Homilia - 26/04/2015 - 4º Domingo da Páscoa
Quando se procura identificar mortos em catástrofes e desastres ou para reconhecer a paternidade de uma criança usa-se o teste do DNA. O DNA está presente nas estruturas de cada célula humana. Ele determina tudo o que a pessoa é fisicamente. Ele influi até no temperamento, na inteligência, enfim, nas características pessoais de cada um. Mas o DNA não é visível “a olho nu”. Uma criança pode parecer-se fisicamente com um adulto, por exemplo: ter o mesmo tipo de cabelo e a mesma cor de pele. Mas só um teste de DNA pode manifestar com certeza se tal criança é mesmo filho de tal pessoa.
Na 2a leitura de hoje, João afirma que nós somos de fato filhos de Deus. Ele vai até mais longe, dizendo, que “seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é”. Poderíamos usar a linguagem cientifica de hoje para compreender o que João está querendo dizer: Todos nós temos o “DNA” de Deus.
É claro que não se trata da estrutura física, corpórea, biológica. A nossa semelhança com Deus não se dá no plano físico nem no biológico.
Necessariamente temos de falar de Deus usando termos humanos. Assim pedimos que Deus “olhe” para nós, que ele nos “escute”, que nos proteja com “seu braço”, que nos abençoe com sua “mão”. Falamos também do “coração” de Deus, escutamos a palavra de sua “boca”, confiamos no seu “amor de pai e de mãe”, pedimos lhe “perdão” por fazê-lo sofrer; tememos a sua “ira”, suplicamos que “se recorde” de nós. Isso não significa que fisicamente Deus tenha olhos, orelhas, braços, mãos, boca nem coração. Tampouco significa que Deus se comporte como nós, tendo as limitações de nossos sentimentos como ira, sofrimento, pena, esquecimento. Não temos outro modo de compreender e falar de Deus senão usando essas expressões humanas muito limitadas.
Assim, João, na segunda leitura, afirma que o único sentimento que podemos atribuir com certeza a Deus é AMOR. E a capacidade de amar é a marca que o próprio Deus deixou em nós. “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus!”. Nossa semelhança com Deus é, portanto, a capacidade de amar.
Ao nos criar, homens e mulheres, Deus nos fez seres que se relacionam. Em outras palavras, somos seres capazes de nos relacionar uns com os outros pela maneira mais sublime de relação que pode existir: o AMOR. Somos, sim, capazes de amar! Isto nos faz semelhantes a Deus, isto nos torna imagens dele.
Assim podemos usar de novo a linguagem cientifica moderna para compreender o recado que Deus nos dá hoje através das palavras de João: o “DNA” de Deus é o AMOR. E esse “DNA” está presente estruturalmente, em cada “célula” dos seres humanos, está presente em nossa vida. É o amor que nos distingue como filhos desse Pai. O amor é a “prova”, o “teste” que garante: “somos chamados filhos de Deus. E nós o somos!”.
No Evangelho, Jesus diz de si mesmo: “Eu sou o bom pastor. O bom Pastor dá a vida por suas ovelhas”. Jesus faz ainda uma segunda afirmação: “Eu sou o bom Pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai”.
A imagem do pastor e do rebanho nos faz surgir logo uma série de idéias. Entre o pastor e suas ovelhas existe uma relação muito íntima. Jesus ama suas ovelhas. Ele toca as ovelhas, levando as ovelhas aonde há pastagem boa e onde há água fresca. Esta é uma imagem fascinante, que nos permite falar do bem, da paz, da serenidade para a qual Jesus nos conduz. Igualmente as imagens da proteção e do cuidado do pastor do rebanho nos falam da segurança e do carinho que Jesus tem por cada um de nós.
Como bom pastor, Jesus vai à procura da ovelha perdida. O animal perdido e exausto, ele o coloca sobre os ombros. Nós somos como ovelhas que se perderam nas preocupações da vida. Jesus nos procura porque nos quer bem.
Estas imagens usadas por Jesus são, por sua vez, aplicadas ao Pai. Nas atitudes de Jesus, que nos “pastoreia”, podemos dizer: assim nos trata também Deus, nosso Pai.
No fundo, a parábola do Bom Pastor, que ouvimos hoje no Evangelho, usa de todas essas imagens para nos falar, indiretamente, do amor de Deus. São características do amor: o dar a vida, o importar-se com o outro, o conhecer, o ouvir a voz e tornar-se um só com o outro. Jesus se apresenta como esse Bom Pastor porque ele faz tudo isso por nós, e assim é Deus, nosso Pai.
Quem ama o faz gratuitamente, mas espera umaa resposta da parte de quem é amado. Deve ser uma resposta livre, espontânea. Deve ser também uma resposta que corresponde, na mesma medida. Amor não correspondido traz sofrimento. Amor mal correspondido também traz insatisfação e acaba gerando dor.
Recebemos de Deus a capacidade de amar. Mas ainda não se revelou a imagem perfeita de Deus em nós porque nossa resposta ainda é imperfeita. Ainda não amamos “na medida de Deus”. Ainda não estamos totalmente unidos em comunhão uns com os outros. Desde já somos “a cara” de nosso Pai, mas ainda falta o “teste” que vai provar a nossa filiação.
Manifestando agora, em nossa vida, o amor, nossa característica mais fundamental, nosso “DNA” básico, podemos ter certeza de que seremos confirmados nessa relação: “Somos filhos de Deus, de fato o somos”!
“Do AMOR nascemos, no AMOR vivemos, ao AMOR voltaremos.
Frei Gunther Max Walzer, Ofm