Homilia - 25/08/2024 - XXI Domingo do Tempo Comum
No início da nossa reflexão dos textos da Palavra de Deus, permitam fazer algumas perguntas:
- Onde você quer chegar com a sua vida?
- Para onde estão voltados seus olhos?
- Qual é a direção de sua vida?
Vejo as pessoas andando pelas ruas, levantando de manhã e se dirigindo para o trabalho. Vejo aquela multidão de gente vindo dos bairros da cidade para o centro, enfrentando aquele congestionamento de carros na ponte. E a mesma coisa vejo à noite, todos voltando para casa, cansados, e debulhando os problemas que apareceram, todas as coisas que não deram certas.
Vejo as pessoas casarem, viverem numa família, veja muitos casais jovens vivendo juntos sem compromisso sério para o futuro, vejo as pessoas se divertirem, chorando e rindo vejo as pessoas tendo seus amigos e amigas e com esses amigos tentando passar os dias de sua vida...
Vejo as pessoas lutarem para amontoar bens materiais, sonhando com uma segurança econômica, gastando sua saúde e seu tempo em coisas muito passageiras, coisas até fúteis...
- Onde as pessoas querem chegar com tudo isso? - Com o vai-e-vem de todo o dia, com os anos que passam, com o físico que se gasta? - Qual é a direção de tudo isso?
Vejo o avanço das igrejas pentecostais e o ressurgimento de outras formas religiosas, entre os quais o bruxismo, a magia negra e correntes que misturam elementos da cultura e da mística oriental. As pessoas buscam se filiar a grupos religiosos que mais lhes convêm, passam de um grupo para outro sem estabelecer vinculo.
No texto do Evangelho, Pedro faz uma pergunta: “A quem iremos nós?”. Esta é, também, para nós uma questão de opção: Com quem vamos ficar? De que lado você quer ficar? Com quem queremos ir?
Na leitura do Livro de Josué (Js 24, 1-2a. 15-17. 17. 18b), o profeta põe o povo diante de uma escolha: A quem vocês querem servir: ao Senhor que nos tirou da escravidão no Egito ou querem servir a outros deuses? Não dá para ficar “em cima do muro”. Josué já fez sua opção, mas não a impõe. Isso não seria uma resposta do coração, mas uma submissão à vontade do chefe. A resposta do povo não se fez esperar: o povo escolhe aquele que o tirou das mãos dos egípcios.
No Evangelho, Jesus conclui seu grande discurso sobre o pão da vida. Vem, então, a reação dos discípulos: como os demais, eles também “murmuram” contra as palavras de Jesus. Eles estavam escandalizados pelo que ele estava dizendo. Acham que são palavras “duras demais”, isto é, são difíceis de “engolir”. Daí são palavras difíceis de se viver na prática. Desse jeito, não vale a pena segui-lo. Jesus os deixa ainda mais perplexos quando fala da sua Ressurreição: “Isto vos escandaliza? E quando virdes o Filho do
Homem subir aonde estava antes”. Logo em seguida, Jesus dá o “golpe final”: está desmascarando aqueles que estão ali mas não crêem. São os que apenas “encheram a barriga”, mas não “viram os sinais”. A crise provocada pelas palavras de Jesus revela a inconsistência de muitos que estão ali só por estar, ou só por interesse, sem adesão do coração.
Assim, muitos voltam para casa. Não querem comprometer-se com Jesus, porque sua mensagem ‘’é exigente demais”. Então Jesus volta para os que ficaram, os Doze, e os questiona: “Não quereis também ir embora?”. A pergunta é radical. Jesus não pede que eles fiquem. Não espera que as pessoas o sigam apenas por causa dos outros.
A resposta vem pela boca de Pedro. Ele faz uma bonita profissão de fé: “Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que Tu és o Santo de Deus”.
Ouvindo estas palavras de Pedro, nós já fizemos esta profissão de fé? A decisão de ficar com Jesus “prá valer” não vem, em primeiro lugar, do intelecto, do estudo ou do conhecimento da doutrina. É claro que em nosso processo de formação cristã precisamos estudar a Bíblia, conhecer a doutrina da nossa Igreja, ler livros e documentos que ajudam a esclarecer a nossa fé.
O ato de crer, porém, não nasce simplesmente da aquisição de informações sobre a pessoa de Jesus Cristo. A fé nasce de um encontro afetivo que nos leva ao compromisso de vida com Cristo. Poderíamos dizer que a fé nasce do coração, não da cabeça.
Há muitos cristãos e cristãs que vivem com superficialidade a sua fé. Não querem um compromisso real com Jesus. São acomodados ou vivem a religião de modo interesseiro. Aqui no espaço religioso se mostram muito piedosos. Mas fora dele, na família, no trabalho, na rua, na sociedade, esquecem-se facilmente do que ouviram e celebraram. Vivem até uma certa ruptura entre fé e vida: creio com reservas e só coloco em prática aquilo que me convém, é a regra de muitos que se dizem cristãos.
Jesus deseja ter discípulos convictos, dispostos a segui-lo até a cruz. Ele não está interessado naqueles que só o buscam para satisfazer suas necessidades materiais. A facilidade com que muitos hoje mudam de religião ou simplesmente deixam de frequentar a própria Igreja revela uma falta de convicção e de profunda fé dessas pessoas. De um dia para outro deixam de crer naquilo que aprenderam no colo de suas mães e ainda zombam dos que permanecem na fé de seus pais.
Não devemos, contudo, condenar essas pessoas. Muitas vezes, nós mesmos, como Igreja, precisamos nos penitenciar porque não os acolhemos de forma mais efetiva, não os preparamos para viver um cristianismo engajado e comprometido, limitando-nos a lhes ensinar o cumprimento de alguns preceitos religiosos. Não sabemos, muitas vezes dar respostas adequadas às angústias das pessoas.
Nós mesmos somos todos humanos e inseguros. Queremos abandonar o Cristo que se revela no rosto dos irmãos marginalizados. Preferimos seguir o Cristo que faz milagres e rejeitamos o Cristo quando ele nos diz verdades que nos incomodam e nos convida a abraçar as cruzes cotidianas.