Homilia - 06/03/2022 - I Domingo da Quaresma
Iniciamos, na quarta-feira passada, o Tempo da Quaresma. A palavra Quaresma quer dizer quarenta dias. É um tempo de quarenta dias de reflexão e de penitência a que somos convidados para que sejamos dignos de comemorar a nossa salvação que nos veio pela morte de Jesus Cristo na cruz e, para que sejamos dignos de participar da Ressurreição de Cristo e da nossa própria ressurreição.
A Quaresma é um tempo onde buscamos o silêncio para nos encontrar com Deus e nos encontrar conosco mesmos analisando o nosso modo de viver e, assim, possamos ser discípulos e discípulas fieis do Senhor.
Não deve ser um tempo de tristeza, um tempo de andarmos com a cara amarrada como se fôssemos criminosos condenados a quem se nega o perdão.
O tema central do Evangelho de hoje é a tentação. Tentações não faltam em nossa vida, e são bem sedutoras. O Senhor Jesus nos ensinou a rezar: “E não nos deixe cair na tentação!”. Caímos em tentações porque elas aparecem como algo bom, atraente. É assim, por exemplo, com a droga. Se ela não provocasse, pelo menos, no início, uma sensação de prazer, ou talvez de alívio, ninguém se tornaria dependente.
O episódio das tentações de Jesus narrado no Evangelho abre muito bem a nossa reflexão da Quaresma quando analisamos a nossa vida. Jesus vai ter que vencer as tentações, para que não se desvie da tarefa que o Pai lhe deu.
Jesus conheceu a tentação da fome, mas recordou o ensinamento da Torá: “Não se vive só de pão” (Dt,8,3). Ninguém negará que dar pão aos famintos faz parte do projeto do Reino. No entanto, é bom lembrar que Jesus se queixou do “sucesso” obtido com a multiplicação dos pães, quando viu que, em vez de entender o significado do milagre como apelo à partilha, a multidão queria continuar recebendo comida de graça, sem esforço próprio.
Jesus conheceu a tentação de adorar um falso deus, que promete riqueza e prosperidade; mas respondeu com o mandamento de Deus: “Só a Deus adorarás” (Dt 6,13). O apóstolo Paulo, que entendeu bem como era o poder de Jesus, soube dizer: “Quando sou fraco, aí é que sou forte”. Trata-se de outro jeito de poder, um poder que se mostra pela fidelidade total ao projeto de Deus.
O maior exemplo disso vimos na pessoa de nosso Papa Emérito Bento XVI que entendeu que o papado é um serviço prestado ao Reino de Deus e não pode ser confundido com o poder deste mundo. E disse que depois de ter rezado viu que era necessário ter mais força, mais saúde, mais atenção ao momento da Igreja. Era necessário, com a mesma humildade com que aceitou ser Papa, renunciar a este oficio ministerial.
Jesus conheceu a tentação mais refinada que se pode imaginar, a de manipular o poder de Deus fazendo milagres sensacionais. Jesus fez milagres, muitos até! Mas o milagre não era o mais importante; o fundamental era o significado desses atos dentro do projeto de Deus. O maior milagre de todos foi a própria vida entregue por amor.
Terminado o confronto, feitas as devidas opções, o diabo afastou-se de Jesus. Um inimigo é derrotado.
O que diz a Palavra para nós?
Temos que admitir que vivemos num mundo de muitos e grandes conflitos. Lutamos constantemente contra forças “diabólicas” que desejam nos impedir de dar testemunho do Evangelho de Jesus Cristo, na construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
A Campanha da Fraternidade nos ajuda a viver de maneira proveitosa a Quaresma. Neste ano os nossos olhos estão voltados para a educação. Na Quarta-Feira de Cinzas começou a Campanha da Fraternidade 2022 com o foco num dos pilares mais importantes da sociedade, segundo lema bíblico, extraído de Provérbios 31,26, “Fala com sabedoria, ensina com amor”.
O tema “Fraternidade e Educação” e o lema são um chamado a todos os católicos e às pessoas de boa vontade a colocarem no centro de suas reflexões e ações a questão educacional brasileira. O tema e o lema são significativos para as famílias e todos os educadores. Fazer tudo por amor, nada por força ou imposição! É através de atos de amor e bondade que conseguimos construir uma sociedade mais justa e fraterna.
Rezemos para que Deus nos acompanhe com sua graça e com seu amor.
Frei Gunther Max Walzer