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Homilia - 05/03/2023 - II Domingo da Quaresma

É natural que, na nossa vida, de repente tudo vire rotina. O que começamos a fazer com entusiasmo pode vir a não suscitar mais nenhuma emoção: nós nos acostumamos. Acostumamos com o que é bom e também com o que é mau. Nós nos acostumamos com os nossos – e dos outros também – pequenos “tiques”, manias, vícios. A vida não nos encanta. A dor nãos nos toca mais especialmente a dos outros.... Nós nos desencantamos com que é bom e belo e perdemos a nossa capacidade de nos indignar e sofrer com a injustiça, com a maldade. Acostumamo-nos a achar que nada no nosso país e na sociedade vai mudar...

Esta experiência, tão humana e comum, será que atingiu também o grupo de apóstolos que seguiram Jesus de perto? Será que também eles se “acostumaram” com a presença do Filho de Deus? Será que não viveram uma experiência de encantamento com o caminho que estavam fazendo como discípulos do Mestre? Vamos ver o que nos revelam os textos da liturgia de hoje.

O Evangelho nos mostra Jesus “num lugar à parte, sobre uma alta montanha”. Levou com ele Pedro, Tiago e João. De repente, Jesus “foi transfigurado diante deles”. Seu rosto ficou lindo, muito lindo! “Brilhou como o sol”! Suas roupas ficaram “brancas como a luz”.

A cena era bonita demais. A sensação que os discípulos sentiam era a de estar no céu, tão grande era a felicidade deles. A transfiguração de Jesus foi uma experiência única na vida de Pedro, Tiago e João porque contemplaram o brilho da luz divina na pessoa de Jesus.

Pedro gostou demais dessa visão e diz espontaneamente: “É bom ficarmos aqui”. Pedro tem uma reação natural: prefere esse Jesus glorificado, por isso quer ficar por ali mesmo. Nós também temos reações parecidas: Muitos gostariam que existisse a Páscoa sem Semana Santa. Por quê? Porque preferimos um Jesus festivo, jovem, simpático, com olhos românticos, e não gostamos muito de ver um Jesus esmagado, aniquilado, com rosto desfigurado e crucificado. É mais tranquilizante ficar rezando na igreja do que enfrentar as lutas do dia-a-dia. "Enfeitamos" Jesus o mais que podemos, cantamos a sua glória e vitória... E temos bastante dificuldade em seguir Jesus pelas ruas e porões da vida, onde a realidade não é tão bonita. É muito duro seguir Jesus na Via Sacra.

Mas Jesus manda os discípulos descer à planície, voltar à realidade. Jesus voltará a andar com eles pelas ruas empoeiradas da Palestina, voltará a enfrentar com eles os problemas da vida e terminará sua vida de uma maneira escandalosa na cruz.

Os discípulos de Jesus “ouviram uma voz que dizia: Este é o meu filho amado!” Não foi esse o sonho de Deus quando criou o ser humano, que todos fossem seus filhos por Eles amados? Não foi esse seu projeto amoroso para com toda a humanidade: a fraternidade e a justiça no amor?

Acontece que o ser humano, corrompido pelo pecado, se distancia de Deus e do seu projeto. A sua liberdade não será mais para Deus, mas sim para fazer de sua vida o que lhe convém.

Depois da Transfiguração, Jesus manda os discípulos de volta à realidade. Jesus voltará a andar com eles pelas ruas empoeiradas da Palestina, voltará a enfrentar com eles os problemas da vida.

Em nossa realidade aparecem os tristes relatos de pessoas que matam, escravizam, traficam adultos e crianças e espancam aqueles a quem deveriam ter respeito e amizade, por serem como todos nós filhos e filhas amados por Deus. O mesmo Deus que falou lá, naquela nuvem, nos fala, hoje, pela sua Palavra que ouvimos. Ele nos diz no íntimo do nosso coração: “Você também é minha filha e meu filho amado e escolhido”.

Se quisermos, novamente, ver o rosto transfigurado de Jesus no rosto das pessoas que sofrem, se quisermos, novamente, ver a veste resplandecente e encantadora da imagem de Deus nas pessoas que vivem na escravidão, temos que “escutar o que Ele nos diz”.

Esta é a atitude fundamental a ser cultivada ao longo de todo o ano, especialmente, nesta Quaresma: escutar a voz de Jesus Cristo! Este é o caminho para que a “transfiguração” aconteça na vida das pessoas, das famílias e da sociedade, tantas vezes, desfiguradas pelas situações de pecado e de sofrimento que se abatem sobre tantos.

Nós continuamos a vivenciar a Campanha da Fraternidade, tempo especial de vivência do amor fraterno que nos motiva, neste ano, a ouvir o apelo de Jesus: “dai lhes vós mesmos de comer “ (Mt 14,16)!

“Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O”. A voz vinda da nuvem pede-nos para escutar Jesus.

Prestar atenção ao que o outro diz… “preciso de você, preciso da sua ajuda”. Isso nem sempre é fácil, é necessário estar interiormente disponível ao outro, fazer um tempo de parada interior, um tempo de silêncio para poder dar ao outro espaço para que se possa exprimir. É preciso acolher o que o outro quer dizer-nos, sem quaisquer preconceitos ou filtros… Hoje, trata-se se escutar o Filho que Deus escolheu.

É preciso, pois, “escutar o Filho” porque n’Ele encontramos tudo o que Jesus quer dizer-nos, hoje. Não precisamos procurar novas luzes noutros lugares, nas visões ou revelações de várias espécies… Tudo nos é dado em Jesus. Eis porque colocarmo-nos na escuta da Palavra que é Jesus é de uma importância capital, se queremos ser verdadeiramente discípulos de Cristo.

“Dai lhes vós....! “Vós” é cada um de nós. Que esta Quaresma seja vivida em forte espírito de solidariedade. Que nosso jejum abra nosso coração aos irnãos e irmãs que sofrem necessidade de corpo e alma. Que nossa solidariedade seja intensificada.

“Todas as vezes que fizestes isso a um desses irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,34).

Será que ao ouvirmos a voz vinda da nuvem abrimos os ouvidos e deixamo-nos pôr em questão pelo Mestre?

Frei Gunther Max Walzer

 

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