Homilia - 14/04/2013 - 3º Domingo da Páscoa
A Páscoa continua. São cinqüenta dias para nos alegrarmos com a presença do Ressuscitado em nosso meio. Hoje, como acontece em todos os domingos, ouvimos mais uma vez o próprio Senhor nos falando, quando foram feitas as leituras. Vamos, primeiro, recordar brevemente o que ele nos falou, para, depois, mergulharmos mais fundo no sentido da mensagem.
Ainda traumatizados com a morte de Jesus, alguns discípulos foram pescar no lago de Tiberíades. Passaram a noite inteira pescando e nada de peixe. Quando já estava amanhecendo, alguém, lá da margem gritou: “Moços, vocês têm alguma coisa para comer?”. “Não”, responderam eles. “Então atirem a rede aí do lado direito de vocês, que vão pegar alguma coisa”, respondeu aquele homem estranho. Não reconheceram Jesus. Fizeram o que ele mandou fazer e pegaram tanto peixe que quase não conseguiram puxar a rede para fora.
Enquanto estava pescando, Jesus já havia preparado uma refeição: peixe assado e pão. Nenhum dos discípulos se atreveu a perguntar para Jesus: “Quem é você, afinal?”, pois sentiam que era ele mesmo que estava ali. Então Jesus distribuiu um pedaço de pão para cada um. A mesma coisa fez com o peixe assado.
Seus gestos são parecidos com a multiplicação dos pães e dos peixes (Jo 6,11). São também gestos da instituição da Eucaristia, na última ceia (Mc 14,22-23).
Neste encontro com Jesus ressuscitado, mais um episódio nos chama a atenção. Assim que acabaram de comer, Jesus insistiu por três vezes perguntando a Pedro: “Pedro, filho de João, eu sei que vocês todos me amam. Mas eu pergunto: Você, você me ama mais do que estes seus companheiros?”. “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”, respondeu Pedro, prontamente. E Jesus diz: “Apascenta os meus cordeiros”. Quando Jesus perguntou pela terceira vez, Pedro respondeu: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo”.
Depois, Jesus o chama formalmente para ser seu discípulo, dizendo-lhe: “Siga-me!”.
Como foi o seguimento dos discípulos? O trecho dos Atos que ouvimos hoje confirma que os discípulos de Jesus, liderados pelos apóstolos, com coragem anunciam a ressurreição de Jesus. O testemunho, porém, não é fácil. Como em certos processos, os réus procuram amedrontar as testemunhas, para que seus crimes não sejam revelados e eles não acabam condenados. Assim o Sinédrio, acusado de ter tramado a morte de Jesus, tenta calar a voz dos apóstolos. Os apóstolos até são espancados, mas eles não se dobram. E Pedro disse: “É preciso obedecer a Deus, antes que aos homens” (At 5,29).
Essa palavra de Pedro foi o conteúdo da homilia que o Papa Francisco fez na missa da quinta-feira passada:
“Obedecer a Deus – afirmou – é ouvir Deus, ter o coração aberto para caminhar pela estrada que Deus nos indica. A obediência a Deus é ouvir Deus.
Obedecer ao Senhor significa ouvir a sua voz, como fez Pedro, que, se dirigindo aos fariseus e aos escribas, disse: "Faço aquilo que me diz Jesus, não o que vocês querem que eu faça".
"Em nossa vida – acrescentou o Papa – ouvimos também coisas que não vêm de Jesus, que não vêm de Deus." "As nossas fraquezas, às vezes, nos levam por esse caminho" ou por outro percurso que prevê uma dúplice orientação, uma espécie de "vida dupla", alimentada por "aquilo que nos diz Jesus" e por "aquilo que nos indica o mundo".
Mas o que acontece – perguntou o Pontífice – quando ouvimos Jesus? Às vezes, aqueles que fazem a outra proposta, ligada às coisas do mundo, "ficam furiosos" e o caminho acaba na perseguição.
Muitos ouvem o que Jesus lhes pede, muitos são perseguidos. Muitos com a sua vida testemunham a vontade de obedecer a Deus, de percorrer o caminho que Jesus lhes indica.”
Depois de termos mencionado as palavras significativas da meditação do Papa Francisco, quero lembrar que o Evangelho não foi escrito apenas para recordar os encontros dos apóstolos com o Senhor Ressuscitado. Como o Pai enviou Jesus, e este enviou os apóstolos, hoje ainda o Espírito Santo e os sucessores dos Apóstolos nos enviam em missão, a “pescar”. E o próprio Cristo continua presente, vivo, no meio de nós, alimentando nossa fé com o pão da sua Palavra e da Eucaristia. Ele nos chama, cada domingo, a sentar com Ele e nos convida: “Vinde comer”.
Outra imagem do apostolado, a imagem do bom pastor, é evocada espontaneamente por Jesus. “Apascenta as minhas ovelhas”. Aqui Pedro não é apenas o apóstolo investido de uma missão pessoal, especial. É antes o modelo do verdadeiro discípulo, que quer continuar a missão de Jesus, que é o verdadeiro pastor. É nosso modelo.
Grande seria o engano pensar que, na Igreja de Deus, apenas alguns têm responsabilidade “pastoral”. Mesmo se Cristo quis que alguns de seus discípulos exercessem uma tarefa especial, para serem sinais de unidade na comunidade e garantia de fidelidade ao ensinamento dos apóstolos, ninguém está isento da missão.
As perguntas feitas a Pedro são feitas a cada um de nós: “Tu me amas?”. Jesus nos pede conta da nossa responsabilidade também.
A “ação pastoral” não é reservada apenas para alguns. Na Igreja de Cristo, cada um deve ter cuidado do bem dos irmãos. A Deus que nos pede conta do irmão, como responderemos? Tomamos conta dos nossos irmãos com o mesmo cuidado e o mesmo amor com que Deus cuida de todos nós, seus filhos?
Que nossos olhos se abram para percebermos sua presença amorosa em nossas lutas, nossos trabalhos e, porque não, também em nossos fracassos.
Nunca jamais deixemos de repetir a confissão de Pedro: “Senhor, tu sabes que eu te amo”.
Frei Gunther Max Walzer, Ofm