Homilia - 18/07/2021 - XVI Domingo do Tempo Comum
Famílias, escolas, clubes de esporte, filantropia e lazer, partidos políticos e associais religiosas, assim como qualquer grupo social, requererem a presença de um líder ou lideranças que possam garantir um bom funcionamento e emprenho.
A função do líder assemelha-se a do pastor, aquele que cuida do rebanho, defendendo-o contra os ataques de possíveis “lobos”.
Muitas são as passagens bíblicas relatando queixas contra aqueles que foram colocados diante do Povo de Deus para conduzi-lo, sendo bons pastores e se tornaram infiéis.
A cena do Evangelho é muito oportuna neste aspecto de olhar a vida do povo. Jesus olha e vê um povo sofrido, empobrecido, sem alegria de viver. Uma palavra me chamou atenção, a palavra “COMPAIXÃO”. “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão” (9,36).
Jesus viu este povo numa situação desesperadora. A maioria de seus líderes políticos buscando seus interesses pessoais e não estão nem aí para a causa do povo. Não só não promovem a justiça, como praticam a injustiça e estão contaminados pela corrupção. E ainda fazem tudo isso acobertados pela Lei. Jesus vê essa situação do povo e teve compaixão.
Não é necessário olhar para o povo do tempo de Jesus para entender que a mesma cena se repete hoje, diante de nossos olhos. Outro dia, assistindo ao noticiário da TV, fiquei pensando, se Jesus estivesse sentado no meu lugar assistindo ao noticiário, vendo esta sequência de acontecimentos tristes, desanimadores, jocosos, horríveis... matéria de tantas discussões, de violência, guerra, de paixões, de vingança...o que Jesus sentiria? Quem estivesse ao lado de Jesus nessa hora, observaria: “e Jesus está sentindo compaixão, Jesus tem pena do povo”.
E nós, olhando esse povo que anda triste e angustiado por causa da pandemia, olhando as moradias precárias em que mora a maioria das pessoas, vendo o atendimento insuficiente dos doentes nos hospitais, vendo as filas longas de desempregados, vendo os idosos abandonados nos asilos, vendo as crianças com fome e sem ensino, vendo a juventude sem instrução e orientação... o que sentimos?
Por um lado é bom quando os meios de comunicação nos mostram a realidade, denunciam, mostram as injustiças, os sofrimentos, as necessidades do povo. Mas, por outro lado, pode ter um lado negativo: de tanto ver o desamparo, as tragédias, as agressões à dignidade humana, corremos o risco de a gente se acostumar à miséria humana e de banalizar a desgraça do povo. A gente pode se acostumar e acaba achando normal o que é absurdo. A gente diz: “É assim mesmo!”. E pronto!
Será que nós temos os mesmos sentimentos que Jesus teve em relação às pessoas que estão sofrendo? Será que nós temos a capacidade de nos identificarmos com situações dramáticas, com os sofrimentos, com as angústias, com os problemas?
Muitas vezes, tranquilizamos a nossa consciência porque ficamos indignados com os “pastores”, com os políticos e governantes que são negligentes, exploram e oprimem, mas não passamos disso. Talvez nos limitamos a condenar os que erram. Jesus não age assim, não profere palavras agressivas, mas senta-se ao nosso lado e dialoga, entende os problemas e as situações do povo e “começa a ensinar-lhes muitas coisas, porque eram ovelhas sem pastor” (6,34).
Jesus não só transmite um ensinamento, mas nos mostra um comportamento de relacionamento com as pessoas, segundo o espírito do Reino de Deus. Todos somos feitos para nos encontrar com o outro, talvez seja esta a grande lição e ensinamento desta pandemia. Portanto, deixemo-nos transformar por esse espírito de “compaixão”, de solidariedade e fraternidade. Jesus nos ensina a estabelecer relações novas consigo mesmo e com os outros. Nesse sentido, o ensinamento de Jesus tem a marca da “compaixão”.
Frei Gunther Max Walzer