Homilia - 04/08/2024 - XVIII Domingo do Tempo Comum
No Evangelho, Jesus dizendo: “Estais me procurando porque comestes pão e ficastes satisfeitos”.
Esta é a queixa de Jesus: “Vocês me procuram só por causa da comida” (Jo 6,26). Isso é que é falar claro. Sabemos que o mundo está cheio de gente que procura o Cristo só por causa de interesses materiais.
Não é segredo para ninguém que vivemos numa sociedade que supervaloriza os bens materiais. Todos os dias, cada hora, minuto a minuto, somos bombardeados por inúmeras ofertas que prometem a realização pessoal. Em poucos segundos ou seja, de modo rápido e objetivo, prometem um sentido novo para a vida, desde que eu ou você compre este ou aquele produto. E são tantas as pessoas que aceitam aquelas mensagens. Julgam que possuindo este carro, tendo aquele tipo de casa, usando esta ou aquela roupa viverão realizadas.
Do ponto de vista psicológico, até pode haver uma compensação, mas, como mostra a experiência, compensa por um tempo e, depois, desgasta-se, acaba, some e cai no vazio. E a conseqüência é que em seguida estas pessoas já buscam outro bem e mais outro e um mais caro que o outro.
Por que acontece isso? É que o ser humano está sempre em busca de um sentido da vida. Por isso, ouvimos promessas de felicidade, de bem-estar, de admiração e, até mesmo, mudança de personalidade. A mentalidade do mundo é esta; mentalidade marcada pelo ter, pelo possuir, pela exibição, pelo glamour que fomenta a necessidade de aparecer, de ser visto e admirado.
São Paulo nos diz hoje na Carta aos Efésios: “Não continueis a viver como vivem os pagãos, cuja inteligência os leva para o nada”.
São Paulo nos incentiva a não modelar nosso caráter e nossa personalidade com a mentalidade do mundo. Ao contrário, Paulo incentiva a despojar-se desta mentalidade, que é próprio de homens e mulheres velhos, que vivem presos ao desejo de possuir, e ele nos orienta a viver com outro Espírito. Este outro Espírito, nada mais é que o Espírito Santo. É a presença do Espírito divino em nós que ilumina e ajuda a entender o que é melhor para a vida humana. Podemos ter bens, mas o Espírito divino ajuda-nos a viver de modo despojado, sem colocar nos bens o sentido último da vida.
Um segundo incentivo para não viver de acordo com a mentalidade consumista do mundo está no Evangelho. E aqui, temos um dado interessante.
A multiplicação dos Paes levou muita gente a identificar Jesus com uma espécie de “milagreiro”. As pessoas confundiram as coisas, pensando que Jesus fosse uma ótima solução para conseguir de maneira fácil o pao de cada dia. Ou seja, quando sentissem fome, era só recorrer ao “milagreiro” e não precisavam mais trabalhar para produzir e partilhar os alimentos.
Aí Jesus aponta para o alimento que merece ser procurado porque não estraga nunca. Esse pão é diferente do maná que o povo comeu no deserto.
E, novamente, as pessoas começaram a confundir as coisas. Pensavam, “se a gente come um pão que ‘dura para a vida eterna’, logo, não haverá necessidade de trabalhar”.
Foi com essa idéia na cabeça que eles pediram inocentemente a jesus: ”Senhor, dá-nos sempre deste pão!” (Jo 6,34). Aí, Jesus falou bem claro: “Eu sou o pao da vida. Aquele que vem a mim não terá mais fome, e aquele que crê em mim não terá mais sede”.
O que significa essa frase misteriosa de Jesus? Jesus está dizendo que, que antes de mais nada, é preciso que o procuremos. O povo foi à procura de Jesus e, assim que o encontrou perguntou: “Mestre, onde estavas?” É a pergunta de quem está à procura, de quem busca, de quem procura. Jesus nos está dizendo hoje, que o procuremos – sua pessoa, seu projeto de vida, seu Reino. Isso sempre deve estar em primeiro lugar em nossa vida.
Mas Jesus percebe as segundas intenções dessa gente e se queixa: “Vocês me procuram só por causa da comida”.
O povo foi à procura de Jesus e, assim que o encontrou perguntou:“Mestre, onde estavas?” É a pergunta de quem está à procura, de quem busca, de quem procura; uma vez que tal procura acontece logo depois da multiplicação dos pães, Jesus percebeu que vinham a ele não por causa de sua nova proposta de vida, mas por causa do pão. Deixa claro que não devemos buscar Jesus por causa dos sinais (que no Evangelho de João significa milagres), não devemos buscar Jesus somente por causa do pão material, mas buscá-lo porque ele tem uma proposta capaz de dar à vida presente um sabor de eternidade. Dentro do contexto comercializado que vivemos, sabemos que até mesmo Jesus é transformado em mercadoria, com promessas de milagres e de sucesso financeiro. Hoje, contudo, Jesus alerta para tais propagandas e insiste: “não me busquem pelos milagres, mas porque eu posso dar um sentido para viver”.
Cristo quer ser procurado e amado por aquilo que ele é, não por aquilo que ele nos proporciona. Cristo quer ser seguido não apenas na hora dos milagres, mas também quando ele vem a nós com suas exigências e cobranças.