Homilia - 10/07/2022 - XV Domingo do Tempo Comum
Muitos são os planos e projetos que temos. Certamente, fariam muito mais na vida se não inventassem tantas desculpas quando em determinados momentos tomassem uma atitude ou uma decisão. Somos mestres em inventar desculpas ou em dizer: “Um dia, quando puder vou fazer... Hoje, ainda não estou preparado em fazer tal coisa... Eu tinha muita vontade em ajudar, mas me falta oportunidade... Quando eu tiver tempo, vou fazer... Me falta tempo...” É evidente que sabemos muito bem o que deveríamos fazer, mas sempre achamos que ainda não é o momento. E, com isso, o tempo e as oportunidades vão passando. O bem que deveríamos fazer não é feito, a grande realização da nossa vida não acontece, e, aos poucos, a mesmice vai se instalando na nossa vida.
Como seria diferente o nosso mundo se os bons tivessem um pouco mais de garra, um pouco mais pulso para fazer o que sabem que deveriam fazer e não o fazem.
Será que Deus pede o que não podemos fazer?
O Deuteronômio nos diz: “Esta palavra está bem ao teu alcance, está na tua boca e no teu coração, para que as possas cumprir” (Dt 30,14).
O que falta então? Talvez falte o mesmo que dizemos que falta quando o governo não faz o que deve: falta vontade política, vontade de mexer nas nossas prioridades. Não está faltando “vontade política” de mudar nossas vidas?
Lemos no Evangelho a pergunta do doutor da Lei: “Mestre, o que devo fazer para receber em herança a vida eterna?” Não é para ficar irritado com uma pergunta dessa? Um doutor fazer uma pergunta dessa? Claro, que ele sabe muito bem a resposta! Qualquer criança na catequese responderia corretamente esta pergunta. “Amar a Deus e amar o próximo como a si mesmo”. E Jesus reconhece que está certo: nota 10 para o doutor da Lei! Mas alguma coisa está errada. Saber a resposta não basta. Ou talvez seja pior: saber a resposta e não fazer. Nós, também, decoramos as respostas quando nos preparávamos para a primeira comunhão. Jesus diz: “Faze isso e viverás”.
O doutor da Lei quer levar a conversa para o lado teórico e pergunta: “Quem é o meu próximo?”. Ou seja: “Quem eu devo amar e quem eu posso fazer de conta que não vi?”.
A palavra “próximo” não é um termo genérico. Jesus, dando uma resposta à pergunta: “Quem é o meu próximo?”, fala de uma situação bem concreta fazendo referência ao levita, ao sacerdote e ao samaritano. Não explica quem é o homem caído: é qualquer um.
O próximo é assim: qualquer um que esteja precisando de ajuda. E quem está precisando? Esse “precisar” pode ser de todo tipo: no campo afetivo, financeiro, moral, espiritual, físico... E onde se encontra esse próximo? Ele se encontra em qualquer lugar: na rua, em casa, na vizinhança, na igreja, no local de trabalho...
Um “amor genérico” não custa nada, até é bonito, reconhecido e aplaudido. A questão fica mais séria quando este amor tem nome, cor, idade, sexo, lugar...
É claro que sempre procuramos mais uma desculpa e dizemos: “Sim, mas agora os tempos são outros. Numa cidade grande como a nossa não dá para sair por aí socorrendo todo mundo. Para isso existem o governo, a prefeitura, as organizações sociais, os amigos da pessoa necessitada, as próprias famílias...” Pode até ser verdade: o mundo moderno exige formas mais organizadas de caridade e não pode depender apenas do socorro individual.
Porém, na maioria das vezes, dizemos que não é hora de socorro individual e não fazemos nenhum outro. O problema é do governo, das instituições sociais? E como colaboramos com essas instituições? Dizemos que temos que “ensinar a pescar em vez de dar o peixe”. E quando vão começar as nossas aulas de ensinar a técnica da pesca? Às vezes, até é necessário dar o peixe para que a pessoa tenha forças para aprender a pescar.
Afinal, Jesus mesmo coloca como teste final para nossa entrada no céu a caridade praticada aos irmãos: “Eu estava com fome e me destes de comer...”.
A aplicação da parábola do “Samaritano” é bem fácil, e Jesus concluiu diretamente: “Vá e faça o mesmo!”.
Quem é o nosso próximo, HOJE? Só os amigos, os familiares? Os que nos ajudam? Gente do nosso grupo? Ainda hoje, há pessoas à beira das estradas, assaltadas pela violência ou opressão… precisando de nossa ajuda, do nosso amor…
Qual é a nossa atitude para com elas? A do Sacerdote e do Levita, que olharam o ‘coitado’ e passaram à frente, porque não tinham tempo, deviam cuidar dos seus trabalhos? Ou a figura simpática do Bom Samaritano, que mesmo estando de viagem, soube parar… e oferecer a esse coitado aquilo que estava ao seu alcance, para suavizar a sua situação? E nós, que aqui estamos reunidos nessa celebração para fortalecer a nossa fé e o nosso amor, sabemos quem é o nosso próximo? Qual é o seu nome? Reconhecemos de fato a presença de Cristo nas pessoas que encontramos ao longo dos caminhos do mundo? Ou preferimos não perder tempo e seguir o nosso caminho, deixando o nosso próximo na sarjeta do abandono? Enquanto Cristo aguarda uma resposta, professemos publicamente a nossa fé no Cristo que ainda hoje, muitas vezes, encontramos abandonado e espoliado, ao longo de nosso caminho…
Ninguém pode dizer que ama a Deus se não ama o seu próximo.
Frei Gunther Max Walzer