Homilia - 26/08/2012 - 21º Domingo do Tempo Comum
No início da nossa reflexão dos textos da Palavra de Deus, permitam fazer algumas perguntas:
- Onde você quer chegar com a sua vida?
- Qual é a direção de sua vida?
Vejo as pessoas andando pelas ruas, levantando de manhã e se dirigindo para o trabalho, chegando no terminal de ônibus aquela multidão de gente vindo dos bairros da cidade para o centro, aquele congestionamento de carros na ponte. E a mesma coisa à noite, todos voltando para casa, cansados, e debulhando todos os problemas que aconteceram, todas as coisas que não deram certas.
Vejo as pessoas casarem, viverem numa família, vejo muitos casais jovens vivendo juntos sem compromisso sério para o futuro, vejo as pessoas se divertirem e vejo outras em profunda depressão.
Vejo as pessoas lutarem para amontoar bens materiais, sonhando com uma segurança econômica, gastando sua saúde e seu tempo em coisas muito passageiras, coisas até fúteis...
- Onde as pessoas querem chegar com tudo isso?
- Com o vai-e-vem de todo o dia, com os anos que passam, com o físico que se gasta?
- Qual é a direção de tudo isso?
Vejo o avanço das Igrejas pentecostais e o ressurgimento de outras formas religiosas, entre os quais o bruxismo, a magia e correntes que misturam elementos da cultura cristã e da mística oriental. As pessoas deixando a Igreja e buscando grupos religiosos que mais lhes convêm; passam de um grupo para outro sem estabelecer um vinculo sério.
No evangelho de hoje, Pedro faz uma pergunta: “A quem iremos nós?”. Esta é, também, para nós uma questão de opção: Com quem vamos ficar? De que lado você quer ficar? Com quem queremos ir?
Na primeira leitura, Josué põe o povo diante de uma escolha: A quem vocês querem servir: aos ídolos, que são de fácil manipulação, que não exigem nada ou seguir o Senhor, que é exigente, que é Santo e corrige os que nele esperam?
Vejam: o nosso Deus não se preocupa com popularidade, não faz conta do número de fiéis, não abranda suas exigências para ser aceito, mas sim, quer fidelidade ao seu amor e ao seu chamado!
O que aparece na primeira leitura torna-se ainda mais claro e dramático no evangelho. Após dizer claramente que sua carne é verdadeira comida e seu sangue é verdadeira bebida, muitos discípulos se escandalizaram com Jesus (os protestantes ainda hoje se escandalizam e não crêem na palavra do Salvador...). E Jesus, o que faz? Muda sua palavra? Volta atrás no ensinamento para ser popular, para ser compreendido e aceito, para encher as igrejas? Não! Popularidade, aceitação, modismo nunca foram seus critérios! Ainda que sua palavra escandalize, ele nunca volta atrás. O Senhor nunca se converte a nós; nós é que devemos nos converter a ele! Pode-se manipular os ídolos; nunca o Deus verdadeiro!
E Jesus vê que ficaram somente os Doze, e os questiona: “Não quereis também ir embora?”. A pergunta é radical. Jesus não pede que eles fiquem. Não espera que as pessoas o sigam apenas por causa dos outros. A resposta vem pela boca de Pedro. Ele faz uma bonita profissão de fé: “Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que Tu és o Santo de Deus”.
Ouvindo estas palavras de Pedro, nós já fizemos esta profissão de fé? A decisão de ficar com Jesus “prá valer” não vem, em primeiro lugar, do intelecto, do estudo ou do conhecimento da doutrina. É claro que em nosso processo de formação cristã precisamos estudar a Bíblia, conhecer a doutrina da nossa Igreja, ler livros e documentos que ajudam a esclarecer a nossa fé.
O ato de crer, porém, não nasce simplesmente da aquisição de informações sobre a pessoa de Jesus Cristo. A fé nasce de um encontro efetivo que nos leva ao compromisso de vida com Cristo. Poderíamos dizer que a fé nasce do coração, não da cabeça.
Um belíssimo exemplo disso nos dá hoje a segunda leitura recordando a vida da família cristã. São Paulo pensa no lar cristão como uma pequena comunidade de discípulos de Cristo, uma pequena Igreja, e ele dá conselhos muito concretos! Diz ele que o sentimento que deve nortear o comportamento familiar é o amor. Que amor? O das músicas e das novelas? Não! Mas deve ser aquele amor manifestado na cruz, aquele amor entre Cristo e a Igreja! Que beleza, que desafio, que sonho: marido e mulher se amando como Cristo e a Igreja se amam, marido e mulher sendo felizes na felicidade um do outro: “Sede solícitos uns para com os outros!”
Este último Domingo do mês vocacional é dedicado aos ministérios e serviços dentro da comunidade e celebramos também o “Dia Nacional do Catequista”.
Como sabemos, as atividades pastorais na comunidade católica não são remuneradas, são um serviço comunitário onde os discípulos de Jesus dão a resposta a um chamado divino. Resposta dada na gratuidade.
Trabalhar na comunidade é dedicar tempo, dedicar esforço e cansaço para o bem dos outros, na gratuidade. É um grande testemunho de fé dedicar tempo e cansaço, não porque vamos receber algo em troca, mas porque cremos que assim comunicamos e partilhamos o Evangelho na comunidade.
Não se trata, portanto, de um serviço dos leigos porque o padre não dá conta sozinho, mas é uma verdadeira atividade evangelizadora necessária em nossos dias, principalmente entre os jovens e entre aqueles que perderam o encanto da fé.
Muitos ministros levam a comunhão aos doentes porque se sentem chamados por Deus a fazer isso. Catequistas dedicam horas e horas de seu tempo para transmitir a fé, para formar novos discípulos, testemunhando assim o Evangelho de modo vivo.
Cito estes exemplos para lembrar que apesar da gratuidade, do chamado vocacional, continuamos humanos e sujeitos a desentendimentos. Em crises de trabalho comunitário, alguns deixam tudo porque se sentiram incompreendidos (muitos, de fato foram incompreendidos). Outros, mesmo sofrendo, colocam acima do sentimento a fidelidade do discípulo, a fidelidade a Jesus e ao Evangelho. A crise que aconteceu na comunidade dos discípulos de Jesus sirva-nos de exemplo, para que possamos ter a mesma atitude de Pedro: nós ficamos porque somente Jesus tem Palavras de vida eterna.
“Quereis também ir embora?”
Que nossa resposta seja a de Pedro, dada em nome dos Doze e de todos os discípulos: “A quem iremos, Senhor? Caminhar contigo não é fácil; acolher tuas exigências nos custa; compreender teus motivos às vezes nos é pesado... Mas, a quem iremos? Só tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus!”.
Que as palavras de Pedro sejam as nossas e, como Josué, digamos juntos: “Eu e minha família serviremos ao Senhor!”
Que assim seja! Amém.