Homilia - 19/09/2021 - XXV Domingo do Tempo Comum
Quem é o ou a maior, mais forte, mais poderoso, mais famoso, mais bonito? É o desejo humano de ser grande aos olhos dos outros, de ocupar sempre os melhores e primeiros lugares, ser “Nota 10”, de ter o poder de dominar o mundo, de ser famoso... A luta pelos primeiros lugares determina, muitas vezes, a vida e o julgamento das pessoas. Nossa sociedade é extremamente competitiva, o que importa é ser “o maior”. E quem não é? Parece que a inveja também está muito presente na sociedade em que vivemos.
O que nos leva a querermos ser sempre o melhor, o maior entre aqueles que convivemos? Gostaríamos de não sentir inveja, ódio, ciúme, porém são sentimentos que fazem parte de nossa vida.
Desde pequenos nos passam a ideia de que, se não tivermos beleza, inteligência, riqueza, simpatia, nunca conseguiremos sucesso na vida. Na escola somos motivados a sermos os melhores da turma; temos que nos esforçar para passar no vestibular entre os melhores; no trabalho fazer de tudo para termos cargos melhores; na política, de modo particular nesta época antes das eleições, os candidatos dizem sempre que farão as coisas melhores do que os concorrentes. Podemos continuar a fazer uma grande lista de competições que nos acompanham no dia-a-dia.
Na maioria das vezes fazemos o melhor para agradar alguém, para se sentir bem diante dos outros ou para ser “adorado”. Quando nossas atitudes estão centradas em nossa exaltação recebendo aplausos, o espírito cristão desaparece, tornando-se apenas uma bela fachada em nossa vida, ou uma moldura que colocamos para parecermos mais bonitos com o titulo de cristão. Querer ser o maior é querer ser como Deus.
O tema da inveja está presente no texto do Evangelho de hoje. Jesus mesmo depara-se com a preocupação dos discípulos que vinham discutindo pelo caminho quem era o maior entre eles.
Parecia natural a preocupação, pois a expectativa deles não é a mesma de Jesus. Eles esperam um Messias com pompa e glória e assim, aquele que é “o maior” poderá estar numa posição de destaque diante do povo. Eles eram homens muito simples e rudes; tinham ciúmes e ambições a respeito dos lugares que iriam ocupar no Reino que Jesus anunciava.
Jesus, percebendo as preocupações deles, pergunta: "O que discutíeis pelo caminho?". O mesmo caminho que Jesus percorre por amor, para dar a vida e para salvar a humanidade, torna-se local e espaço de disputa para se conquistar o poder humano no Reino de Deus.
A pergunta de Jesus cala os discípulos porque compreendem que estavam caminhando numa estrada estranha àquela do Mestre. Estavam na contramão. O ensinamento de Jesus sobre o desejo de querer o poder do mundo, na conclusão do Evangelho, transforma uma criança — rejeitada e pouco valorizada naquela sociedade — em símbolo e em proposta concreta de convivência cristã na sociedade.
“Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Mc 9,35).
E completou seu ensinamento com um gesto simbólico. Tomou uma criança, colocou-a no meio da roda, e disse: "Quem receber a um destes pequeninos em meu nome, é a mim que recebe; e quem recebe a mim, não é a mim que recebe, mas àquele que me enviou" (Mc 9, 36 e 37).
A mensagem do Evangelho é esta: Não procurar os primeiros lugares, não alimentar a ambição do prestígio, do dinheiro, da fama, do poder. Pôr-se a serviço de todos, sobretudo dos mais pequeninos é bem diferente dessa sociedade em que vivemos! Raro é encontrar alguém que, ao escolher uma profissão, esteja pensando em servir à comunidade. A lei que impera é a ambição do dinheiro, dos cargos honrosos, do prestígio e do fazer carreira. Dificilmente se encontrará um político que, ao disputar eleições, tenha em mira o bem público, o serviço do país. O que se encontra é quase sempre o jogo das ambições em benefício pessoal. Assim nascem com frequência as eleições envenenadas pelo peso do dinheiro. Tudo isso está infinitamente longe do Evangelho!
É preciso olhar o exemplo de nosso divino Mestre, que fundou a Igreja com sua palavra e com seu sangue. Ele, que era Deus verdadeiro, não se apegou ciosamente ao poder. Jesus,, ao perceber as intenções dos discípulos, desmascara-os dizendo: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Mc 9,35).
Mesmo fora do cristianismo, os sábios descobrem o valor do serviço. Como disse o poeta hindu Tagore: "Dormi e sonhei que a vida era alegria. Acordei e vi que a vida era serviço. Servi e descobri que o serviço era alegria".
Na comunidade cristã, a única grandeza é a grandeza de quem, com humildade e simplicidade, faz da própria vida um serviço aos irmãos.
Na comunidade cristã não há donos, nem grupos privilegiados, nem pessoas mais importantes do que as outras, nem distinções baseadas no dinheiro, na beleza, na cultura, na posição social... Na comunidade cristã há irmãos iguais, a quem a comunidade confia serviços diversos em vista do bem de todos.
Aquilo que nos deve mover sempre e em tudo é a vontade de servir e de partilhar com os irmãos os dons que Deus nos concedeu. Ser o menor é aprender de Jesus a viver a humildade e o serviço aos irmãos principalmente àqueles que mais precisam.
Frei Gunther Max Walzer