Homilia - 03/07/2022 - Solenidade São Pedro e São Paulo
Hoje celebramos a solenidade de São Pedro e São Paulo.
Novamente, o Evangelho nos propõe a pergunta fundamental para a nossa vida cristã: quem é Jesus para nós?
Jesus dirige-se aos seus discípulos com certa “diplomacia”, partindo dos outros – “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?”. Os discípulos respondem com facilidade, citando os profetas. É fácil dizer aquilo que os “outros” dizem, repetir as opiniões e convicções dos outros. Por isso, Jesus vai mais fundo e pergunta: “E vós, quem dizeis que eu sou?”.
Agora, sim, a resposta exige a manifestação de uma convicção pessoal, não podem repetir simplesmente a opinião dos “outros”.
Pedro responde: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. A partir desta resposta, Pedro compromete sua vida toda daqui para frente. Pedro reconhece a identidade de Jesus, e Jesus revela a Pedro que Pedro é: o “bem-aventurado”, “tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Veremos São Pedro mais tarde em diversas situações bem “comprometedoras”. Por exemplo quando não aceitou que Jesus falasse da sua paixão, quando não queria que Jesus lavasse os seus pés, quando negou Jesus...
Pedro não é melhor que ninguém, talvez um dos mais “fracos” dos discípulos, pois, além de abandonar Jesus no pior momento, também o renegou. Mas Pedro entregou-se, totalmente, ao seguimento de Jesus. A Jesus ele dirá com toda a intensidade: “Tu sabes o quanto te amo!”.
Assim Jesus estabelece Pedro como ponto de comunhão entre os discípulos. Ele será o responsável por manter aqueles homens tão diferentes entre si, unidos no seguimento do Mestre.
O outro Santo que celebramos hoje é Paulo de Tarso.
Quem era Paulo? Judeu, fariseu observante e zeloso, versado nas Sagradas Escrituras, ferrenho defensor da doutrina. Quando era ainda judeu perseguia os cristãos por acreditar que eram contra o Deus verdadeiro. Numa viagem em que perseguia os cristãos, cai do cavalo. Ele ouve a voz: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” – “Quem és tu, Senhor?” perguntou ele. “Eu sou Jesus, é a mim que tu persegues”. De perseguidor dos cristãos, tornou-se o grande evangelizador – “ai de mim se eu não evangelizar!”.
Paulo é o grande responsável pela “abertura” do Cristianismo a todos os povos. Ele é a peça chave para a difusão da “nova religião” que estava nascendo. Sem Paulo o Cristianismo não seria o mesmo que é hoje.
Paulo não procurou explicações para sua queda do cavalo. Ele entendeu! Entendeu quem é Jesus. Entendeu que perseguir a Igreja é perseguir Jesus. Ele obedece às orientações que recebeu. Ele se aprofunda no Evangelho. Paulo conhecia tanto o Evangelho, assumiu tão profundamente o estilo de viver do Evangelho que, num determinado momento de sua vida, se deu conta que era Jesus que vivia nele e o que ele fazia era obra de Jesus. Paulo tornou-se um apaixonado por Jesus Cristo: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
É consequência natural que alguém, no qual habitava Cristo, evangelizasse e conseguisse tanto sucesso porque Cristo mesmo falava e agia nele, como ele mesmo reconhece quando diz: “O Senhor esteve ao meu lado e meu deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações” (2ª leitura).
Paulo, de fato, pode ser considerado o grande evangelizador porque sua vida tornou-se um Evangelho vivo. Foi isso que o tornou capaz de percorrer milhares de quilômetros, capaz de sofrer todo tipo de sacrifícios, de prisões e atentados contra sua vida... unicamente por causa de Cristo e do Evangelho.
O que São Pedro e São Paulo, esses “irmãos mais velhos” na fé podem nos dizer hoje?
Talvez seja a própria vida deles que nos pode falar. Ambos foram verdadeiros, autênticos. Foram verdadeiros e autênticos no seguimento de Jesus Cristo. Também nós, hoje, podemos ser verdadeiros seguidores de Jesus, comprometendo-nos com Ele. Também a nós Jesus pergunta: “Quem eu sou para você?”. A resposta deverá ser pessoal. Ninguém poderá responder em meu lugar. E essa resposta vai me comprometer de um jeito ou outro, qualquer que seja ela.
São Pedro e São Paulo seguiram Jesus no caminho da vida, cada um em seu próprio, muitas vezes dificultado pelos próprios limites e pecados. Também nós somos limitados, pecadores. Jesus não está nos perguntando isso, como não perguntou a nenhum dos dois quais eram os seus pecados e fraquezas. Jesus, simplesmente, nos convida a segui-lo. Reconhecer que Jesus é o Senhor da minha vida significa comprometer-se no seu seguimento, significa tornar-se seu discípulo.
É disso que precisamos tomar consciência ainda mais. O discípulo de Jesus é, pelo simples fato de ser discípulo, um missionário, um testemunha, um mártir. Jamais esqueçamos que o mundo, todos os povos, todas as gentes esperam esse anúncio. Que sempre possamos dizer, com São Paulo: “Ai de mim se eu não evangelizar!”.
Celebrando, hoje, São Pedro e São Paulo não queremos apenas louvar essas duas colunas da fé, mas queremos rezar por aqueles que os sucedem na missão de governar a Igreja e propagar o Evangelho. Assim lembremos, hoje, os sucessores desses apóstolos: nossos bispos, os ministros ordenados e todos os missionários que, a exemplo de Paulo, procuram espalhar as sementes do Evangelho e anunciar o Reino de Deus no mundo. Rezemos, hoje, no Dia do Papa, especialmente por nosso Papa Francisco que, em breve, estará entre nós, na Jornada Mundial da Juventude. Rezemos para que se mantenha firme na fé, firme nos princípios do Evangelho e nos ajuda a abrir os olhos para aquilo que vem de Deus e para aquilo que é capricho ou ideologia humana. Que Deus abençoe nosso Papa Francisco!
Frei Gunther Max Walzer