Homilia - 20/10/2013 - 29º Domingo do Tempo Comum
O domingo de hoje, denominado “Dia das Missões”, lembra da co-responsabilidade de todos nós cristãos na evangelização no mundo inteiro. Os textos litúrgicos de hoje e, de maneira especial o Evangelho, nos falam da importância da oração.
Jesus, no Evangelho, insiste na “necessidade de rezar sempre, e nunca desistir”.
Pergunto: será que temos necessidade de rezar hoje em dia, como Jesus fala no Evangelho? Será que hoje, com o avanço da técnica, da medicina, da tecnologia, de tantas maravilhas da ciência... ainda existe necessidade de rezar? Antigamente tudo se resolvia com rezas, bênçãos e ritos religiosos. Se alguém estava doente, a gente rezava para ficar curado ou levava para ser benzido. Se acontecia alguma calamidade, enchente ou temporal, por exemplo, a gente rezava para que Deus tirasse tal castigo.
Alguém nos perguntando, se rezamos, a resposta é um “sim” declarado.
Será que sabemos o que é rezar? Definições há muitas! Uma mais bela que a outra: “Rezar é falar com Deus”; “Rezar é amar com palavras”; “Diálogo com Deus” e tantas outras.
Há também gente que não acredita no valor da oração. Acha que rezar é perda de tempo. Outros, nas orações, só sabem pedir, rezam por necessidade, porque estão no sufoco. Há quem só sabe repetir fórmulas e nunca reza espontaneamente com suas próprias palavras. Outros rezam automaticamente, pronunciando as palavras, enquanto estão fazendo outra coisa ou têm o pensamento longe.
Na primeira leitura, encontramos um bom exemplo do valor e do efeito da oração, quando associada à fé no Deus que luta junto ao seu povo. O povo luta contra seus inimigos e, apesar de sua bravura e do grande conhecimento de batalhas de seu comandante Josué, o líder religioso Moisés rezava. Contudo, quando o líder,cansado, parava de orar, o povo ficava em situação desfavorável, e pedras foram colocadas sob os braços de Moisés para que suas mãos permanecessem estendidas em direção a Deus e, assim, o povo obtivesse a vitória.
Jesus nos mostra, no Evangelho, a viúva como exemplo de quem não desanima, de quem que insiste até o fim. Ela estava perdendo a batalha contra seu adversário, porque o juiz da cidade não queria julgar o seu caso. Era um juiz ateu e que não se importava com o que acontecesse com as pessoas. A viúva tinha tudo para desistir da sua luta. No entanto, ela insistia, que ele fizesse o que era o seu dever: julgar o caso dela, resolvendo seu problema.
O juiz acabou resolvendo o problema dela, levado não por uma consciência de fazer o que é necessário, nem de cumprir o seu dever, mas para se ver livre da importunação dela.
Jesus, então, compara esse juiz com Deus, ressaltando a diferença: se um perverso como esse acabou atendendo ao pedido da viúva, quanto mais Deus, que é bom e justo, “não faria justiça aos que dia e noite gritam por ele”?
Com isso, o Evangelho nos apresenta uma imagem de Deus como Aquele que vem em socorro dos oprimidos, dos injustiçados, dos que estão perdendo as forças.
Muitos não conhecem o valor da oração, que pode ajudá-los a superar os obstáculos da vida. Não podemos, no entanto, usar a oração apenas como uma fórmula “mágica” para resolver problemas, sem fazer esforço. Não adianta, também, tentar “convencer” Deus de que ele tem que atender os pedidos. Outros até acreditam que basta tirar cópias de uma oração e espalhá-las para suas preces serem atendidas, como pretendem essas “correntes” supersticiosas que encontramos por aí ou na internet.
Jesus enfatiza que o problema não está em Deus, mas na impaciência do homem e da mulher. Alguém apressado, não sendo atendido na hora, corre o risco de perder a fé.
A condição da perseverança está na fé; fé no sentido de confiar que o Senhor vem em auxílio de quem a ele se confia. Rezar com fé é aceitar o desafio de pôr-se a caminho, de lutar, de insistir, de não desanimar, de não voltar atrás.
Neste final de semana, a Igreja celebra a Jornada Missionária Mundial.
“Todos os batizados são chamados a anunciar o Evangelho com coragem em toda realidade”. É o que escreve Papa Francisco em sua Mensagem para o Dia Mundial das Missões 2013, neste domingo.
O Pontífice ressalta: “A fé é um dom precioso de Deus, um dom que não se pode guardar para si, mas deve ser partilhado. Toda comunidade é adulta quando professa a fé, a celebra com alegria na liturgia, vive a caridade e anuncia sem cessar a Palavra de Deus, saindo de seu recinto para levá-la também às periferias.
A missionariedade não é somente uma questão de territórios geográficos, uma vez que os confins da fé não atravessam somente lugares e tradições humanas, mas o coração de cada homem e mulher”.
Penso que, ouvindo o apelo de nosso Papa Francisco, somos levados a repensar nossa posição. Esta é, muitas vezes, uma posição cômoda de cristãos “paroquializados” ou limitados a nossos movimentos e associações, acostumados a ficar com o mínimo, adeptos da “lei do menor esforço”. Temos diante de nós o desafio da fé: passar à geração do presente e futuro a Boa Nova de Jesus Cristo e o recado de que vale a pena arriscar tudo pelo Reino.
Enfim, a Igreja é apostólica porque é enviada a levar o Evangelho a todo o mundo. Esta é uma grande responsabilidade que somos chamados a redescobrir: a Igreja é missionária e não pode ficar fechada em si mesma.
Na audiência geral realizada na quarta-feira na Praça de São Pedro, o Papa Francisco disse: “Insisto sobre este aspecto da missionariedade, porque Cristo convida todos a irem ao encontro dos outros. Nos envia, nos pede que nos movamos para levar a alegria do Evangelho. Devemos nos perguntar: somos missionários ou somos cristãos de sacristia, só de palavras mas que vivem como pagãos? Isso não é uma crítica, também eu me questiono. A Igreja tem suas raízes, mas olha sempre para o futuro, com a consciência de ser enviada por Jesus. Uma Igreja fechada trai sua própria identidade. Redescubramos hoje toda a beleza e a responsabilidade de ser Igreja apostólica.”
As leituras que ouvimos nos propõem duas atitudes para este domingo dedicado às missões. A primeira delas é nossa presença na atividade missionária através da oração perseverante e contínua. A segunda atitude é de sermos missionários fundamentando nossas vidas na Palavra, testemunhando o Evangelho quer “agrade quer desagrade” (2Tm,42).
Sejamos discípulos missionários orantes e atuantes!
Frei Gunther Max Walzer, Ofm