Homilia - 19/12/2021 - IV Domingo do Advento
Já acendemos a quarta vela da nossa coroa de advento. Estamos na antevéspera da grande Festa de Natal. Algumas compras ainda deverão ser feitas e a correria e agitação continuarão por alguns dias. Muitas pessoas já se encontram num certo clima de esgotamento, afinal, queremos fazer de tudo para que o Natal fique bonito e na Noite de Natal tudo esteja pronto. Tudo ao nosso redor fala e Natal e, no meio de tanto barulho, corremos o risco de perder o sentido profundo do próprio Natal.
Achei interessante uma observação feita pelo arcebispo de Washington, cardeal Wuerl, que anos atrá, numa entrevista, dizia que, de um momento para o outro, o secularismo veio como um tsunami e varreu todos os valores cristãos cultivados no Ocidente. Dizia que varreu os valores da família, do matrimônio, do relacionamento fraterno, os valores da própria vida... Não é isso o que está acontecendo com o Natal? O secularismo destruiu em muita gente a fé no Natal e esvaziou o sentido cristão do Natal. De modo bem visível, aconteceu isso substituindo o Menino Jesus por Papai Noel.
Um sociólogo disse numa palestra: “O Natal é uma festa comercial capitalista que dura, mais ou menos, 45 dias, onde se permitem as gastanças e as comilanças para celebrar o 13º e a amizade.”
Natal é uma festa para testemunharmos a fé e para participar da fé de um povo que esperou durante século a realização da promessa divina.
Qual era essa promessa?
O povo esperava o Messias e com ele teria início o reino de paz como foi anunciado pelos profetas.
Neste quarto Domingo do Advento somos lembrados na liturgia da grandiosa obra que Deus realizou por meio de uma jovem que se chamava Maria. Maria, uma criatura simples, do povo, torna-se a mãe do Salvador, Jesus Cristo. É nela e por meio dela que acontece o primeiro Natal.
Maria dá o verdadeiro exemplo de como esperar o Cristo, ela acreditou nas palavras do Anjo e na promessa divina. E porque acreditou, foi escolhida como mãe do Salvador.
O texto do Evangelho de hoje, nos conta o encontro de duas mães, Maria visita sua prima.
Toda visita tem duas pessoas: aquele que visita e aquele que acolhe o visitante; a pessoa visitada. Por isso, nosso primeiro olhar se volta para Isabel, aquela que foi visitada por Maria. É uma mulher que nos ensina como acolher os visitantes: com alegria, com festa e com a partilha da própria vida, daquela vida que está dentro dela e se alegra pela visita de Maria.
Aqui temos um exemplo de como nos podemos preparar para celebrar o Natal: acolhendo com alegria aquelas pessoas que nos trazem Jesus, aquelas pessoas que nos visitam, não somente neste tempo de Natal, mas no decorrer de todo o ano. Sim, o Natal não tem somente uma preparação próxima, destes dias que o antecedem, mas, em certo sentido, a preparação para o Natal acontece cada vez que nos dispomos a acolher a visita divina. Naquele copo de água que damos a alguém com sede, e que Jesus garante que é dado a ele, encontra-se uma preparação para o Natal. Longe de nós, a “caridade show”, mostrada na TV, tão comum nestes dias natalinos. Queremos, ao contrário, estar preparados para o Natal, acolhendo aqueles que nos trazem Jesus.
Cada detalhe deste encontro tem sua importância. Isabel disse à Maria: “Você é feliz e abençoada,
pois acredita que vai acontecer o que o Senhor lhe disse”. A felicidade de Maria é consequência da fé. Feliz é aquela que acreditou.
Maria é uma pessoa feliz porque depositou sua confiança em Deus, tinha a certeza de que a palavra de Deus ia se cumprir. Assim é na nossa vida. Tudo, mas tudo mesmo depende da força da nossa fé.
Maria é feliz, não porque viu acontecer, mas porque confiou na palavra de Deus.
Assim felizes são aqueles que acreditam numa civilização do amor e cooperam para que o amor acabe com a corrente do ódio.
Sem dúvida, não é fácil acreditar, especialmente quando as coisas fogem do nosso “bom senso”. É preciso ter muita coragem para acreditar que vão se realizar as promessas feitas por Deus aos construtores da paz, aos que não praticam a violência, aos que não se vingam, aos que sabem perdoar, aos que doam a própria vida por amor.
Feliz foi Maria por ter sido uma pessoa de fé. Acreditou em tudo aquilo que estava acontecendo e que era obra de Deus. Felizes seremos todos, se tivermos fé a exemplo de Maria.
A proximidade do Natal nos faz pensar em nossas atitudes e nossos gestos. Há tantos irmãos que acreditam em nós e esperam algo de nós. Lembrem-se que o melhor presente não é um cartão, mas pode ser uma palavra, um gesto amigo, um ato de caridade.
O presente mais bonito somos nós mesmos, cada um de nós é um presente divino, quando somos testemunhas da nossa fé e “instrumentos de paz”.
Frei Gunther Max Walzer