Homilia - 06/01/2013 - Epifania do Senhor
Hoje, celebramos a festa da Epifania: essa palavra estranha vem do grego e significa "manifestação”. Mas, que manifestação é esta? Deus se manifesta a todos os povos através de Jesus. Ele é o SALVADOR que veio para todos os povos e nações.
Quem eram essas pessoas de que fala o Evangelho? O evangelho de hoje nos fala de que “vieram alguns magos do oriente”. Sempre se diz que eram reis, que eram três, que vinham: um da África, um da Ásia e um da Europa.
É certo que o Evangelho não diz que são reis, nem que são três e não cita seus nomes, tão populares entre nós: Gaspar, Melchior e Baltasar. Evidentemente, trata-se de lendas. Mas, que importa?
Estes magos vieram da Babilônia e pertenciam à classe de pessoas ilustres e estudiosos. Certamente liam as Escrituras judaicas e sabiam da chegada do Messias. A terra onde viviam era a terra do Profeta Daniel e, sem dúvida, conheciam a profecia da vinda do Messias.
O que levou estes homens a virem de tão longe e por quê deixaram o rei Herodes tão preocupado?
As coisas não aconteceram por acaso. Os magos não vieram sozinhos, vieram com uma grande comitiva. A chegada dos magos trouxe uma grande movimentação para a cidade. Esta comitiva espalhou a notícia do nascimento de Jesus.
“Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer?”. Esta pergunta dos magos levantou suspeitas no rei Herodes. Este era um homem poderoso que abusava do seu poder em todos os sentidos. Agora, ele fica com medo. Medo de perder algo do seu poder, de sua riqueza e da sua vida boa.
O desejo de encontrar o rei recém-nascido colocou os magos a caminho.
“E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino” (Mt 29).
Os magos seguem a indicação da estrela e chegam a Belém, e é lá “onde o menino está”. Eles encontraram o seu rei! O encontro na manjedoura onde acham uma criança muda radicalmente a vida deles.
Embora tenham visitado o palácio de um suposto rei, eles perceberam mais tarde que aquilo era apenas a aparência passageira dos reinos humanos. O verdadeiro Rei de Israel se encontrava numa simples manjedoura, nos braços de sua pobre mãe e ao lado do humilde José. Uma criança pobre e frágil não parecia a manifestação mais apropriada da salvação que Deus traria a Israel, mas foi ali que na humildade de uma criança Deus se manifestou.
O evangelista Mateus faz questão de sublinhar o fato de os magos terem vindo do Oriente, isto é, não são judeus.
A salvação é para todos, afirma São Paulo na Carta de São Paulo aos Efésios (segunda leitura) quando diz: “os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo e participantes da Promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho” (Ef 3,6).
Jesus veio para todos nós: para os jovens e os idosos, para os intelectuais e os sem estudo, para as pessoas de qualquer cor e de qualquer estilo de vida. Ele veio para nos mostrar Deus como Nosso Pai, veio para ser uma Luz para a nossa vida.
Sim, Deus vem para todos: para mim e para cada um de meus irmãos. Como posso, então, olhar para meus irmãos como competidores, como inimigos, como pessoas que me incomodam? Se Jesus veio para a minha salvação e veio igualmente para a salvação do meu irmão, como pode haver no meu coração outra coisa além de amor e gratidão? Esta é a realidade última à qual todos nós deveríamos estar atentos: o mundo é sustentado por um Deus que é Amor, que, por Amor, não hesitou em se fazer pequenino, pobre e indefeso.
Poucos dias atrás festejamos o nascimento do nosso Salvador. Ao dizer do Profeta Isaías “Levanta-te, acende as luzes, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor” (Is 60,1-6. Ainda, estamos vendo a luz que brilhou naquela “noite feliz”? Ainda, estamos seguindo aquela luz?
Jesus é a luz divina que brilha entre nós. É assim que encontramos a primeira conseqüência prática para nós e para nossas vidas: quem caminha com Jesus tem sua vida iluminada. Quem coloca Jesus em sua vida torna-se uma pessoa iluminada pela luz de Deus.
Não nos deixemos enganar pelas aparências. Multidões se extasiavam, há poucos dias, diante do espetáculo de luz que marcou a passagem do ano. Do brilho da luz que irrompia na explosão dos fogos sobrou apenas uma nuvem de fumaça, e da alegria vibrante das pessoas sobraram apenas o cansaço e toneladas de lixo.
Sejamos realistas! As luzes deste mundo são fugazes. Quem acompanha o noticiário, conhece as dificuldades e o caos que está vivendo a Europa, os Estados Unidos e outros países com a crise financeira. Cabe, para aqueles países em crise, a palavra de Isaías, na 1ª leitura: “Eis que a terra está envolvida em trevas e nuvens escuras cobrem os povos” (Is 60,2). A luz financeira está sendo apagada, a luz do materialismo e do consumismo parece que se apaga cada vez mais, a luz do progresso científico e econômico, que tem comandado o mundo, está perdendo o brilho.
Podemos afirmar, sem medo de errar, que nossa sociedade está ficando cada vez mais escura porque estamos colocando Deus de lado. As drogas escurecem a sociedade, a violência, a falta de respeito, a desigualdade social, o medo que temos pela falta de segurança, são resultados de uma sociedade escurecida... falta a Luz de Deus.
Hoje, devemos nos perguntar: — que luz brilha em minha vida? Ou então, de modo mais radical, a gente se deve perguntar: — o jeito que eu vivo acende ou apaga a luz de Deus? A bondade, a fraternidade, a honestidade, o respeito pelo outro... são comportamentos que acendem a luz divina entre nós. Brigas, grosserias, desrespeito, corrupção, busca de prazer desenfreado, egoísmo, vícios, desunião na comunidade apagam a Luz de Deus em nós e em nosso meio.
Em resumo: eu estou acendendo ou apagando a Luz de Deus no mundo? Eu estou acendendo ou apagando a luz de Deus na comunidade, na família, no meu trabalho...?
Que Deus nos ilumine hoje e sempre com a sua graça. Que a sua Luz brilhe em todas as nossas ações. As grandes e as pequenas. Que a Estrela da Fé nos conduza ao Presépio, à manjedoura. Foi lá que Jesus nasceu. Foi lá que a Luz se manifestou aos Magos e a nós. É lá que encontramos a Luz que não se apaga, a nossa salvação.
Amando-nos mutuamente seremos o que Deus quer que sejamos. Assim, só assim, a Epifania do Cristo acontece em nossa vida e no nosso mundo!
Frei Gunther Max Walzer, ofm