Homilia - 07/04/2013 - 2º Domingo da Páscoa
Neste segundo Domingo da Páscoa poderíamos colocar como título de nossa reflexão uma pergunta: “É preciso ver para crer?”.
Só quem tem problema com a visão sabe como é importante poder ver. Temos uma grande necessidade de VER: imagens, pessoas, coisas, retratos, televisão, vídeos. Muitos de nós não se contentam apenas em “ver com os olhos”. Como as crianças, precisamos tocar, pegar nas coisas para ver. Mas, será que podemos acreditar em tudo o que vemos?
Atualmente, pelos recursos da tecnologia, sabemos que muito do que “vemos” na televisão e no cinema não é real: são montagens, jogos de cenas, truques de computação. São arranjos tão bem feitos que nos fazem “ver” como real o que é, na verdade, fictício. Assim, quem diz: “só acredito vendo”, pode ainda duvidar daquilo que vê. Parece que já respondemos à pergunta inicial da nossa meditação.
As leituras de hoje nos ajudam a superar esta necessidade de “ver para crer”.
Vamos recordar brevemente o que aconteceu naquele “primeiro dia da semana”. Neste dia, cedinho, a sepultura de Jesus foi encontrada vazia, como vimos no domingo passado. Jesus havia ressuscitado.
À tarde deste mesmo dia, os discípulos de Jesus estavam reunidos. Provavelmente estavam comentando o que havia acontecido e estava acontecendo. Tratava-se de uma reunião meio clandestina, a portas fechadas, pois estavam com medo de serem presos também e, quem sabe, estavam correndo risco de vida.
De repente, quem eles vêem? Sem a porta se abrir, o próprio Jesus aparece ali no meio deles, saudando a todos, dizendo: “A paz esteja com vocês!”. Então ele provou que era ele mesmo, mostrando-lhes as mãos e o lado... Os discípulos ficaram muito alegres, pois estavam vendo o próprio Jesus, que os saudou pela segunda vez: “A paz esteja com vocês”, e ainda acrescentou: ”Como o Pai me enviou, também eu envio vocês”. Então Jesus soprou sobre todos e disse: “Recebam o Espírito Santo. A quem vocês perdoarem os pecados, eles serão perdoados; a que os não perdoarem, eles lhes serão retidos”.
Tomé não estava nessa reunião. Quando lhe contaram que viram o Senhor, ele simplesmente não acreditou. “Só vendo eu mesmo é que eu acredito. Só acredito se eu puser o meu dedo nas marcas dos pregos de suas mãos, e se eu apalpar, com minha mão, o seu lado aberto pela lança”, respondeu ele.
Tomé é bem assim como a gente: Precisamos ver para crer. Necessitamos de sinais mais concretos; precisamos ver, pôr o dedo, tocar com as mãos.
Até podemos afirmar que a dúvida é uma característica do nosso tempo; questiona-se tudo e tudo tem que ter provas cientificas. Nós, como filhos do nosso tempo, com facilidade, podemo-nos identificar com Tomé. Quando os discípulos lhe contam a experiência do encontro com o Senhor, ele duvida, quer provas. Tomé poderia ser um homem dos nossos dias. E nós poderíamos ser seus descendentes. A sua resposta é clara: "Se eu não vir... eu não acreditarei" (Jo 20, 25).
A sua atitude é compreensível. Tomé não diz que os seus companheiros estão mentindo ou que estão enganados. Apenas afirma que o seu testemunho não lhe basta para ele acreditar. Ele necessita fazer a sua própria experiência.
Esta é a verdade: nada pode substituir a experiência de um contato pessoal com Cristo no fundo da própria consciência. Segundo o relato do Evangelho, oito dias depois, Jesus, novamente, aparece aos discípulos. Dessa vez Tomé também estava presente. Jesus não critica Tomé por causa de suas dúvidas, mostra-lhe as suas feridas e o convida a fazer a experiência física que para ele era tão necessária.
Mas Jesus o convida a dar um passo à frente, dizendo que a fé antecede o ver. Crer é uma forma de ver. É ver de outra maneira. Para Jesus a fé é uma bem-aventurança: “Bem-aventurados os que creram sem terem visto!”.
É o Espírito do Ressuscitado que possibilita crer. Ele nos abre os olhos da fé.
Foi com este Espírito que a comunidade manifestou ao mundo o Ressuscitado. O Espírito Santo envia a comunidade ao mundo como testemunha da presença do Ressuscitado. Na primeira leitura, ouvimos que “muitos sinais eram realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos”. Por isso, “crescia sempre mais o número dos que aderiam ao Senhor pela fé. Era uma multidão de homens e mulheres”.
Diante de tantos sinais de vida, todos louvavam o Senhor, como repetimos no Salmo de hoje: “Daí graças ao Senhor porque ele é bom; eterna é a sua misericórdia!”.
A grande lição para nós, hoje, é esta: é importante participar da comunidade para crescermos na fé em Jesus. Juntos fazemos a experiência da presença do Senhor no meio de nós, quando refletimos, oramos e, principalmente, quando celebramos a Eucaristia, ouvimos a Palavra do Senhor, nos comprometemos com Ele e realizamos sinais de vida.
Mesmo quando estamos separados, cada um nas suas atividades cotidianas, em casa, no trabalho, na escola, no lazer, enfim, em todos os momentos da nossa vida somos Comunidade-Presença do Senhor.
Hoje em dia, muitas pessoas dizem que não precisam da Igreja para viver sua fé. Dizem que a fé é assunto particular de cada um. Mas uma fé que não é celebrada, aprofundada e partilhada com outros é uma fé fraca e não vai longe. Quem deixa de freqüentar a comunidade, aos poucos, vai perdendo a fé, o vigor, a experiência de Deus.
A perda da fé não acontece de uma hora para a outra. Quando alguém se afasta da comunidade, dos sacramentos, da missa, da leitura da Sagrada Escritura começa a fechar ora uma janela, depois outra, até que a casa de sua vivência da fé está trancada com as portas fechadas e as dobradiças enferrujadas.
Deste encontro, em que comungamos o corpo ressuscitado do Senhor, saiamos daqui renovados para a nossa missão de cristãos, a missão de reconciliação e de paz, de saúde e vida plena.
Cultivemos a nossa fé! Como Tomé digamos sempre: “Creio, Senhor, mas aumentai minha fé!”
Que assim seja! Amém! Aleluia!
Frei Gunther Max Walzer, Ofm