Homilia - 09/06/2013 - X Domingo do Tempo Comum
O Evangelho de hoje nos leva a uma cidade chamada Naim, situada a uns 10 km a sudeste de Nazaré. Jesus chega a essa vila, acompanhado por uma grande multidão, e encontra um cortejo levando um morto ao cemitério para o sepultamento. O morto era um jovem, filho único de uma viúva. No tempo de Jesus, as viúvas eram as pessoas mais fragilizadas, elas não tinham prestígio, não podiam administrar os bens deixados pelo marido e acabavam sendo exploradas, caindo na miséria.
Jesus percebeu a situação em que aquela viúva se encontrava: com o filho morto seriam sepultadas todas as expectativas de vida, de futuro, de poder ser feliz, enfim acabaram todas as esperanças da vida daquela mulher.
Assim compreendemos a compaixão de Jesus pela mulher que está chorando a morte de seu filho. “Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: ‘Não chores!’” (Lc 7,13). Os carregadores do esquife param e ele diz ao jovem morto, como se estivesse vivo: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te” (Lc 7,14). O jovem senta-se e começa a falar.
Jesus, ao devolver o filho vivo à mãe, devolve-lhe também a esperança de poder tocar a vida em frente. Nesse sentido, a mãe também “ressuscitou”, porque o futuro da família voltou a sorrir.
Mas não só a mãe “ressuscitou”. A multidão também ressuscitou, pois, a primeira reação é a de medo, depois de louvor a Deus. A notícia se espalha a ponto de o fato e a fama de Jesus ficarem conhecidos em toda a Judéia e redondezas. Como o povo testemunhou: “Um grande profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar o seu povo (Lc 7,16).
O relato do Evangelho nos quer mostrar que a viúva, o órfão, o estrangeiro e gente sofredora têm uma proteção especial por parte de Deus. A primeira leitura também mostra isso, o profeta Elias se preocupa com a situação da viúva de Sarepta, desesperada porque morreu seu filho único. Ele ora a Deus e a vida volta ao menino.
Mesmo que os milagres de ressurreição da criança (1ª leitura) e do jovem (Evangelho) chamem toda atenção das leituras, não podemos parar nos sentimentos. O que deve chamar a nossa atenção neste episódio contado no Evangelho, não é o milagre em si, e sim, o que moveu Jesus a realizar aquele milagre, que foi a sua sensibilidade diante de uma pessoa que sofre, sua compaixão.
Devolvendo a vida ao filho daquela viúva, Jesus devolve a ela a sua dignidade, o seu sustento, poupando-a de ser mais uma vítima dos fariseus, acostumados a explorar as viúvas apoderando-se de tudo que de direito lhe pertencia.
Elias e Jesus são chamados de “grandes profetas” porque, não apenas anunciam a mensagem divina ao povo, mas trazem de volta a vida: derrotam a morte, param enterros e restituem a vida.
Diariamente, ouvimos notícias de mortes que fazem sofrer famílias, pais e mães, que estão chorando a morte injusta de seus filhos e filhas. São notícias que apavoram, porque podem nos acostumar a notícias de morte e, quando se fica acostumado, perde-se o instinto de revolta. Trata-se daquela revolta em favor da vida e contra toda forma de morte. Criou-se uma “cultura de morte”, no dizer do Papa emérito Bento XVI, que vai fazendo da morte, por vezes violenta e criminosa um dado corriqueiro, que se resume na frase: “é assim mesmo; o que você quer fazer?”
O encontro de Jesus com aquele cortejo, que caminhava para o cemitério, está bem próximo de nossa realidade social. Em nossas cidades existem muitos caminhos que levam ao cemitério. Vivemos numa realidade que assassina principalmente nossos jovens, que mata nossas crianças e que coloca nossa vida em constante risco. São os caminhos da violência, fomentados por drogas e pelo álcool; são caminhos da perda de valores, de jovens que não sabem mais distinguir entre o certo e o errado e, por não saber aonde ir, sentem prazer em colocar suas vidas no limite; arriscam-se em carros e motos em nossas rodovias e estradas e procuram compensar suas carências na droga. É dura nossa realidade: o Brasil ocupa o terceiro lugar em assassinatos de jovens no mundo.
São também caminhos de morte a crescente desestruturação em tantas famílias, que transformam suas casas em brigas, discussões, desilusões, depressão e muita violência que, não poucas vezes, também termina em morte.
Nós, discípulos-missionários, devemos colocar Deus no caminho de nossos jovens; devemos colocar Deus em nossas famílias. Como pode ser a presença de Deus em nossas casas através dos pais, dos avós, dos próprios jovens? Presença com uma dinâmica de ressurreição onde se cultiva e se aprende a importância da oração, do amor, da paz, da serenidade, do diálogo... onde se ensina o valor da vida e como é importante caminhar em caminhos que promovem mais vida.
Hoje, em sua alocução, durante a oração do Angelus na Praça de São Pedro, o Papa Francisco frisou que "a compaixão de Jesus não é somente um sentimento. Pelo contrário, é uma força que dá a vida, que ressuscita o homem!... Esta compaixão representa o amor de Deus para com o homem: trata-se da sua misericórdia, ou seja, a atitude de Deus em contato com a miséria humana, com a nossa indigência, o nosso sofrimento, a nossa angústia”.
Jesus nos deixa um grande ensinamento: Mais importante do que lamentar as mortes e as desgraças das pessoas, é ter sentimento de compaixão e cuidar daqueles que sofrem. Nossa compaixão nos deve levar a sofrer e chorar com quem sofre e chora. Um sorriso, um abraço, uma palavra de consolo ou um gesto de caridade terão a mesma força da palavra libertadora de Jesus, que consegue levantar quem se julga morto.
Mais importante do que dizer que Deus está presente nas horas difíceis, é preciso fazer que se sinta a presença de Deus. Como?Através da nossa solidariedade para com todos os que sofrem, Cristo se torna presente no meio de nós. Estes gestos concretos são sacramentos de vida e da visita de Deus ao seu povo. Ele quer continuar fazendo milagres de vida e ressurreição, quer estar presente, hoje, por meio de nós.
Frei Gunther Max Walzer, Ofm