Homilia - 20/04/2014 - Domingo de Páscoa
“Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele jubilemos”.
FELIZ PÁSCOA! Assim os cristãos do mundo inteiro, alegres, se cumprimentam no dia de hoje. Hoje é a festa da Páscoa: é o dia da Ressurreição de Jesus. Jesus está vivo. Jesus deixou o lugar dos mortos. Jesus está no meio de nós!
Os relatos da ressurreição não são crônicas ou reportagens de um fato extraordinário; são evangelhos, Boa Notícia: Jesus ressuscitou. Ressuscitado, Jesus é presença definitiva da história da humanidade.
O evangelho de hoje poderia ser chamado de evangelho da corrida. Começa com a indicação de tempo: o primeiro dia da semana. Maria Madalena, incapaz de aceitar a morte de Jesus, vai em busca do amigo, do mestre. “Bem de madrugada, quando ainda estava escuro, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus”. Chegando lá, ela percebeu que algo de estranho aconteceu: a pedra tinha sido retirada do túmulo. Logo pensou em roubo do cadáver. Assustada, foi contar a Pedro e João que o Senhor foi retirado do túmulo.
Maria encontra os dois a sós e, sem dúvida, tristes e desanimados após tantos acontecimentos inexplicáveis e dolorosos. Curiosos, saem correndo ao sepulcro. Os dois percebem que, na verdade, algo misterioso aconteceu. Os discípulos estão começando a crer. JESUS RESSUSCITOU!
É bom a gente entender que a ressurreição de Jesus não depende de provas ou conhecimentos. A ressurreição só pode ser entendida por uma profunda experiência de fé.
Evidente, ninguém viu Jesus levantar-se do sepulcro. Nenhum repórter conseguiu tirar foto naquela hora. Nenhum cronista viu a pedra rolar. Nenhum teólogo conseguiu explicar com provas objetivas este fato.
É significativo que a primeira testemunha da ressurreição seja uma mulher, Maria Madalena, discípula e amiga de Jesus, então missionária e apóstola. Nisto os evangelistas são unânimes: as primeiras testemunhas da ressurreição de Jesus foram mulheres de seu grupo que levaram a alegre notícia aos apóstolos. É ressurreição, é Páscoa quando curamos o nosso machismo para compreendermos, que na Igreja de Jesus todas as pessoas, homens e mulheres, somos iguais.
Segundo os desígnios de Deus, a ressurreição deveria ser perceptível somente pela fé. Pois, se a nossa fé dependesse de um dado científico explicável, ela não seria mais fé. Seria tomar conhecimento de um fato evidente, registrado pela crônica.
Só a ressurreição de Jesus pode dar sentido à vida. Sem ela, vã é nossa fé. Com a fé na ressurreição tudo ganha sentido: o compromisso na luta por um mundo mais justo e mais humano e o serviço aos pobres, aos necessitados, aos crucificados e sepultados de hoje.
Só encontramos o Ressuscitado se tivermos coragem de correr ao “túmulo” e de lá voltarmos, correndo como Pedro e o outro discípulo, para anunciar a vida, a nova criação e a nova terra.
Este é o conteúdo fundamental de nossa fé que devemos anunciar e testemunhar com palavras, atitudes e ações, como nos anuncia Pedro na primeira leitura.
Os apóstolos, quando saíam a pregar, diziam: “Aquele Jesus que vocês mataram, aquele Jesus que vocês pregaram na cruz, ressuscitou”.
Essas palavras de Pedro são um convite a todos nós para tomarmos consciência da verdade fundamental e mais importante da nossa fé: A RESSURREIÇÃO DE CRISTO. O centro de toda a doutrina católica é a intervenção de Deus que em Cristo derrotou a morte.
Nesta Páscoa, saiamos também do nosso túmulo! Somos ressuscitados com Cristo, afirma-nos categoricamente São Paulo na segunda leitura. Este é o efeito do nosso batismo. E para sermos consequentes, aspiremos às “coisas do alto”, isto é, às coisas de Deus: seu amor e sua misericórdia de Pai que nos faz todos irmãos e que supera os ódios, as guerras, as violências, as cobiças e egoísmos, enfim, as coisas “da terra” que são: poder, dinheiro, guerra e morte.
Por isso, para nós cristãos, a Páscoa, dois mil anos depois, é um desafio. Como podemos tornar visível o Cristo no meio de nós? Como?
Cristo se torna visível todas as vezes que nos tornamos solidários com o nosso próximo, toda vez que compartilharmos com ele os sofrimentos e as alegrias, os fracassos e os sucessos, a doença e a saúde, as esperanças e as dúvidas, a vida e a morte.
Cristo se torna presente no perdão que soubermos dispensar à pessoa que errou e que, talvez, chegou a nos trair. Aquele perdão não dado como esmola ou por obrigação, mas por amor.
Para que Cristo possa estar no meio de nós, devemos sair do nosso túmulo. Tiremos a pedra do nosso túmulo, a pedra da falta de fé, da falta de oração.
Túmulo fechado é a pessoa que só pensa em si, em seus divertimentos, suas futilidades.
As nossas casas também são túmulos fechados a cimento, quando não há amor, quando não há respeito e ajuda mútua.
Até as nossas igrejas podem ser túmulos fechados quando não se vive o que se reza, quando não se vive o que se canta.
Que este domingo seja o Dia da nossa Ressurreição. Que possamos entoar juntos um canto de vitória: “Aleluia". Isso mesmo. Eu venci. Não sou mais aquela pessoa do túmulo, intransigente, insuportável, desligada, nervosa, egoísta. É vida nova que começou.
Que o Círio Pascal, a luz de Cristo Ressuscitado jamais se apague em nossa vida. Que Cristo esteja presente em tudo: no trabalho, em minhas atividades, em meus encontros, na minha família.
Festejemos a Páscoa em nossa vida, no cantar, no falar e no agir.
FELIZ PÁSCOA!
Frei Gunther Max Walzer, Ofm