Homilia - 11/08/2024 - XIX Domingo do Tempo Comum
Comemora-se, neste domingo, o “Dia dos Pais”. Na linha do “Mês Vocacional”, a Igreja no Brasil aproveita a oportunidade para refletir e, principalmente, para rezar e interceder a graça para que os pais possam viver respondendo a sua vocação paterna.
O dia dos pais é um dia de festa e de emoção. Com abraços e presentes os filhos e as mães envolvem os pais, e a família toda se alegra. A festa é promovida também pelo comércio e pela propaganda, mas possui um sentido profundo para a vida de toda pessoa. Na celebração litúrgica de hoje, a festa dos pais ganha destaque especial.
O pai sempre é o ídolo de seu filho ou de sua filha. Quando criança, a gente vive nessa dependência e acredita em tudo o que o pai fala. A criança acha que o pai sabe tudo e, é claro, acha também que ele pode tudo. Mesmo depois de adultos, o pai nos acompanha como referência e apoio. Tradicionalmente o pai é visto como o esteio do lar. Essa função, naturalmente, é partilhada pela mãe. Mas, no imaginário geral, é o pai que garante o pão da família.
Pelo fato de ser pai, o homem se torna parceiro de Deus. Pai e mãe, ao transmitir a vida, tornam-se continuadores do ato criador de Deus. A corrente da vida segue exatamente por essa transmissão de pais para filhos.
A missão de pai pode ser interpretada como forma de cumprir o mandato da segunda leitura de hoje. “Tornai-vos, pois, imitadores de Deus, como filhos amados” (Ef 5,1). Pelo simples fato de ser pai, o homem já se torna imitador de Deus. Mas, conforme o dito popular, “não basta ser pai, tem que participar”. Por isso a leitura prossegue “andai em amor” (Ef 5,2). Esta frase poderia ser o lema de todo pai. “Andar em amor” significa viver continuamente amando. “Andar em amor” é comportar-se como pai responsável. “Andar em amor” é agir como Jesus Cristo agiu. Ele é o modelo. Por isso o texto de Ef 5,2 completa: “e andai em amor, assim como Cristo também vos amou e se entregou por nós a Deus”. A mesma segunda leitura de hoje acrescenta algumas sugestões concretas para “andar em amor”, em Ef 4,31-32. Afastar amargura, exaltação, cólera, palavra pesada e malícia, ser bondosos e compassivos, perdoar-nos mutuamente, como Deus nos perdoou em Cristo.
Em sentido pleno podemos afirmar que só Deus é pai. Mas, quem consegue chegar perto da paternidade de Deus? Jesus é o caminho. Quem quiser conhecer o Pai, olhe para o Filho. Jesus é o único intermediário para se chegar a Deus, e quem quiser escutar a Deus deve escutar o filho. Assim como Jesus está muito perto de Deus, ele está também muito próximo de nós. Isso porque ele se encarnou e se fez homem à nossa semelhança. Ele é o filho de José e de Maria, da mesma forma como é o filho de Deus. Isso foi um escândalo para muitas pessoas. O Evangelho relata que os judeus murmuravam, pois não entendiam que o filho de José pudesse afirmar que desceu do céu.
Jesus é o pão descido do céu. No Evangelho de João estas palavras possuem importância fundamental. Jesus as repete, de própria voz, no início no meio e no final do Evangelho de hoje, nos versículos 41, 48 e 51, “Eu sou o pão descido do céu”. Na segunda vez diz ser “o pão da vida” e na terceira repetição acrescenta ser “o pão vivo”. Os judeus murmuram, da mesma forma como murmuraram na caminhada pelo deserto. E Jesus explica. Esse pão é verdadeiro, encarnado em Nazaré, no filho de José e de Maria, num ser humano concreto. Mas é igualmente divino. Provém do Pai, de quem é pessoalmente enviado.
Jesus se compara ao pão, que é o alimento mais popular na sua cultura e praticamente no mundo inteiro. O pão passou a representar todo alimento. Sabemos da importância que tem o pão na alimentação da humanidade. E conhecemos também os dramas da falta de pão na mesa de muitos lares. Jesus é um pão imperecível, isto é, alimenta e nunca termina. Isso por ser o pão vivo descido do céu. Sendo pão vivo, não conduz à morte, como o nosso pãozinho. Sendo descido do céu, eleva nossa natureza ao nível da própria divindade. Como encontrar um pão que seja ao mesmo tempo humano e divino? No próprio Jesus, como ele conclui em Jo 6,51: “O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo”. Deste pão vivo podemos nos alimentar continuamente, com o privilégio de comungar da mesma carne de Jesus, na Eucaristia.
Em Jesus se junta o pão da terra e o pão do céu. Ele pertence ao mundo divino, mas pertence também ao mundo humano. Por isso nele nossa vida é eternizada. “Aquele que nele crê tem a vida eterna” (Jo 6,48). A vida eterna é a vida plena, total, definitiva. É por certo sinônimo da vida divina. Isso nos anima, porque a vida eterna prolonga a vida que já temos. Nossa qualidade de vida ganha um valor extraordinário, pois passamos a viver a própria vida de Deus.
A primeira leitura de hoje exemplifica o que o Evangelho afirma. Elias peregrina pelo deserto, por quarenta dias e quarenta noites, para alcançar a montanha de Deus, o Sinai, aqui chamado de Horeb. Nesta montanha fora entregue a instrução divina a Moisés. Ali estava a fonte da espiritualidade do povo de Deus. Mas para chegar lá, Elias tinha uma longa caminhada. E como os hebreus de outrora, sentiu cansaço e desânimo. Chegou a pedir a morte. Quem de nós não passa por momentos em que adormece vencido pelo cansaço e pelo desânimo? Mas nesta peregrinação para a montanha de Deus, seu anjo não falha. Ali na cabeceira está o pão e a água para alimentar a caminhada. Elias dorme. O anjo cutuca de novo. Dá ânimo para prosseguir a longa caminhada.
Pai, neste teu dia, desejamos que o anjo de Deus esteja sempre ao teu lado, para te trazer pão e água nos momentos de desânimo. Talvez a tua estrada seja um deserto. “Levanta-te e come!” (1 Rs 5 e 7). Não importa se a caminhada é longa. “Levanta-te e come!”. Tu és pai. Não podes decepcionar os teus filhos.