Homilia - 15/08/2021 - Solenidade da Assunção de Nossa Senhora
Neste domingo, celebramos a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. No calendário litúrgico, esta festa está agendada para o dia 15 de agosto. No Brasil, por questões pastorais, considerou-se por bem transferi-la para o primeiro Domingo depois do dia 15 de agosto.
No contexto do Mês Vocacional, este Domingo é dedicado à oração pelas Vocações Religiosas. A vida consagrada a Deus —vida religiosa — é um modo de testemunhar o amor fraterno e os Conselhos Evangélicos de Pobreza, Castidade e Obediência, segundo o carisma que é próprio de cada congregação ou ordem religiosa.
Maria Santíssima, a Mãe de Jesus, é modelo de discípula consagrada por colocar sua vida totalmente à disposição do projeto divino na simplicidade e na disponibilidade do serviço ao Reino de Deus. Esta disponibilidade a Deus e aos irmãos está descrita na primeira parte do Evangelho: depois de se oferecer ao serviço de Deus, acolhendo a proposta de ser Mãe de Jesus, se disponibiliza ao serviço fraterno, indo ajudar sua prima Isabel.
A vocação dos consagrados é uma vocação de serviço a Deus e aos irmãos. Como acontece em toda a Sagrada Escritura, Deus sempre chama — “vocaciona” — alguém não em vista de um privilégio particular ou para dar um prêmio pessoal, mas para o bem de todo o povo. Assim, na vocação de Maria se contempla a vocação de cada membro do povo. Como Maria foi escolhida por Deus para que seu Filho se encarnasse na humanidade em vista da vida plena, a Salvação, assim cada um de nós é chamado a participar desta vocação favorecendo a vida plena em nossa comunidade e sociedade.
O que estamos festejando, hoje, é um final feliz de uma história dramática – a história da vida de uma mulher que se chama Maria. Logo, no início de sua vida, Maria aceitou um desafio, o desafio de uma aventura. Ela assiste às horas pesadas e terríveis da missão de Jesus, primeiramente festejado pelo povo, depois perseguido pelo mesmo povo. Maria assiste ao fim trágico de seu filho na cruz. Maria assiste ao final de tudo, quando o Filho de Deus, seu próprio filho, aparece ressuscitado.
O texto do Evangelho é um texto de grande profundidade. O amor da jovem virgem de Nazaré enche de Espírito Santo – isto é, de amor – a idosa Isabel, que reconhece prontamente na fé de Maria: “Bem-aventurada aquela que acreditou que as palavras do Senhor se cumprem!”.
Maria responde a essa saudação entoando o Magnificat. Maria canta e experimenta a alegria do Deus que realiza nela grandes maravilhas – “Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus, meu salvador”(Lc 1, 46-47). Maria experimenta uma relação profunda com Deus. O Magnificat resume a grande fé de Maria que é construída pela sua experiência de vida, O Magnificat é uma oração que não é feita de fórmulas, mas da experiência do Deus que constrói a história da salvação na Vida de Maria.
O Magnificat nos diz algo muito simples e fundamental: a vida eterna para cada um de nós começa aqui e agora, segundo a nossa capacidade de amar e de ser amado, um amor que manifesta a verdade da nossa fé e da nossa esperança.
Este é o Cântico de Maria, é o canto de todos nós que não se entregam diante das dificuldades, que cantam as maravilhas de Deus que age na história da nossa vida, na vida de quem sabem caminhar com esperança porque Deus caminha conosco, Ele é o DEUS da VIDA.
Em Maria, vemos o modelo do nosso ‘fim último’. A nossa vida, uma luta entre o bem e o mal. Vivemos num mundo pecador, cheio de violência e maldade. Todos nós temos que lutar contra o mal que está dentro de nós, o nosso egoísmo, a intolerância, a ganância, os preconceitos, a soberba.
O mal continua existindo no mundo. O mal tem muitos nomes e muitas faces: injustiça, miséria, materialismo, violência, corrupção, abandono de doentes e idosos, guerra...
Esta é a nossa caminhada neste mundo e foi, também, a caminhada de Maria.
Mas, o centro de minha reflexão não é exatamente o céu, é o modo de vida que nos conduz ao céu. Como a gente chega ao céu? Esta é a pergunta que nós todos, primeiramente, devemos responder.
“Com minha Mãe estarei, na santa glória um dia, ao lado de Maria, no céu triunfarei”, assim cantamos. Mas, como chegar lá?
A Assunção de Maria foi o resultado da sua caminhada nesse mundo. No Evangelho de hoje, Maria é saudada pela sua prima como “bendita entre as mulheres”. Por que ela é “bendita”? Por causa de sua atitude de fé, porque ela "acreditou”, será cumprido o que o Senhor lhe prometeu. Se Maria não tivesse acreditado na mensagem do anjo, não tivesse dado seu “sim”, não tivesse feito o caminho de sua vida com Jesus, ela não teria participado da glória divina, em sua Assunção. Em outras palavras, a Assunção é uma consequência da fé nos planos de Deus. ‘Seja feita, na minha vida, a Vossa vontade!”.
Pela Assunção realiza-se aquilo que São Paulo dizia na 2ª leitura: “Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão”. Portanto, em Cristo todos podemos participar da glória divina, da mesma forma como Maria participa, em sua gloriosa Assunção aos Céus. Paulo explica que aqueles que vivem na fé, que vivem na intimidade com Cristo, são destinados a participar da glória divina. A mesma glória da qual, agora, participa Maria.
“Com minha Mãe estarei, na santa glória um dia, ao lado de Maria, no céu triunfarei”, assim cantamos. Mas, como chegar lá?
Frei Gunther Max Walzer