Homilia - 09/12/2012 - 2º Domingo do Advento
Faleceu nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro, aos 104 anos, Oscar Niemeyer, o nome-símbolo da arquitetura moderna e um dos brasileiros mais conhecidos no mundo. As obras do arquiteto incluem monumentos, igrejas e esculturas espalhadas por países do mundo inteiro. Falou-se muito da construção de Brasília e de outras obras criadas pelo artista em grandes cidades de nosso País.
Lembrei-me de uma história criada para crianças chamada “A cidade feliz”. Nela, um rei, preocupado com a violência e os perigos de um centro urbano, manda emissários pelo mundo para descobrir maneiras eficientes de organizar uma cidade com segurança interna. Um deles volta dizendo que encontrou a resposta numa das cidades visitadas. O rei pergunta pela grossura das muralhas de tal cidade, pelo treinamento da polícia, pelos alarmes e equipamentos de segurança. O emissário diz que a cidade-modelo visitada não tem nada disso: é aberta, sem muros, sem armas, e a polícia serve só para organizar a movimentação de pessoas, orientar e socorrer gente em emergências. O equipamento de segurança da cidade era uma só: pessoas felizes e solidárias, que cuidavam bem umas das outras e não davam espaço para o mal acontecer.
É só uma história para crianças? Ou é um retrato do projeto de Deus para todos? Deus não projetou obras arquitetônicas, mas fez um projeto da felicidade e salvação da humanidade.
O profeta Baruc, na primeira leitura, consola o povo, dizendo que Jerusalém, a capital dos judeus, pode se preparar para tirar o luto, porque o esplendor de Deus se manifestará. A cidade de Jerusalém, símbolo da glória de Deus, recebe no texto um nome igualmente simbólico: “Paz-da-justiça”. A paz é, ao mesmo tempo, dom e conquista: ela vem de Deus, doador de todas as graças, mas só acontece quando se vive a justiça.
Os moradores dos confortáveis condomínios fechados das grandes cidades vivem felizes ou com medo buscando solução para escapar à violência? Numa pesquisa feita em diversas cidades sobre as prioridades que os prefeitos devem considerar em primeiro lugar quando assumirem a administração do município, em todas as respostas, encontramos SAÚDE E SEGURANÇA.
Enquanto nossa sociedade continuar alimentando a injustiça e a violência, não vamos conseguir viver num oásis de paz.
Aí ouvimos uma voz no deserto de João Batista que nos convida a mudarmos nossas atitudes:
“Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas” (Lc 3,4) São palavras que desafiam, palavras que traduzem a urgência do tempo em que viveu João Batista e também do nosso tempo.
O que faremos para preparar o caminho do Senhor?
Sobra pouco tempo para fazermos isto, com tanta preocupação neste final de ano, muita preocupação com a preparação da festa de Natal, com as compras de presentes que acabam nos absorvendo...
É justamente neste clima, que João, o precursor, vem do deserto, como uma “voz que clama e convoca”. Sua convocação tem uma finalidade bem clara: trata-se de preparar o caminho do Senhor, de criar condições para que o Reino chegue, o reino de justiça, fraternidade e amor.
Preparar o caminho do Senhor, então, é muito mais do que arrumar a casa para a festa, ou comprar roupa nova, é começar a assumir novas atitudes, é festejar o aniversário do Filho de Deus através de conversão e mudança de vida.
Na segunda leitura Paulo reza e faz um pedido a Deus que aumente ainda mais a caridade dos filipenses: “Isto peço a Deus: que o vosso amor cresça sempre mais”. Isso mostra que a comunidade e as pessoas nunca podem achar que já fizeram tudo e já atingiram o grau máximo da perfeição. Sempre podemos crescer mais, melhorar em algum ponto. Essa vivência da caridade, do amor-solidariedade, é fundamental para que possamos aguardar o dia da vinda de Cristo. Em outras palavras, é vivendo o amor-solidariedade que nos preparamos para o grande encontro com o Senhor que vem.
Lucas nos apresenta no texto do Evangelho João Batista ”pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados”.
Não gostamos muito de ouvir falar em conversão, penitência, perdão dos pecados. Preferimos as palavras de Isaías que fala em “preparar o caminho, endireitar as veredas, aterrar os vales...”. De que se trata?
Trata-se de preparar os caminhos de Jesus, ou seja, preparar-nos para podermos receber o Filho de Deus. Isso significa preparar a nossa vida, tornando-a uma vida reta, justa, santa para podermos esperar a vinda de Jesus.
Endireitar os caminhos: Colinas ou montes e vales representam hoje os altos e baixos da nossa personalidade. Um dia estamos com Deus, e no outro dia o expulsamos de nós com os pecados que cometemos. João nos exorta a parar com essa duplicidade de nossa vida.
Os buracos representam a nossa falta de coragem para dar testemunho, para anunciar a palavra de Deus ao mundo, etc.
Caminhos tortuosos são os nossos vacilos de fé. São as vezes em que nos desviamos do caminho verdadeiro e nos perdemos em caminhos errados que nos afastam de Deus. É o que vem acontecendo com a nossa juventude hoje. Nossos jovens estão sendo arrastados para o caminho do mal, o caminho da perdição, da violência, da falsa felicidade proporcionada pelas drogas.
A pergunta é: o que podemos e devemos fazer?
No seu pedido a Deus, Paulo acrescenta: “...para discernirdes o que é melhor!”.
Assim, este segundo domingo do Advento é um convite a avaliarmos o ano de 2012.
Perguntemos: Que passos conseguimos dar em direção ao Senhor que vem ao nosso encontro? Que novas atitudes conseguimos assumir? Que iniciativas tomamos ao longo deste ano para que houvesse mais diálogo, fraternidade e amor em nossa família, ambiente de trabalho e em nossa comunidade?
Que a festa do Natal deste ano não seja um espetáculo de desperdício, de aumento do lixo do embrulho dos presentes, de desprezo pela vida ferida dos amados de Deus, mas que aconteça em cada um de nós o milagre do nascimento do Menino-Deus. Que neste Natal sejamos nós mesmos o presente para os outros fazendo crescer as relações de fraternidade e de amor. Se cada um de nós fizer isto, se cada um de nós for colaborador de Deus na execução do seu projeto, nossa cidade poderá receber de Deus o título: “Cidade da Paz-da- justiça”; e todos nós teremos um Natal feliz!