Homilia - 14/08/2022 - XX Domingo do Tempo Comum
Hoje, no Dia dos Pais, estamos prestando nossa homenagem aos pais. Muitas palavras são ditas e escritas por ocasião do Dia dos Pais. Não quero, neste momento, multiplicar estas palavras. Apenas uma palavra quero dizer a vocês, pais:
Pai, você é muito importante!
E quando alguém é importante, a gente pergunta logo: Importante para quem? Você, pai, é importante para quem?
A resposta é simples. Você, pai, é muito importante para a sua família, os seus filhos, você é muito importante para a sua esposa. Importante você é para a sociedade toda.
Sei que você, às vezes, é muito esquecido. O Dia das Mães costuma chamar muito mais atenção que o Dia dos Pais. As mães recebem mais carinho e mais publicidade que os nossos pais. Os pais ficam mais na sombra, não ocupam grandes manchetes em nossos jornais.
Quando digo que você pai é muito importante para a sua família parece muito estranho o texto do Evangelho que acabamos de ouvir. O Jesus desta página do Evangelho pode causar a muitos certa estranheza. Não é, com certeza, o Jesus açucarado de certas imagens ou de certos filmes. Jesus afirma: “Eu vim para lanças fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso. Vós pensais que vim trazer a paz sobre a terra? Eu vos digo, vim trazer divisão”.
A declaração de Jesus pode causar mal-entendidos para quem a interpretar ao pé da letra. Será que ele quer causar divisões nas relações sociais, de maneira especial no seio da família? Será que Jesus veio para dividir as famílias, causar guerras ou mortes?
Jesus admite que não veio trazer a paz, mas a divisão dentro das próprias famílias! "Pai contra filho, filho contra pai, mãe contra filha, filha contra mãe, sogra contra nora, nora contra sogra." É claro que a nossa interpretação
para isso deve ser que, apesar da sua mensagem ser de Paz e Amor, nem todos querem entender, receber ou mesmo aceitar que outras pessoas da mesma família se dediquem mais ao Evangelho do que à própria família.
À medida que alguém entra no seguimento de Jesus e assume sua vocação profética, com ela aparecem consequências. Todos nós temos alguma experiência de famílias que frequentam a Igreja, que se dedicam à comunidade, que atuam em ministérios ou em pastorais e, por isso, sofrem críticas de parentes, passam por ridicularizações e são alvos de brincadeiras de outros parentes. É disso que Jesus está tratando neste Evangelho. Em algumas famílias, isto acontece até mesmo dentro de casa. Um filho ou filha pode não gostar porque os pais trabalham na Igreja. Um pai ou mãe que não toleram que os filhos atuem na comunidade. É a divisão tratada por Jesus no Evangelho
O Reino exige denúncia profética, mesmo se tratando de alguém da nossa própria família, seja pai, mãe, irmãos. O discípulo fiel de Jesus terá sempre opções claras pelo Reino, que é justiça, verdade, honestidade e paz. Nunca poderá se deixar vender ou corromper por propostas que atentam contra os valores do Evangelho. Viver o Evangelho trará divisões, provocará conflitos.
Não precisamos ficar uns contra os outros, mas precisamos ser coerentes e queimar no fogo tudo aquilo que nos divide, nos separa e que não traz vida nova às relações humanas.
Jesus veio para trazer o fogo do seu Espírito. E o fogo pode, num primeiro momento, parecer uma figura alegórica ou apenas um sentido figurado. Mas, a Palavra de Deus vem para incendiar a face da terra, vem para incendiar o nosso coração; ela traz o fogo de Deus para o meio de nós.
As palavras de Jesus falam de uma possível divisãodentro da própria família é bom ser proclamada no Dia dos Pais.
As divisões dentro de uma família, por motivos religiosos, podem ter muitas origens, mas gostaria de chamar atenção para duas delas. A primeira é a questão do fanatismo. O fanático religioso é uma pessoa desequilibrada, do ponto de vista psicológico, presa a um processo emocional que se denomina fixação. Ele se fixa em alguns pontos da doutrina religiosa, elege um pregador e vive defendendo com unhas e dentes ideias e doutrinas religiosas. Em se tratando de um desequilíbrio psicológico, o fanático não tem condições viver certos valores dentro da família, pois vive agredindo e sendo agressivo e não é capaz de conviver com as diferenças. É evidente que isto gera um grande desconforto e incomodo nas famílias.
A segunda fonte de divisão é a que está sendo proposta no Evangelho de hoje: o testemunho sincero do Evangelho, através do seguimento de Cristo. Conhecemos o mal-estar no relacionamento de filhos ou de pais por, de um lado ou do outro, estarem comprometidos com o Evangelho e, por isso, com atividades na comunidade. Se no começo isto pode ser motivo de brigas e discussões, o tempo marcado pela paciência e com muita misericórdia produz uma convivência com condições de se tornar familiarmente saudável. Sempre deve estar presente o respeito à religião.
Não saberia dizer o número de filhos que, hoje, agradecem o respeito que seus pais tiveram por suas posições religiosas diferentes. É aquele tempo difícil que se semeia entre lágrimas até a colheita na alegria e entre canções, que cantamos no Sl 126.
É, por isso, volto a dizer: Pai, você é muito importante para os seus filhos, se colocando diante deles como ponto de referência e mostrando sua vivência dos valores que são eternos: o amor verdadeiro – a dedicação à família - a honestidade - o respeito - a sinceridade - a justiça - a retidão de caráter - a alegria - o otimismo - e muitos outros valores que você possui.
Pai, continue com coragem a sua missão de pai, continue caminhando firme na estrada da vida onde Deus o colocou como pai de seus filhos e esposo de sua esposa.
O importante é que, no brilho de seus olhos, apareça e brilhe sempre a beleza e a bondade de Deus.
Desejo a todos os pais, que em cada coração de pai bata com a maior força possível o amor e a misericórdia de Deus Pai.
Frei Gunther Max Walzer