Homilia - 26/09/2021 - XXVI Domingo do Tempo Comum
Neste domingo celebramos o “Dia Nacional da Bíblia”. É a 50ª edição do Mês da Bíblia. A data é inspirada na proximidade da festa de São Jerônimo, que a Liturgia celebra no próximo 30 de setembro. São Jerônimo é considerado um dos maiores estudiosos e conhecedores da Bíblia, por isso, a Igreja o propõe como exemplo a cada um de nós, na busca e no encontro com Deus através do conhecimento da Bíblia. O lema escolhido escolhido é da Carta de São Paulo aos Gálatas: “Todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d). Na proposta deste lema, de ter os mesmos sentimentos de Cristo, encontra-se também um modo de ler e conhecer a Bíblia com os mesmos sentimentos de Cristo. O conhecimento da Bíblia, portanto, pode ser racional — feito através dos estudos — e pode ser vivencial, conhecendo os sentimentos de Cristo.
Conhecer Deus é relacionar-se com Deus, para isso, é necessário conhecer o que Ele nos fala, ou seja, estudar o que ele nos deixou de mais importante, que é a Bíblia. A Bíblia está repleta de ensinamentos e princípios que podem e devem guiar a vida daqueles que amam a Deus. Estudar e aprender todos estes princípios pode parecer uma tarefa muito difícil, mas não é!
É lamentável que, na sociedade atual, grande peso não tem mais a Palavra de Deus mas pessoas que detêm o “poder” politico, econômico e financeiro. Muitas vezes, desfazemo-nos de pessoas porque não possuem nenhuma influência, nenhum “apadrinhamento”. A roda da sociedade gira em torno do poder e da ambição, sem que nos importemos com aqueles que são massacrados por essa engrenagem. “Sabe com quem está falando?” – pergunta conhecida por muitos de nós.
No Evangelho, encontramos os discípulos se qeixando dos seus direitos exclusivos, faziam milagres! Onde se viu?
A atitude dos discípulos mostra arrogância, sectarismo, intransigência, intolerância, ciúmes, mesquinhez, pretensão de monopolizar Jesus e a sua proposta, presunção de serem os donos exclusivos do bem e da verdade…
Jesus tem uma atitude diferente: já que estes estão fazendo o bem e usam com boa intenção o seu nome, não vê problema, considera estas pessoas como aliados.
Jesus procura levar os discípulos a ultrapassar uma visão sectária e egoísta da missão. Na perspectiva de Jesus, quem luta pela justiça e faz obras de caridade e em favor do homem, está do lado de Jesus e vive na dinâmica do Reino, mesmo que não esteja formalmente dentro da estrutura eclesial.
A comunidade de Jesus não pode ser uma comunidade fechada, exclusivista, monopolizadora, que sente ciúmes quando alguém de fora faz o bem; nem pode sentir-se atingida nos seus privilégios e direitos pelo fato de o Espírito de Deus atuar fora das fronteiras da Igreja… A comunidade de Jesus deve ser uma comunidade que põe, acima dos seus interesses, a preocupação com o bem do homem; e deve ser uma comunidade que sabe acolher, apoiar e estimular todos aqueles que atuam em favor da libertação dos irmãos.
Na segunda parte do Evangelho, as palavras de Jesus são duras. Ele fala como costumam falar os judeus: com imagens fortes, para acentuar a gravidade da mensagem então diz que é melhor cortar fora o olho, a mão, o pé, se essas coisas estiverem atrapalhando a fidelidade a Deus e a construção do Reino. Diz que é melhor entrar no Reino de Deus com um olho só do que ir para o inferno com dois.
Evidentemente, não é para ser interpretado ao pé da letra: não tem muito cabimento alguém ficar mutilado no céu, que é a felicidade completa. Também não vamos recomendar que as pessoas saiam por aí cortando pés e mãos, porque todos nós, de um jeito ou de outro, já usamos partes do nosso corpo em variados tipos de pecado, basta lembrar a língua de muita gente. Mas permanece a gravidade do aviso: nada, nada mesmo, pode ser mais valioso do que a fidelidade a Deus e a construção do Reino da justiça e da paz entre nós.. Nisso se decide a qualidade da pessoa que construímos em nós mesmos. Em que coisa melhor poderíamos investir nossos esforços?
Qual é a mensagem do texto do Evangelho de hoje? Ter os sentimentos de Cristo.
Os dois exemplos — aquele do sentimento ciumento e este da exploração dos pobres — ajudam entender como cada um de nós tem, na Bíblia, um modo de ver o mundo, um jeito de viver na sociedade, de relacionar-se com as pessoas, tendo os mesmos sentimentos de Cristo. Temos uma oportunidade para verificar com que sentimentos vivemos, com quais sentimentos nos relacionamos com os outros, como são nossos sentimentos com quem é diferente de nós, com quem não pertence ao nosso grupo, ao nosso movimento, à nossa Igreja.
Frei Gunther Max Walzer