Homilia - 17/03/2013 - 5º Domingo da Quaresma
A eleição do Papa Francisco repercutiu mundo afora por todos os meios de comunicação. Jornais, revistas, noticiários destacaram, em suas manchetes principais, a eleição do novo Sumo Pontífice. Em todas as redes sociais aparecem fotos, vídeos e curiosidades sobre a pessoa de Jorge Mario Bergoglio.
Certamente, o Papa Francisco será um papa diferente dos outros.
Na sua primeira missa depois de eleito, ressaltou que a Igreja não se esquecesse de sua missão primordial que é proclamar a mensagem de Jesus Cristo. "Se não nos confessarmos a Cristo, o que seremos?", questionou. "Terminaríamos como uma ONG caridosa”.
“Professar Jesus Cristo” deve ser o programa de vida de cada cristão. Ter os mesmos sentimentos de Jesus, ter as mesmas atitudes de Jesus. Uma das atitudes mais marcantes de Jesus é sua misericórdia.
Hoje, o Papa Francisco celebrou a missa dominical na igreja da Paróquia Sant´Ana (Vaticano) e disse na homilia: “Digo humildemente, para mim, a mensagem mais forte do Senhor é a misericórdia. Acredito que às vezes, nós somos como este povo, que por um lado, quer ouvir Jesus, mas por outro, gosta de criticar ou condenar os outros”.
É disso que nos fala o Evangelho de hoje.
Com certeza, vocês concordam comigo, que é muito triste vendo como certas pessoas tratam as outras. Só descobrem defeitos, só criticam, fazem comentários maldosos dos outros. Falam do que não sabem nem viram: nem sabem do que estão falando. Mentem, caluniam, difamam. No entanto, não julguemos os outros, pois todos nós temos a tentação de carregar pedras no bolso para atirar nos outros. Temos o mau costume de acusar os outros para dizer que somos melhores.
Jesus foi duro quando tocou nesse assunto. O Evangelho de hoje, o episódio da adultera, nos faz repensar as nossas atitudes e julgamentos
O Evangelho nos conta, que uma mulher cometeu adultério. Arrastaram essa mulher pecadora até Jesus e perguntaram: “Mestre, a Lei manda apedrejar mulheres como esta: tu o que dizes”?
A mulher já está condenada. A situação é dramática: os fariseus estão tensos, a mulher angustiada, as pessoas esperam uma resposta de Jesus. Ele guarda um silêncio surpreendente. Tem diante de si aquela mulher humilhada, condenada por todos. Será executada. É esta a última palavra de Deus sobre esta filha Sua?
Jesus não respondeu. Começou a rabiscar no chão. Os acusadores pedem-lhe uma resposta em nome da Lei. E Jesus consegue sair-se bem, sem condenar nem desculpar a atitude da mulher, diz: “Quem dentre vós não tiver pecado atire a primeira pedra”.
E então aqueles "cumpridores" da lei, envergonhados, tinham sido desmascarados, apareceu sua hipocrisia, abaixaram os olhos e foram embora. Só ficaram no pátio do templo a mulher, os discípulos e ele, Jesus. Então Jesus perguntou: "Mulher, ninguém te condenou? Nem eu também não te condeno... Vai e não peques mais..."
Jesus reconhece que a mulher, de fato, havia cometido um pecado. E chama atenção dela: “Não peques mais!” Mas a maneira como ele trata a mulher era diferente: ele tinha misericórdia. Ele acredita na possibilidade de aquela mulher mudar de vida.
Escrevendo aos filipenses – segunda leitura -, Paulo fala da própria experiência de estar olhando sempre para frente: “Não estou querendo dizer que já consegui tudo o que quero ou que já fiquei perfeito, mas continuo a correr para conquistar o prêmio” (Fl 3,12). O apóstolo Paulo olha para o futuro com a perspectiva de melhorar: “É claro, irmãos, que não penso que já consegui isso, porém, uma coisa eu faço: esqueço aquilo que fica para trás e me lanço para o que está na minha frente” (Fl 3,13).
Paulo, portanto, não se apega ao passado, ao que eventualmente possa ter feito de errado. Paulo, como Jesus, nos ensina que não adianta remoer os pecados do passado. O que importa é sentir-se perdoado e ir adiante e “não pecar mais”.
E, em relação aos outros: Jesus nos ensina a misericórdia.
É preciso acreditar no outro, mesmo que ele tenha falhado. É necessário continuar apostando que as pessoas podem mudar, podem se tornar melhores. Ninguém está predestinado a ser ruim a vida toda.
Como Deus é misericordioso conosco, também nós, uns com os outros, devemos ser misericordiosos. Quem ama perdoa, quem não ama também não perdoa. Quem ama sempre pratica a reconciliação, o perdão, a generosidade.
É um contra-senso querendo ser juízes uns dos outros.
Neste momento, sentimos Jesus falando baixinho e com muita ternura ao nosso coração: “Eu estou aqui, e dou a você o meu perdão. Pois eu vim salvar o que estava perdido. E você, vá e perdoe também a seus irmãos, não viva de pedra na mão como se tivesse o direito de julgar os outros”.
Temos um novo Papa. É tempo novo para a Igreja! A JMJ se aproxima! Na Oração da Cf-2013 rezamos: “Nos desafios deste mundo, tornai-nos missionários a serviço da juventude”. E com palavras novas, jeito novo, ousadia nova, caminhos novos queremos proclamar a Vida de Jesus Cristo e o Reino por Ele anunciado. “Ide e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt 28,19) é o lema da Jornada Mundial da Juventude.
Como podemos ser missionários a serviço da juventude?
Devo confessar que me sinto um pouco constrangido ao cantar o Hino da CF: “Estou aqui, meu Senhor, sou jovem, sou teu povo”.
Lembro-me das palavras do Papa Francisco, em sua primeira audiência com todos os cardeais: “A metade de nós está em idade avançada: a velhice é – gosto de dizê-lo assim – a sede da sabedoria da vida. Os idosos têm a sabedoria de ter caminhado na vida, como o velho Simeão, como a idosa Ana no Templo. E justamente aquela sabedoria fez com que eles reconhecessem Jesus. Entreguemos esta sabedoria aos jovens!”.
Sem dúvida alguma, hoje aprendemos como esta sabedoria se pode manifestar no convívio com os jovens. Jamais joguemos pedras! Nossa tendência é achar que as pessoas ou os jovens mudarão de vida se formos duros e exigentes com eles. Mas o que leva mesmo a alguém mudar de vida é o amor, que tem suas exigências, mas nada tem a ver com cobranças moralistas. O modo como o manifestemos pode ser diferente em cada situação, mas se for verdadeiro e autêntico, trará sempre consigo a conversão.
Louvemos a Deus, porque se manifestou em Jesus Cristo cheio de bondade e misericórdia para conosco.
Hoje, na oração do “Angelus”, o Papa Francisco encerrou sua alocução, dizendo: “O Senhor não se cansará de perdoar: jamais. Somos nós que nos cansamos de Lhe pedir perdão. Pedimos a graça de não nos cansarmos de pedir perdão”.
E que o Espírito Santo de Deus nos ilumine para que possamos crescer sempre mais na misericórdia, humildade e no acolhimento dos irmãos, principalmente no acolhimento dos jovens.
Caminhemos para a Páscoa com este propósito!
Frei Gunther Max Walzer, Ofm