesus e suplicar pela Sua ajuda.
Frei Gunther Max Walzer