Homilia - 03/10/2021 - XXVII Domingo do Tempo Comum
As leituras deste domingo suscitam uma reflexão séria sobre o casamento e o divórcio que é uma triste realidade da nossa sociedade atual. Alguns até falam da extinção do casamento e de um colapso da união conjugal. Parece ser simples jogar a toalha, principalmente hoje em dia, quando não se dá o devido valor às tradições. A separação do casal tornou-se uma realidade comum, que a maioria das pessoas heterossexuais e homossexuais já se casam em regime de separação de bens, e os jovens já entenderam que o casamento atrapalha a união afetiva e sexual, e resolvem apenas ficarem juntos uns com os outros, até que um motivo qualquer, uma traição e uma grave briga cause a separação. A convivência torna-se intolerável. Então, o melhor é separar-se «de forma civilizada».
Importante é considerar que a nossa vida é condicionada por leis que os homens fizeram, às quais nós nos devemos submeter para viver na legalidade. Porém, devemos ter consciência do fato de que, nem tudo o que é legal, é justo, no sentido pleno da palavra. É legal na sociedade o divórcio que, perante os olhos de Deus, não conduz o homem à justiça, pois desrespeita compromissos e direitos de cônjuges, filhos, da comunidade eclesial e da própria sociedade.
O divórcio, prática comum na época de Jesus, foi fortemente condenado por Jesus no texto do Evangelho. Os fariseus mais uma vez procuraram um motivo para enquadrar criminalmente Jesus em algum artigo da Lei machista que associava o casamento à posse de bens materiais e dava ao homem o direito de repudiar sua mulher, relegando esta a uma posição de submissão. Jesus, porém, mostra o outro lado da moeda, ou seja, ele recorre ao Projeto criador de Deus, para responder a interrogação maliciosa dos seus oponentes.
Segundo à vontade divina, o casamento consiste numa união tão profunda entre homem e mulher, a ponto de atingir o auge da comunhão. Aí, as diferenças são superadas por uma unidade indissolúvel, representada pela expressão: "serão os dois uma só carne". Na raiz desta união está o Pai. Ele é quem une. E o que for unido por ele não poderá dissolver-se.
Em última análise, Jesus estava afirmando que, quando se dá o divórcio, é porque, de fato, não houve matrimônio. Um homem que se sente à vontade para mandar embora sua mulher é porque não chegou a formar com ela uma só carne. Quando, porém, Deus une homem e mulher nada e ninguém tem o direito de desuni-los.
Como entender a objeção dos fariseus: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la”?
Jesus explica que as concessões a favor do divórcio aconteceram no tempo da "dureza de coração"; agora é necessário restituir a vontade originária de Deus, que criou o homem e a mulher não como propriedade um do outro, mas como companheiros de vida que se completam um ao outro no amor e pelo amor.
Não podemos esquecer que o divórcio existe por causa da dureza do coração humano. Todo ensino da Bíblia fala de reconciliação, arrependimento e perdão. O referencial é o coração de Deus, não o coração duro do homem.
Importante é não renunciar ao diálogo. Mas o diálogo não basta. Certas crises não se resolvem sem generosidade e espírito de nobreza. Se cada um se encerra numa postura de egoísmo mesquinho, o conflito se agrava, os ânimos se inflamam e o que um dia foi amor pode converter-se em ódio secreto e mútua agressividade.
Antes de falarmos de divórcio temos que falar sobre a reconciliação. O divórcio se dá, muitas vezes, por questões banais: o amor acabou, achou alguém mais atraente, não sinto mais nada, não há comunicação. O divórcio não é a resposta ideal, abre ferida. As consequências são terríveis para todos, principalmente, para os filhos.
Será que casais, hoje, não estariam numa situação da "dureza de coração”? Muitas vezes, a solução é o perdão não o divórcio! Só Deus sabe!
No entanto, não nos cabe julgar nem classificar alguém de “pecador”, porque pecadores somos todos nós. O que nos cabe é trabalhar pelo melhor. O melhor é o que Deus planejou “no princípio”.
O final do texto do Evangelho traz Jesus falando da importância do “jeito de criança”, que é preciso ser cultivado por todos que querem fazer parte do Reino de Deus. Normalmente, as pessoas identificam a figura da criança com a pureza, inocência, simplicidade e desprendimento. Com certeza, são características importantes para que alguém possa acolher na vida o que nos ensina o divino Mestre Jesus. Mas, há, também, uma característica da criança que é a sua situação de dependência em relação a quem lhe dá o sustento e formação. Os pais não transmitem apenas a vida biológica mas também a vida espiritual. Precisamos nós, também, nos fazer e querer ser dependentes de Deus. Reconhecer nossa limitação e a necessidade da graça divina para que possamos ser dignos de nos chamar filhos e filhas de Deus.
Somos convidados hoje, para que entremos “com Jesus, na contramão” e criemos uma sociedade baseada em outros valores dos de hoje em vigor, às vezes até no seio das próprias Igrejas.
Senhor Jesus, que os casais cristãos compreendam a profundidade de sua união, obra do próprio Deus.
Frei Gunther Max Walzer