Homilia - 23/06/2013 - XII Domingo do Tempo Comum
Multidões encontram-se nas manifestações e nas ruas das cidades do nosso país. Multidões da sociedade brasileira que estão manifestando seu descontentamento com a situação política e econômica em que se encontra o povo.
Multidões estavam seguindo Jesus e ele quis saber dos discípulos a opinião do povo a seu respeito: “Quem diz o povo que eu sou?” (Lc 9,18). Podemos ver multidões que se juntam em grandes estádios e igrejas enormes, delirando com o “Show de Jesus” que provoca “catarses coletivas”. O povo também procura Jesus em grandes templos querendo obter curas ou alívio de seus males e angústias. No nosso mundo um tanto paganizado, Jesus não passa de um grande filósofo, de um sábio, de um homem maravilhoso, pregador de grandes valores humanos.
Jesus queria saber a opinião do povo a seu respeito e os discípulos responderam: “Alguns acham que és João Batista que voltou, ou Elias, ou algum grande profeta que ressuscitou” (Lc 9,19). Pode-se perceber, nessas respostas, que Jesus é considerado como precursor daquele que o povo espera: o Ungido de Deus, o Messias. O Messias esperado pelo povo seria um rei poderoso, que venceria os inimigos, alguém que viria com majestade e grandeza. Para o povo daquela época, o Messias devia ser muito mais forte, triunfante e milagroso.
Jesus também queria saber, o que seus discípulos estavam pensando: “E vocês, quem dizem que eu sou?”. Pedro, em nome de todos, responde: “Tu és o Cristo, o Ungido de Deus, o Messias!”.
Agora, com essa resposta, está tudo resolvido? Não. Jesus reconhece que ele é o Filho do Homem. Mas o seu destino seria diferente daquilo que o povo estava esperando do Messias. Ele irá sofrer muito, será rejeitado pelos líderes religiosos, será morto cruelmente, e, no terceiro dia, ressuscitará.
Jesus, com estas palavras, colocou seus amigos diante de uma realidade difícil de compreender e que lhes pareceu cruel. Nem se deram conta que Jesus falou também em ressurreição! Podemos observar que, cada vez que Jesus fala do seu sofrimento, ele menciona a ressurreição, para vermos além da cruz.
E Jesus continuou: “Se vocês querem andar comigo, se querem me seguir, renunciem a si mesmos, tomem a sua cruz cada dia, e sigam-me.” Agora ficou mais difícil ainda. O que iriam decidir?
A primeira pergunta que fazemos é: o que significa tomar (ou carregar) a cruz? Há uma explicação óbvia: tomar a cruz significa carregar o sofrimento, assim como Jesus carregou a cruz à qual seria pendurado.
Lucas é o único evangelista que, às palavras de Jesus “tome sua cruz”, acrescenta: “cada dia”. Isto não significa que quem quer seguir Jesus deve carregar todo dia uma cruz pesada. O discípulo que quer seguir Jesus deve seguir e imitar Jesus na entrega de si e na doação da própria vida.
Muitos cristãos têm da cruz uma visão pessimista. A cruz lhes parece apenas sofrimento e dor. Jesus não pregou o sofrimento, mas o amor. O amor verdadeiro é doação da própria vida, doação total se for preciso. O amor sofre pelo outro, porém esse sofrimento está sempre impregnado da alegria de quem ama. Não há outro maior valor do que o amor.
Em resumo, carregar a cruz é fazer o mesmo caminho de Jesus.
O nosso país vê, nestes dias, a juventude tomar as ruas, os jovens procuram ser protagonistas de um mundo novo, como rezamos na Oração Oficial da JMJ. Estas manifestações podem se transformar num momento histórico, em que os jovens tomem consciencia de um chamado para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
Durante um ano, os jovens estavam carregando a Cruz da Jornada Mundial da Juventude pelas dioceses e comunidades de nossa Igreja, de norte a sul do País.
Levar a Cruz significa que os jovens querem se tornar portadores da Boa Nova da Salvação e anunciar que o mundo pode ser melhor. Os jovens querem dizer ao mundo que a Cruz é a maior prova do amor de Deus aos homens e mulheres de todos os tempos.
A Cruz é o símbolo central da Jornada Mundial da Juventude. Esta cruz de madeira foi colocada como símbolo da fé católica, perto do altar principal na Basílica de São Pedro durante o Ano Santo da Redenção (Semana Santa de 1983 à Semana Santa de 1984). No final daquele ano, depois de fechar a Porta Santa, o Papa João Paulo II deu essa cruz aos jovens como um símbolo do amor de Cristo pela humanidade. Estas foram as palavras do Papa naquela ocasião: “Meus queridos jovens, na conclusão do Ano Santo, eu confio a vocês o sinal deste Ano Jubilar: a Cruz de Cristo! Carreguem-na pelo mundo como um símbolo do amor de Cristo pela humanidade, e anunciem a todos que somente na morte e ressurreição de Cristo podemos encontrar a salvação e a redenção”.
Na Semana Missionária e na Jornada Mundial da Juventude, os jovens são convidados a recuperar o verdadeiro significado da Cruz, hoje. Os jovens são convidados a olhar para uma outra perspectiva de vida. Os jovens estão reconhecendo, na sociedade, sinais de morte: o egoísmo, a indiferença humana, a difusão da injustiça, o sexo livre, as drogas e suas conseqüências. Os jovens são convidados a aliviar a dor do irmão que sofre. Este gesto de amor é o mesmo gesto da morte de Jesus na cruz que se transforma em sinal de ressurreição, de vida e de esperança.
A Cruz compromete todos nós, mas sobremaneira a juventude. Vendo essa contradição – vida e morte, a juventude vê também na sociedade os sinais de esperança de que nem tudo está perdido.
Sem a Cruz, sem o nosso sim à Cruz, sem caminhar dia após dia em comunhão com Jesus, a profundidade de nossa existência humana fica prejudicada.
Quanto mais o jovem buscar o mistério da Cruz mais ele irá perceber a importância do amor de Deus, e mais ele vai querer transmitir isso aos demais jovens. Perceberá que o amor é exigente. Perceberá que o amor gera conseqüências na vida de qualquer pessoa. Perceberá que a Cruz produz responsabilidades em sua estrutura de ser.
Jesus nos convida hoje a tomar a nossa própria cruz.
Frei Gunther Max Walzer, Ofm