Homilia - 31/07/2022 - XVIII Domingo do Tempo Comum
Vivemos preocupados com tantos conflitos e guerras no mundo inteiro. E é para se preocupar mesmo com tanta violência e crimes também nas cidades do nosso país. Até em nossa cidade e em nosso estado, vivemos preocupados com a nossa segurança. Mas esta preocupação, facilmente, pode se tornar uma obsessão. Quem ganha muito com isso é a indústria de trancas, cercas elétricas, alarmes, cadeados e até com a venda de armas. E todos nós sabemos que não existe segurança perfeita e total. Nem é preciso aparecer um ladrão para roubar o que é nosso: um fracasso nos negócios, desemprego, doença... e lá se vai toda a nossa economia.
Até nas relações afetivas, as pessoas procuram segurança: são os amigos sempre desconfiados, os namorados, as noivas, as esposas que ficam fiscalizando o parceiro ou a parceira, querendo saber aonde foram, com quem estavam... Penso, no entanto, o afeto e o amor verdadeiro não precisam ser vigiados. E, se não é de confiança e se precisa ser vigiado, nem vale a pena continuar com esse relacionamento.
Aí surge a pergunta: que tipo de conquistas na vida será mesmo seguro e valerão a pena ser mantido?
Muitas pessoas colocam sua preocupação principal nas riquezas e posse de bens materiais. As leituras bíblicas de hoje alertam que a importância da vida humana está em outros valores. De que adianta ser uma das pessoas mais ricas do mundo, se ninguém leva nada para o túmulo? Qual é o lucro de um político que acumula bens através de roubo e corrupção? Que vantagem tem um banqueiro que lucra com a exploração de semelhantes?
O Evangelho tem um recado claro. É inútil ajuntar tesouros para si mesmo e não ser rico para Deus. Começa por uma briga de irmãos, sobre a partilha da herança. Brigas de herança são, por sinal, muito comuns em todos os lugares. Jesus se nega a resolver o problema da herança dos dois irmãos. Mas, ele aproveita para dizer que a vida não é assegurada pelos bens. Quantos conflitos seriam evitados se, em casos semelhantes, as pessoas tomassem consciência que o valor da vida humana é outro. O que faz a diferença, para a pessoa, não é a casa, nem o terreno, nem o carro, nem a conta bancária. Nada disso!
Então Jesus conta uma parábola. E poderia concluir que qualquer semelhança não é mera coincidência. Um homem já muito rico, ao fazer uma grande colheita, preocupa-se com a grande sobra, e planeja lucrar ainda mais para poder descansar, comer, beber e regalar-se. Ora, quantas outras possibilidades ele teria para aplicar os seus ganhos. A época de Jesus, por certo, não era diferente da nossa, e os próprios operários daquele ricaço continuavam na carência. Famintos e miseráveis multiplicavam-se à volta de Jesus. Em quem o rico pensa? Só em si próprio, infelizmente. Pura ganância!
Então vem a surpresa. Na verdade, é a única certeza que o ser humano carrega consigo. Nessa mesma noite, que pode ser uma noite qualquer, Deus chama você de volta. E os bens que você acumulou, para quem ficarão?
O povo diz: “Desta vida não se leva nada”. Não se leva nada mesmo que se possa guardar no cofre do banco, mas se leva, exatamente, a vida que foi vivida e o que nela foi construído. Também é isso que fica de lembrança naqueles que amamos e naqueles que admiram qualquer coisa que tenhamos realizado, qualquer qualidade que tenhamos desenvolvido.
Jesus termina sua história, lamentando o homem que junta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus. Jesus refere-se, como se pode deduzir da própria história, a riquezas materiais – e, possivelmente, a outros valores exteriores da própria pessoa.
Quem é rico para Deus, certamente, beneficia-se a si mesmo. Quem junta os tesouros do alto (generosidade, solidariedade, justiça, honestidade) sai ganhando no que é mais importante: torna-se uma pessoa de altíssima qualidade. Esta pessoa alegra-se com o bem que realiza, vive com grande paz interior. Esta pessoa beneficia também as pessoas que convivem com ela. Todos nós conhecemos pessoas muito queridas que se foram, no entanto nos lembramos do que de mais precioso deixaram conosco: o amor.
Aprendamos a lição: Dinheiro e bens materiais todos nós precisamos ter para viver bem e viver dignamente em nossa sociedade atual. O que o Mestre Jesus chama atenção não é quanto ao ter dinheiro, mas para o apego com as coisas deste mundo, porque as riquezas do mundo, quando nos tornamos apegadas a ela, são fonte de ansiedade e não de paz. Trabalhar para ter bens e poder viver confortavelmente é justo. O que a Palavra deste Domingo adverte
é quanto ao ficar apegado e viver em função da riqueza e dos bens. A vida é muito bonita e não pode ser perdida, vivendo preocupado com lucros e dividendos. Viver perto de Deus, viver feliz, viver alegre, viver em paz, ter amigos é uma riqueza muito mais compensadora que os bens materiais. O resto é vaidade pura. Além disso, as riquezas e os bens que temos não servem unicamente para que tenhamos uma vida confortável. Isto é egoísmo. Todo bem que temos, no contexto da Doutrina Social da Igreja, provoca-nos e nos desafia a partilhar com quem não tem. Os textos da liturgia, portanto, merecem uma profunda reflexão de todos nós sobre o que representam os bens materiais para nós e como nós os administramos!
Frei Gunther Max Walzer