Homilia - 29/05/2022 - Solenidade Ascensão do Senhor
Hoje celebramos a solenidade da Ascensão do Senhor. Os dias desta semana são dias de preparação de Pentecostes, a festa da vinda do Espírito Santo.
O Evangelho de hoje nos fala de um momento extremamente importante na vida dos discípulos. Jesus apareceu no meio deles, quando estavam reunidos, e disse: “O que está escrito é que o Messias tinha de sofrer e no terceiro dia ressuscitar.
E que, em nome dele, a mensagem sobre o arrependimento e o perdão dos pecados seria anunciada a todas as nações, começando em Jerusalém. Vocês são testemunhas dessas coisas.” (Lc 24,46-47).
Os discípulos recebem uma missão, que transformará radicalmente sua vida, os levará longe, os fará encontrar hostilidade e perseguições. Esta mudança radical na vida, este novo desafio, exige uma boa preparação. É dela que nos falam tanto o Evangelho quanto os Atos dos Apóstolos.
Lucas nos conta que, “depois da sua paixão”, Jesus “se mostrou vivo” aos apóstolos “com numerosas provas”. E que, “durante quarenta dias, apareceu-lhes falando do Reino de Deus”. Jesus ordenou para não se afastarem de Jerusalém enquanto não fosse cumprido o que o Pai prometeu, isto é, que seriam batizados com o Espírito Santo, dentro de poucos dias.
Curiosa foi uma pergunta que fizeram a Jesus. Parece que ainda estavam imaginando o Reino de Deus em esquemas meramente políticos quando perguntaram: ”Senhor, é agora que vais restaurar o Reino de Israel?”. E Jesus como que diz: Calma! Deus vai dar um jeito. O poder do Espírito Santo, que vai descer sobre vocês, ele vai mostrar direitinho para vocês como vão ser as coisas daqui para frente... E vocês vão sair daqui pelo mundo a fora, “até os confins da terra” testemunhando a meu respeito.
Em seguida “Jesus foi elevado ao céu e uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não podiam mais vê-lo”. Neste momento, com certeza, o grupo dos discípulos ficou perplexo, assustado, sem palavras. “Os apóstolos continuavam olhando para o céu” cheios de tristeza, saudade e, por que não dizer, cheios de insegurança e de medo.
Neste momento, dois mensageiros de Deus chamam atenção dos discípulos: «Homens da Galiléia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu». Queriam dizer: “Agora não é mais hora de olhar para o céu, mas é preciso iniciar a missão, sem saudosismo e sem fugas”.
Jesus Ressuscitado não se vai; ele continua presente na sua comunidade. Ele se faz presente através de sua palavra e do anúncio da Boa Nova.
Quem poderá anunciar esta Boa Nova? Segundo o relato de Lucas, Jesus não pensa em sacerdotes nem bispos. Tampouco em doutores ou teólogos. Quer deixar na terra “testemunhas”. “Vós sois testemunhas destas coisas”.
Mas Jesus conhece bem os seus discípulos. São fracos e até covardes. Onde encontrarão a coragem para serem testemunhas de alguém que foi crucificado pelo representante do Império e os dirigentes do Templo? Jesus tranquiliza-os: “Eu vos enviarei o que o meu Pai prometeu”. Não lhes vai faltar a “força do alto”. O Espírito de Deus os defenderá.
Quem são os discípulos e discípulas de Jesus hoje? Somos nós! Assim como os discípulos receberam uma missão, também nós recebemos.
Qual é esta missão?
A missão entregue aos discípulos, e agora a nós, é anunciar a morte e ressurreição de Jesus, a chegada do Reino de Deus, através da fraternidade, da paz e da justiça. Este anúncio não se limita à vida interna da Igreja ou de uma comunidade. Nossa missão vai além. A Igreja existe para a salvação do mundo. Aí está seu campo de atuação. Portanto, a missão de cada um de nós é “ser Cristo no mundo”.
Não pensemos que aqueles que trabalham dentro da comunidade são os melhores cristãos. Nas comunidades procuramos viver os valores do Evangelho, a presença de Cristo no meio de nós. Mas a partilha e a fraternidade que procuramos viver na comunidade, devem ser levadas para o mundo. Jesus está presente no mundo quando o testemunhamos, quando somos fiéis aos seus ensinamentos e praticamos a justiça, o amor e o perdão.
O Santo Papa João Paulo II disse: “Não pode haver na existência duas vidas paralelas: por um lado, a vida chamada “espiritual”, com seus valores e exigências; e, por outro, a chamada vida “secular”, ou seja, a vida da família, do trabalho, das relações sociais, do empenho político e da cultura” (Christifideles Laici 59).
A missão de Jesus foi entregue a todos os cristãos. Não só aos católicos. Mas como anunciar quando há divisão entre os cristãos? Como fazer?
Hoje, está se iniciando a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Todos os cristãos, católicos ou não, estão se preparando para a festa de Pentecostes. O Espírito Santo quer unir os seguidores de Cristo. Rezemos para que todos os cristãos juntos assumam sua missão e proclamem ao mundo quem é Cristo e seu Reino.
Frei Gunther Max Walzer