Homilia - 20/03/2022 - III Domingo da Quaresma
O Evangelho de hoje fala sobre um tema bastante atual: as catástrofes, as guerras, as chacinas e os acidentes. E daí surge a pergunta: Será que Deus castiga?
No tempo bíblico, acreditava-se que a desgraça que acontecia na vida de alguém, a doença e os acidentes eram castigos de Deus pelos pecados cometidos pelas pessoas.
Ainda hoje, será que não se reage da mesma maneira quando acontecem tragédias ou catástrofes no nosso mundo? Lembrem-se da epidemia da Aids nos anos 1980? A pandemia que está ceifando milhares de vidas no mundo inteiro. E os danos causados por mísseis e bombas, causados por quem? A guerra na Ucrânia que está provocando mortes de pessoas inocentes e esta deixando milhões sem lar e moradia? A própria pobreza e miséria em que vivem milhares de pessoas? As doenças sem cura e outras calamidades?
Algumas pessoas questionaram Jesus indo a Jerusalém, quando contaram dois acontecimentos trágicos, ocorridos exatamente lá, em Jerusalém. O primeiro deles: um massacre de galileus, por ordem do governador Pilatos, quando ofereciam sacrifícios no templo. O outro fato: um acidente matando 18 pessoas, quando a torre do bairro de Siloé desabou sobre elas.
Como sempre acontece, a gente procura logo culpados – porque aquilo tinha acontecido com eles? Assim, as pessoas, que informaram Jesus sobre as duas tragédias acontecidas em Jerusalém, no fundo, se perguntavam: que pecado fizeram para merecerem tal castigo?
Jesus responde: “Pensam vocês que esses galileus, por terem sofrido tal coisa, eram mais pecadores do que todos os outros galileus?" (Lc 13,2). A resposta é: Não! (Lc 13,3). E, em relação à queda da torre de Siloé, ele diz: “E aqueles dezoito que morreram quando a torre de Siloé caiu em cima deles? Pensam vocês que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém?” (Lc 13,4). A resposta é ainda: Não! (Lc 13,5). Deus não castiga...
E Jesus, no fundo, responde: “Gente, a questão não é saber que pecado cometeram; a questão é que vocês mesmos se consideram santinhos e bons: pois eu lhes digo: Se vocês não se converterem, perecerão do mesmo modo”.
Por que se converter? Por que Jesus fala assim?
É que Jesus estava se dirigindo a Jerusalém e estava percebendo nitidamente que muitos, julgando-se melhores, iriam rejeitar Jesus e sua mensagem. Consequência: Vão acabar perecendo do mesmo jeito, isto é, não vão participar da vida nova que Jesus estava trazendo. Se não se converterem...
O que diz o Evangelho para nós?
A finalidade da Quaresma não é fazer nossas penitências porque é Quaresma, mas que elas nos tornem mais livres para servir a Deus e ao seu projeto de amor.
Corremos sempre o risco de nos sentirmos melhores que os outros, não necessitando de conversão, de mudança de vida. São Paulo nos alerta: “Quem julgar estar de pé tome cuidado para não cair (1Cor 10,12).
Logo em seguida, Jesus conta a parábola da figueira. Costumamos comparar Deus com o proprietário exigente, que manda cortar o que não produz. Mas, na verdade, a parábola mostra a paciência e a misericórdia de Deus. Na parábola, se dá um novo prazo, uma nova chance para a figueira. Não é um prazo longo e indefinido. Não temos tempo a perder!
O Concílio Vaticano II chama a Igreja “sinal e instrumento de salvação”. Nós somos o povo salvo por Cristo, somos agora instrumento de salvação para a humanidade.
Neste tempo de Quaresma, é necessário um sério exame de consciência. Correspondemos à nossa vocação de Igreja? Quais são os frutos que produzimos. Somos uma figueira estéril? Em que precisamos nos converter? Qual a nossa atuação nesta Campanha da Fraternidade?
O tema é: “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26)..
“Mas se vós não vos converterdes...”, adverte Jesus.
Ao longo da caminhada quaresmal, em que a conversão é meta primeira, recebemos o convite para busca os motivos de nossas escolhas em todas as ações e, por certo, naquelas que dizem respeito mais diretamente ao mundo da educação.
Já decidimos que gestos concretos precisamos fazer?
Na Oração da Campanha da Fraternidade, assim rezamos: “Pai Santo, neste tempo favorável de conversão e compromisso, dai-nos a graça de sermos educados pela Palavra que liberta e salva”.
Na Carta da CNBB lemos:
“Educar é um ato eminentemente humano. Somos renovados quando aprendemos mais a respeito da vida e seu sentido, quando nos ensinam novos conhecimentos e quando, percebemos que em nós existe a profunda sede de aprender e ensinar.
Educar é também uma ação divina. A Bíblia nos mostra a história de um Deus que educa seu povo, caminhando com ele, compreendendo suas fragilidades, respeitando suas etapas e alertando diante dos erros”.
E o Papa Francisco nos pergunta: “O que acontece quando não há a fraternidade cultivada, quando não há uma vontade política de fraternidade, traduzida em uma educação para a fraternidade, o diálogo, a descoberta da reciprocidade e o enriquecimento mútuo como valores?”
“Se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”.
Frei Gunther Max Walzer