Homilia - 28/04/2024 - V Domingo da Páscoa
No Evangelho, Jesus, compara a relação que há entre os discípulos a uma videira. Ele diz que precisamos cultivar esta ligação que há entre ele e nós para poder dar frutos.
Provavelmente, ninguém de nós já viu uma parreira carregada de uvas. Talvez seja uma experiência difícil, hoje em dia, num ambiente urbano onde vivemos. Mas quem já viu não esquece a beleza: o tronco firme, os ramos todos entrelaçados, cheios de brotos, as folhas verdes, os cachos de uvas aveludadas.
Sabemos também que um galho cortado seca e é incapaz de produzir frutos. Atualmente, muitas pessoas vivem devido à pandemia e o perigo de contágio do COVId-19 em isolamento, muitas vezes forçado, e conhecemos muito bem as consequências negativas afetando a saúde física e psíquica. As consequências desse isolamento social, se não forem cuidadas, podem ser catastróficas e provocar crises sérias na sociedade.
Comparando-se no evangelho com uma videira, Jesus diz que o Pai é o agricultor. Imaginemos um agricultor, tudo o que ele quer é ver a sua plantação crescer, dando frutos, tudo cheio de vida. O Pai nos criou com muitas possibilidades a serem desenvolvidas. Quando um ser humano é impedido de crescer, o projeto de Deus fica frustrado. É muito grave alguém ter inteligência e não ter condições de aprender; alguém ser criado com capacidade de amar e ficar bloqueado, porque foi cercado de ódio e violência. Há algo de muito sagrado no desenvolvimento de qualquer ser humano, em todos os campos: no físico, no espiritual, no emocional, na sensibilidade artística, na competência profissional... Quem ajuda alguém a crescer é jardineiro de Deus. Uma escola, um hospital, uma família, um local de trabalho, uma associação comunitária são canteiros onde Deus quer ver crescer e frutificar os dons que ele colocou à disposição de seus filhos e filhas. Em todos os lugares onde houver gente, há uma plantação de Deus a ser cultivada.
Quem já dá frutos sempre pode produzir mais. Jesus diz que o ramo que já dá fruto será limpo para produzir mais. Estará Deus sendo insaciavelmente exigente? Será ele um Senhor que nunca fica contente com o que temos a oferecer: Deus, na verdade, não precisa de nós para nada. Ele quer sempre mais porque nós podemos ser sempre maiores. Será uma pena, um desperdício, se alguém parar no meio do caminho e ficar sendo menos do que poderia ser.
Foi o próprio Deus, aliás, que pôs no ser humano esse desejo de ir além. A humanidade é assim: se já inventou a charrete, quer chegar ao automóvel; se já criou o automóvel, inventa avião; se o avião já vai longe, produz nave espacial. Se tudo isso vale para as conquistas tecnológicas, mais ainda deve valer para o crescimento de cada um de nós. Podemos dizer ao acordar todo dia para nós mesmos: meu objetivo hoje é ir além, é ir até onde ainda não fui; é crescer mais do que cresci até ontem. Em termos cristãos, é claro, a pensarmos logo que esse crescimento significa crecer na caridade, na generosidade, no acolhimento do irmão...
Mas Deus também fica bem-servido quando crescemos na inteligente compreensão do mundo, na criatividade artística, na habilidade profissional. Afinal, foi ele mesmo que nos criou com a potencialidade de desenvolver esses talentos.
Às vezes tenho a impressão de que fé e razão são realidades opostos, de que Deus e o ser humano são competidores, que seria preciso escolher entre o que é de Deus e o que é humano. Na verdade, só é contra Deus aquilo que, no mundo, também prejudica a verdadeira felicidade dos homens e mulheres que ele criou e ama. Todo progresso humano saudável, capaz de melhorar a vida, é de certo modo um hino de louvor ao Criador, que nos deu capacidade para criar, inventar.
“Nisto é glorificado meu Pai, quando vocês produzem muitos frutos e assim mostram que são meus discípulos” (Jo 15,8).
Deus é exigente porque sabe o quanto somos valiosos e não deseja ver seus filhos fazendo “abatimento” com relação ao que têm de mais precioso: a aventura de fazer de sua vida a melhor obra possível.
A glória de Deus é a presença da vida divina frutificando através de nós discípulos e discípulas. A presença de Deus no mundo não acontece pelo esplendor das catedrais e nas grandes concentrações de pessoas em congressos e jornadas, mas pelo fruto da vida divina sendo produzido em quem se faz discípulo e discípula de Jesus, no cotidiano da existência.
Jesus deixa bem claro que ser cristão não se limita a ficar rezando, participar de louvores e conhecer trechos da Bíblia. Jesus nos alerta para não ficarmos só em palavras ou intenções vazias.
O Pai é glorificado com frutos de vida vindos da vivência do amo divino.
Às vezes, falamos palavras bonitas, mas que não resultam em atos concretos de amor. As palavras até podem ser falsas, usadas para bajular, para obter proveito. Quando a palavra “amor” é sincera, ela produz frutos, que são: perdão, paz, solidariedade.
A autenticidade da vida cristã é medida pelos frutos. Cristão verdadeiro é aquele que é discípulo de Jesus e produz frutos; aquele que não produz nada é chamado por Jesus de “galho seco”, um inútil; serve para ser queimado ou jogado no lixo. Portanto, é sempre oportuno avaliar como somos cristãos, se produzimos frutos do amor ou não.
Quando assumimos viver de acordo com o Evangelho, só assim poderemos produzir frutos se vivemos na intimidade com Jesus. É unidos a Jesus que nos alimentamos do seu Evangelho, de sua vida divina. Jesus resume essa dinâmica com a frase: “Sem mim nada podeis fazer”.
Permanecer em Cristo é viver nele!