Homilia - 11/07/2021 - XV Domingo do Tempo Comum
Hoje, o Evangelho relata a primeira das missões evangelizadoras. Jesus envia os Doze a anunciar a Boa Nova do Evangelho, a curar todo tipo de enfermos e a preparar os caminhos da salvação definitiva.
É interessante que Jesus não envia simplesmente os apóstolos mas capacita e orienta a maneira como devem proceder e se comportar.
No tempo de evangelista Marcos, ele só podia usar a linguagem que aquelas pessoas entendiam: evangelizar é “ter autoridade sobre os espíritos impuros”; é “levar apenas um cajado e nada de pão, nem bolsa, nem dinheiro”; é “andar de sandálias, mas não levar duas túnicas”, é “hospedar-se onde encontram acolhida, mas sacudir a poeira dos pés contra os que não acolhem”; é “pregar que todos se convertam”, é “expulsar demônios, curando os doentes através da unção com óleo”. Toda maneira de falar tinha um significado para aquele povo que é o mesmo para nós hoje, só que hoje dizemos com outras palavras.
Da mesma forma que Jesus enviou seus discípulos a evangelizar, assim ele também nos convida, e envia a cada um de nós para cumprirmos nossa missão como seus missionários, a dar continuidade à missão que ele iniciou.
Muitos cristãos, ainda hoje, pensam que o assunto da missão, ser enviado, sair para pregar só diz respeito aos padres, aos bispos, aos religiosos e religiosas. Muitos cristãos pensam que “ter fé” é cumprir certas obrigações como ir à missa, receber os sacramentos, observar os mandamentos de Deus e da Igreja. Para muitos cristãos há um conjunto de crenças que devem ser “aceitas”, embora não conheçam seu conteúdo nem entendam as palavras quando rezam o “Creio em Deus Pai”. Muitos cristãos sabem que há um código de leis que “devem” ser observadas e cumpridas, mesmo que seja de maneira mecânica. Esta maneira de compreender e viver a fé gera um tipo de cristão medíocre.
Se olharmos para a vida dos santos da nossa Igreja, e para a vida das pessoas mais realizadas que conhecemos, veremos o que acontece com quem de fato assimilou as recomendações de Jesus… “Deu ordem para não levarem nada na viagem”…
Importante é ter a consciência que a fé é uma peregrinação, uma viagem. E no percurso desta peregrinação há de tudo: caminhada prazerosa e momentos de busca, desafio que é preciso superar, retrocessos, decisões, dúvidas e interrogações... Tudo faz parte do caminho.
Parece-me que este é o convite do Papa Francisco para uma “Igreja em saída”. O Papa deseja ver renascer na Igreja nova a experiência de fé cristã missionária, fundamentada no evangelho, de modo que a mensagem da salvação chegue realmente a todos, sem exclusão.
“Então os doze partiram e pregaram”. As instruções que Jesus deu a seus discípulos nos servem hoje como orientação para a trajetória da nossa vida e da própria Igreja. Isso significa, para quem abraça essa missão de Jesus têm algumas exigências: ser desapegado, desinstalado, desacomodado. Não perder tempo com futilidades, com coisas que não são essenciais. Realizar a missão com muito entusiasmo e pronto para enfrentar as dificuldades.
Sei que não é uma tarefa fácil, mas também sei que o caminho se faz ao caminhar… Jesus não enviou homens e mulheres perfeitos, enviou homens e mulheres de Fé…
“Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!”.
Não há motivo razoável para que permaneçamos onde o amor não pode acontecer e se realizar. O amor é sempre saída de nós mesmos. Mas há portas fechadas. Nesse caso, não é razoável permanecer com a poeira nos pés. É preciso sacudi-la, e seguir viagem.
Todos somos enviados para pregar com a nossa vida. Onde? Aí, no meio onde cada um se encontra! No entanto, devemos começar em casa. A família é o primeiro espaço onde devemos evangelizar, através das relações de amor, de perdão, de respeito, de diálogo, de educação. A família é chamada a ser uma pequena Igreja, um verdadeiro sinal da presença do Reino de Deus, construindo a paz, o amor, o perdão e apoio mútuo.
Além da família, devemos levar as sementes do Evangelho também a outros campos da vida: o trabalho, a escola e universidade, ambientes culturais, meios de comunicação, política.
Responder ao chamado de Jesus deve ser a coisa mais cara da nossa vida. Como dizia São Francisco de Assis: “Pregue o Evangelho em todo tempo. Se necessário, use palavras.”
Sejamos “apaixonados” pelo Reino! Precisamos nos mobilizar para sermos discípulos missionários. Nossa disponibilidade e despojamento são necessários para podermos cumprir a nossa missão! Não podemos ficar sentados, temos que caminhar e sair do nosso comodismo!
Jesus Cristo conta com você e comigo!
Frei Gunther Max Walzer