Homilia - 18/05/2014 - Quinto Domingo da Páscoa
Muitas vezes, assistimos na televisão e vemos nas ruas da cidade repórteres entrevistando o povo a respeito de um assunto em destaque. As respostas, na maioria das vezes, são superficiais, porque as pessoas, pegas de surpresa, não tiveram tempo para refletir antes de responder.
Imagine se alguém colocasse o microfone em sua frente e perguntasse: “Quem é Deus para você?”. O que você responderia?
- Deus é um mistério que ninguém pode entender.
- Deus sempre me ajuda quando tenho um problema.
- Deus é o ser supremo, criador da terra e do céu.
Certamente, haveria outras respostas. Algumas respostas me causariam certa preocupação. Por exemplo, quando Deus é um “quebra-galho”. A gente só se lembra dele quando não sabemos mais resolver os nossos problemas. Esperamos de Deus um milagre a toda a hora. Por isso, muita gente está indo atrás de curas, milagres...
No Evangelho de hoje, Jesus fala de Deus como “Pai”: “Casa do Pai”...; “ninguém vai ao Pai senão por mim”...;”se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai”...; “estou no Pai e o Pai está em mim”...
Jesus fala do Pai quando anunciou a sua partida. A história era estranha falando em partir para preparar um lugar e, quando este estiver pronto, ele voltaria para buscar os amigos. Os discípulos estavam perplexos diante das palavras de Jesus. Tomé não resiste e abre o jogo: “Não sabemos para onde vais, portanto não conhecemos o caminho”. Esta indagação de Tomé provoca a grande revelação de Jesus: “Eu sou o caminho!”.
Caminho, porém, é sempre uma estrada que leva a um destino. E Jesus deixa claro que ele é o caminho que leva ao Pai. Felipe quer conhecer o Pai e pede: “Então, mostra-nos o Pai, isso nos basta!”.
Sabemos que jamais podemos esgotar, numa definição, a realidade que é Deus, como ele é, o que ele faz, como ele julga. Todas as pessoas, e até cada religião, formam alguma ideia a respeito de Deus, muitas vezes, conforme sua própria imagem”. Pessoas severas têm uma imagem de um Deus severo, carrancudo. Alguns veem Deus como um juiz, olhando só o que fazemos de errado.
Ao contrário, há pessoas que encontram em Deus um Pai cheio de amor e bondade que é carinhoso, que orienta e sempre perdoa.
Qual é a resposta que você daria?
Quando Felipe quer saber como é o Pai de que Jesus tanto fala, Jesus responde com certa indignação: “Felipe, há tanto tempo estou com vocês e você ainda não me conhece? Quem me vê, vê o Pai!”.
Não podemos saber como Deus Pai é. Mas, quando olhamos para Jesus, podemos entender um pouco como Deus é. Nele estão os traços do Deus: a misericórdia para com os pecadores, oferecendo-lhes o perdão; o amor para com todos, sem excluir ninguém; a bondade para com os marginalizados; a solidariedade com os excluídos, os famintos, os pobres e marginalizados e diz que são eles os preferidos de Deus. Ele afirma que as prostitutas e publicanos entrarão primeiro no Reino de Deus. Propõe amar os inimigos e perdoar setenta vezes sete vezes. Finalmente, aceita até morrer na cruz, por amor. Acima de tudo, Jesus quer realizar o projeto de Deus: a construção do seu Reino, Reino de paz e harmonia, de amor e justiça.
No Evangelho de hoje, ouvimos também Jesus dizer: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”.
Grande é a oferta de caminhos. Muitos são caminhos falsos, caminhos errados, caminhos que enganam.
Há gente que escolhe o caminho da auto-suficiência. Dispensam Deus; não precisam de Deus.
Há gente que escolhe o caminho do dinheiro e dos bens materiais. Aos poucos percebem que o dinheiro não faz feliz. Esse deus é frio, sem vida, sem calor humano, sem amor.
Há gente que escolhe o caminho dos vícios: sexo, bebida e droga. O mundo vira um mundo fantástico. Cedo ou mais tarde, descobrem que tudo era ilusão, tudo era passageiro.
Há gente que gosta do caminho da televisão. Passam a vida na frente da televisão. Veem todos os filmes, todas as novelas, todos os programas. Veem tudo que se tornou uma coisa massificada, alienada.
Há gente que resolve escolher os caminhos de tudo que existe-por-aí. Passam pelo espiritismo, pela magia, esoterismo, budismo e outros “ismos”. A felicidade, a paz, o sentido para a vida que procuram, sempre estão sentindo por uns momentos, mas é tudo passageiro.
Jesus revela que ele é o caminho seguro que leva ao destino de todos nós: o Pai. Este é o Caminho da Verdade e da Vida em plenitude.
A comunidade dos primeiros cristãos entendeu a mensagem de Jesus, começou a se organizar.
Quando a comunidade começou a aumentar em número, a situação ficou mais complexa e surgiram as primeiras dificuldades e desentendimentos. No texto original, escrito em grego, não encontramos a palavra “queixa”, mas “murmuração”. A “murmuração” é mais que “queixa”, porque é conversa feita às escondidas, é o diz-que-disse que se espalha no meio das pessoas.
Já, em diversas ocasiões, o Papa Francisco falou sobre o tema das fofocas: “As fofocas são a peste da comunidade”. A murmuração é sempre fator desagregador, que atinge a unidade entre as pessoas e planta o descontentamento na comunidade e dentro da gente.
A comunidade dos primeiros cristãos encontrou uma nova forma de organizar-se (diaconato), dividindo as tarefas, assim mantiveram a unidade e a comunhão fraterna que revela a presença de Jesus no meio da comunidade.
A Carta de Pedro (2ª leitura) faz uma comparação interessante, para exprimir a ideia da nossa comunhão com Cristo: a comunidade é como um edifício onde Jesus é a pedra angular. Essa pedra é que dá início à construção e indica o alinhamento da obra. Ela fica no ângulo do alicerce, como referência para os pedreiros. É uma boa imagem para compreendermos quem somos, como Igreja: tendo Cristo como nossa referência maior, seguimos o caminho traçado por ele, dando continuidade à obra de Deus. Mas não seguimos separados, desunidos, como meros tijolos empilhados. Seguimos organizados, “encimentados” pelo Espírito, unidos pela massa da comunhão.
Irmãos e irmãs! É necessário conhecermos mais Jesus, em quem encontramos o verdadeiro rosto de Deus. A vida de Jesus nos mostra o caminho a trilhar. Na comunidade, partilhamos os serviços, conforme a missão e a capacidade de cada um. Apoiando-nos em Cristo, unidos como tijolos de um grande prédio, caminharemos, com segurança, para a meta final: a Casa do Pai.
Frei Gunther Max Walzer, Ofm