Homilia - 02/12/2012 - 1º Domingo do Advento
Hoje, é o primeiro Domingo do Advento. O primeiro Domingo do Advento é o primeiro dia do novo ano litúrgico. É a ocasião para desejarmos “Feliz Ano Novo em Cristo”. O novo início é marcado pela cor roxa na celebração, símbolo da espera. Em muitas casas e igrejas, a coroa do advento simboliza a atitude de espera, acendendo a cada semana uma das quatro velas, é a luz que ilumina a caminhada cristã em direção ao Natal de Cristo. Muitas comunidades marcam esta espera com novenas e orações. A vinda de Jesus está próxima. Apenas quatro semanas nos separam do Natal, a festa do nascimento de Jesus.
No entanto, não podemos entender o tempo do advento apenas como preparação para o Natal. Seria uma visão parcial. É fácil perceber nos textos da liturgia de hoje que não existe nenhum tema relacionado ao Natal, porque o objetivo desta celebração é anunciar a plenitude da Salvação divina, quando Jesus voltar, em sua 2ª vinda.
O evangelho de hoje nos descreve em termos simbólicos uma situação à primeira vista apavorante. Fala de transtornos nos astros, forças do céu abaladas, mar enfurecido como nunca se viu, pavor e angústia entre os povos, desmaios de medo: fim do mundo! Mas, será que não há uma saída desta situação pavorosa para a humanidade amada por Deus?
O profeta Jeremias, na primeira leitura, fala da esperança de um futuro novo, de justiça e salvação. Jeremias viveu, precisamente, num período em que, por causa da corrupção e injustiça presente em todos os setores da sociedade (sobretudo entre os governantes!), a nação judaica havia sofrido uma derrota terrível: foi parar no exílio. O profeta então sente Deus dizendo palavras de esperança: “Farei brotar de Davi a semente da justiça que fará valer o direito e a justiça na terra”.
Sentimos que esta voz de Deus é também dirigida a nós que vivemos muitas vezes em situações “catastróficas”: acidentes, doenças, morte repentina e prematura, guerras cruéis, surpresas apavorantes com cheiro de “fim do mundo”. Por isso, pedimos no Salmo 25: “Vem, Senhor, nos salvar! Vem, sem demora, nos dar a Paz!”.
Qual é a resposta de Deus? O que Deus está querendo nos dizer hoje, neste primeiro domingo de Advento?
O evangelho fala da 2ª.vinda, como um dia feliz para nós. Um dia de levantarmos a cabeça, pois a nossa libertação está próxima!
Numa leitura atenta do nosso Evangelho, podemos perceber que não se fala apenas da segunda vinda do Filho do Homem, mas se descreve a repercussão dela sobre as pessoas. Por um lado, temos as pessoas que vivem sem fé, e do outro lado temos as pessoas que têm fé. Para os que vivem sem fé, os sinais do sol, na lua e nas estrelas provocam desmaios de medo, “porque as forças do céu serão abaladas”. Os que crêem no Cristo Ressuscitado, “verão o Filho do Homem vindo com grande poder e glória”; levantarão a cabeça porque sentem a libertação próxima.
No entanto, Jesus nos adverte que devamos ser vigilantes. Outro dia, andando por uma rua, observei como a mãe se despediu do filhinho que ia à escola: “Cuidado na rua, filho, olhe o trânsito!”. Jesus quer nos avisar da mesma forma para que, em nossa caminhada, não tropecemos: “Não fiquem se embriagando...”; “Ficai atentos e orai a todo momento...”. Parece que Jesus tem maior preocupação conosco do que nós mesmos.
“Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis!”. O que pode tornar insensível o nosso coração? Jesus dá alguns exemplos: “as preocupações da vida”, isto é preocupação com coisas que têm menos valor, uma ligação excessiva a bens materiais. Que não nos tornemos escravos de nossos próprios desejos e impulsos dos nossos instintos que nos podem levar a vícios dominantes.
Quando recomenda cautela (“tomai cuidado” – “ficai atentos”) com certas atitudes, Jesus tem em vista a nossa salvação, a nossa realização pessoal. Ele nos quer realizados, “em pé diante do Filho do Homem”, como diz o Evangelho.
Para quem, portanto, leva uma vida equilibrada, o dia da vinda do Senhor será a realização de um grande sonho, é o feliz desfecho de uma caminhada toda marcada de esperanças. Este dia não é um dia para termos medo, mas sim para levantarmos a cabeça! Já para quem passa a vida andando na contramão do caminho de Jesus, só se pode esperar o pior: vai bater de frente com o Cristo que vem! Assim, quem não anda na direção de Jesus, inevitavelmente irá se chocar com ele. É como um motorista que insiste em trafegar na contramão da estrada: uma hora vai bater de frente com outro veiculo, causando um terrível acidente.
No início deste tempo do Advento, somos chamados à vigilância. Vem vindo aquele que sempre vem, e a nossa atitude fundamental é vigiar, é estar ativamente à espera do Senhor. Não nos deixemos levar pelo desânimo por causa de nossas derrotas, fracassos ou desilusões. Que estes dias antes do Natal sejam dias de crescimento pessoal e espiritual.
Na carta que ouvimos como segunda leitura, Paulo está contente com a comunidade de Tessalônica. A comunidade está indo bem. Mas o caminho cristão é sempre na direção do crescimento, do aperfeiçoamento e progresso na fidelidade a Deus. E Paulo reza pela comunidade: “O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais...!”
É por amor que esse mundo novo nasceu na manhã da Páscoa, e é no amor que um mundo novo pode desenvolver-se e crescer.
O exegeta francês Jean Debruynne escreve: “Aí está a verdadeira Boa Nova, aí está o verdadeiro caminho da vinda de Jesus. Não é o caminho das ruínas, das angústias e do caos, é o caminho do homem de pé, do homem acordado, do homem rezando como um vigia. Jesus vem. Ele não vem somente numa manjedoura, ele vem no coração das nossas realidades, mesmo se elas têm o sabor da desgraça. Jesus vem porque ele está já no coração da nossa vida. Nada, nem mesmo o medo, pode arrebatá-lo”.
Que a fé no Cristo que veio, que vem e que virá seja a razão de nossa esperança, de nosso sonho de um mundo de paz, de harmonia, de felicidade para todos.
Que Deus nos ajude na preparação para a vinda do Senhor!