Homilia - 31/10/2021 - XXXI Domingo do Tempo Comum
Amanha iniciamos o mês de novembro. Este mês sempre tem um ar de tristeza porque nos faz lembrar dos entes queridos, familiares e amigo que deixaram o nosso convívio para sempre.
Na próxima terça-feira é o Dia dos Finados. A palavra “MORTE” será a palavra mais lembrada. Todos nós temos um certo medo da morte. Por que será? É porque gostamos muito desta vida aqui nesta terra, ou é porque nos preocupamos com a nossa salvação, e não temos certeza que vamos para o céu. Há gente que se preocupa com faltas cometidas no passado, daí tem medo de ir para o inferno.
O texto do Evangelho nos fala sobre o Reino Deus e como chegar lá. Jesus viu que o mestre da Lei tinha respondido com sabedoria os mandamentos e disse: — Você não está longe do Reino de Deus.
O mestre da Lei entendeu algo que muitos de nós não entenderam ainda.
O primeiro e o segundo mandamento são como o pé esquerdo e o pé direito: um preciso do outro para andar. Não conseguimos ir para frente sem que os dois funcionem juntos.
Assim é a vida humana. Para que tenhamos uma vida feliz precisamos observar as duas leis que se completam mutuamente. É por isso que Jesus diz que dessas duas leis dependem a Lei e os profetas. Realmente, não pode haver verdadeiro amor ao próximo que não seja motivados pelo amor a Deus. Tampouco pode haver amor a Deus sem a caridade ao irmão.
Ser cristão é apenas rezar ou participar da missa? Só dar esmolas é viver o Evangelho?
Jesus não nos pede ter um amor sentimental para com todas as pessoas, mas o nosso comportamento deve ser amoroso. Este amor exige respeito, a ausência do sentimento de rancor ou vingança, o esforço para aliviar o sofrimento alheio.
Já estamos preparando o Dia dos Finados enfeitando os túmulos dos nossos entes queridos.
O Dia dos Finados é sempre um dia de tristeza, saudade e lágrimas! Neste dia, nos defrontamos com a dor, a separação, a saudade de nossos entes-queridos. Diante deste mistério tão profundo da morte, o Dia de Finados pode ser apenas um dia de choro, de saudade e tristeza, mas para nós cristãos que acreditamos na vida eterna é um dia de esperança e vida, porque estamos confirmando que nosso destino final se dará mediante a crença em Cristo Jesus. Nele e por Ele participamos da vitória da vida sobre a morte: a ressurreição.
A Palavra de Deus leva-nos a pensar na vida, particularmente na vida depois da morte, na vida que Jesus Cristo nos prometeu.
Muitos consideram a morte como um ponto final: “tudo acabou”. Nós cristãos temos outra resposta: “A vida não é tirada, mas transformada” (Prefácio).
Nós nunca celebramos a morte, mas sempre celebramos a certeza de viver eternamente em Deus.
O cristão, como todo ser humano, pode sentir medo da morte, tristeza na despedida de um ente querido, mas jamais entende a morte como fim de tudo, porque cremos e porque nossa esperança é confiante que a vida nunca terminará, pois a morte não é o fim de tudo, mas a conclusão de uma etapa da vida; da vida vivida aqui na terra. Com a morte, começamos a viver outra etapa da vida. Ou melhor dizendo, com a morte, cada um de nós continua vivendo a mesma intimidade que tem com Deus aqui na terra. Se vivemos em Deus, depois da morte continuaremos vivendo em Deus.
Nunca será demais recordar isto: Deus tem um projeto de vida, que quer oferecer a todos os homens, sem exceção. Qual, então, será a vontade de Deus para nós?
Jesus não quer perder nenhum daqueles que o Pai Lhe entregou, e nós fazemos parte deste povo que ressuscitará no último dia.
São Francisco chama a morte de irmã, uma irmã que nos introduz no Reino da Vida Eterna.
A espiritualidade Francisca nos mostra que a morte é o verdadeiro Natal da pessoa, o momento em que acaba de nascer definitivamente. Como não estamos ainda prontos, embora inteiros, cada dia vamos nascendo, progressivamente, até acabar de nascer. Isso se dá na morte. Esta não é o fim da vida. A morte é seu berço. Quem pode ficar triste com o nascimento da vida? É Natal e Páscoa ao mesmo tempo, é a vida mortal que a partir da morte se eterniza.
A vida não foi criada para terminar na morte, mas para se transformar através da morte. Então podemos dizer: não vivemos para morrer. Morremos para viver mais.
Apesar de tudo, inclusive da nossa fé na ressurreição dos mortos, paira no ar certa tristeza: isso é normal, verdadeiro e humanamente compreensível. Sabemos que todos nós estamos neste mundo de passagem. E o que vai valer diante de Deus não serão os anos que tivermos vivido, mas as boas obras que tivermos praticado.
Rezamos pelos falecidos, porque continuamos sendo todos membros da mesma família de filhos e filhas de Deus. E esse é mais um presente bonito que nosso Pai nos dá: Ele guarda todos os que amamos. Um bom modo de celebrar esse amor que nos une aos que já estão em Deus é fazer todo o bem que pudermos.
Vivamos a espiritualidade franciscana olhando a vida como graça e a morte como irmã. Se a vida comporta encontros e desencontros, a morte propiciará o grande encontro com o Deus de todas as graças. Se abraçarmos a vida com espírito franciscano, seremos abraçados na morte pelo Deus de todos os abraços. Por isso podemos rezar e cantar com São Francisco: “Louvado sejas, meu Senhor, pela Irmã Morte da qual homem algum pode fugir”. Dela não fugiremos porque será nossa oração derradeira e nosso encontro com o Pai.
Frei Gunther Max Walzer