Homilia - 04/05/2014 - Terceiro Domingo da Páscoa
Particularmente, considero o relato do evangelho de hoje um dos momentos mais bonitos após a ressurreição de Jesus. O texto do evangelho nos apresenta hoje os discípulos de Jesus desanimados e frustrados. Para eles, Jesus morreu e com sua morte tudo acabou; eles vão embora, voltam para casa. Estavam desapontados com tudo. Porque não tinham mais esperança, retornaram tristes e cabisbaixos a rotina de antes. Para trás ficou a utopia do Reino de Deus, com o qual eles sonhavam.
Não deram importância, também, ao que contavam as mulheres e alguns discípulos sobre o sepulcro vazio. A admiração por Jesus virou apenas tristeza e quem sabe desilusão.
E aí, em meio às tristezas da caminhada, Jesus toma a iniciativa e se põe a caminhar com eles. Interessante, Jesus não fala dos rumores e boatos de sua ressurreição, boatos que também eles ouviram. Jesus explica o que estava escrito nas Escrituras Sagradas, fala da paixão e do sofrimento da cruz.
Mas a desesperança lhes cega os olhos a tal ponto que nem perceberam que aquele peregrino era o próprio Jesus.
Quando estavam chegando em casa Jesus fingiu que ia continuar a viagem. Os discípulos perceberam que o “amigo” ia seguir adiante e a noite já estava chegando, já que era perigoso andar sozinho e cansado, depois de um dia de caminhada, eles disseram: "Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chagando!".
Grande gesto de solidariedade! Quem partilha a casa também partilha o pão que há na casa. Ninguém convida um amigo para pernoitar sem convidá-lo também para comer. Quem partilha o pão torna-se solidário. É na partilha do pão que acontece a solidariedade. Aí o amigo de caminhada se torna com-panheiro aquele que come-o-pão-com a gente.
Jesus compartilhou muitas vezes com seus amigos o pão nas longas caminhadas de sua vida de pregador. E quando quis mostrar-se verdadeiramente amigo, solidário aos seus, Jesus, na última ceia, fez este gesto de partir o pão e o repartiu com eles. Seu gesto foi tão significativo que, ao repartir o pão, com toda essa carga de amor, os dois discípulos imediatamente o reconheceram. Estava tudo ainda fresco na memória: só Jesus poderia fazer isso dessa maneira tão profunda. Só ele poderia tornar sacramento de seu amor e de sua presença um gesto tão simples e cotidiano: partir o pão.
Essa foi a Páscoa dos discípulos de Emaús. Eles viram o Senhor Ressuscitado. Viram, então, que o sonho não acabou, que a esperança não morreu. Que o Reino é uma realidade possível. De cegos que estavam, passaram a ver.
Tinham voltado para casa, mas, cheios de alegria, tomaram o caminho de volta para Jerusalém. Por que a pressa? Por que o risco? Por que não dormir, descansar, e esperar o dia nascer para ir com calma e mais segurança contar aos demais que estava tudo bem e que a vida continua?
Os dois não queriam deixar os irmãos ainda reunidos em Jerusalém na dúvida, queriam logo comunicar-lhes o que para eles já era realidade: “Nós vimos o Senhor!”. Por que os outros deixar ainda tristes, se eles já experimentaram a alegria da Páscoa. A mensagem da alegria pascal não pode esperar o dia amanhecer para ser proclamada.
Nesta Páscoa somos esses discípulos. Nossa vida é uma caminhada: Emaús é a eternidade. Há corridas, tropeços, tombos, dores, chegadas, vitórias. Ao nosso lado caminha Jesus Cristo como companheiro.
Jesus prometeu que estaria com os seus até o fim do mundo. Cristo esteve com aqueles discípulos de Emaús e está conosco em nossa caminhada da vida.
Ele não promete poupar-nos o sofrimento, mas ele explica o seu valor, como explicou o sofrimento da paixão e cruz aos dois discípulos.
No fracasso e em nossas ilusões, Ele caminha conosco.
Fracassados em nossos negócios, Ele caminha conosco.
Fracassados no amor, Ele caminha conosco.
Fracassados em nossa vida, Ele caminha conosco.
Irmãos e irmãs! Esses discípulos de Emaús somos nós hoje. Alegres devemos anunciar a todos a Boa Nova: “Nós o encontramos pelo caminho e na partilha do pão”. Com certeza quando contamos aos outros o que vivemos, sentimo-nos nós próprios confirmados em nossa fé no Ressuscitado, como aconteceu com os dois que chegaram de Emaús. Com o coração abrasado sentiremos a presença de Cristo Ressuscitado e que Ele está vivo no meio de nós.
“É verdade! O Senhor ressuscitou!”.
Frei Gunther Max Walzer, Ofm