Homilia - 07/06/2015 - 10º Domingo do Tempo Comum
Que mundo é este? Parece que vivemos num mundo e numa sociedade onde vale tudo: corrupção em quase todas as instituições, quantas injustiças, violência crescente nas cidades, ruas e até nos estádios de esporte, quanta mentira e quanta morte!
Aí nos questionamos: Esse mal que vemos, todos os dias, esses males que tornam sombrio o nosso mundo, essa “casa” que é o mundo, vem de Deus, ou vem do homem?
A Palavra de Deus responde: o mal nunca vem de Deus… Deus criou-nos para a vida e para a felicidade e deu-nos todas as condições para que tenhamos uma vida de felicidade, de realização plena.
O tema das leituras de hoje é a expulsão do mal deste mundo. Muito ilustrativa é a relação entre a primeira leitura e o Evangelho. Por causa do pecado original, a família humana ficou sujeita ao mal com todas as consequências que o mal promove e provoca na vida humana.
O relacionamento com o pecado, diz a 1ª leitura, é marcado pelo medo, nudez e fuga. A consequência do pecado na vida humana é uma situação de medo, de nudez e de fuga. Quem vive no pecado vive fugindo, vive se escondendo por se sentir desnudado de vida.
Portanto, a resposta para a origem do mal é: na história humana, o homem que Deus criou livre e feliz fez escolhas erradas e introduziu na criação de Deus dinamismos de sofrimento e de morte.
O mal resulta das nossas escolhas erradas, do nosso orgulho, do nosso egoísmo e auto-suficiência.
Qual seria a solução para mudar tudo isso? São Paulo, na segunda leitura, coloca como saída dessa situação abandonar o antigo Adão, abandonar o homem velho e escolher um novo modo de viver.
O Evangelho fala da atividade de Jesus com a intenção de expulsar o mal. Jesus mostra o outro caminho: aquele de se afastar do mal, para se viver longe do pecado, do mal e da maldade.
Jesus está de volta à Cafarnaum. Ali ele está, como sempre, rodeado pela multidão. A casa está cheia, é o local onde se reúnem os sofredores de toda a espécie e ele está sempre pronto para atendê-los.
Junto daqueles que precisam de Jesus, estão também os doutores da Lei que vieram de Jerusalém para confirmar os boatos sobre o que ele faz e porque é tão popular. Os doutores da Lei ou escribas são especialistas em interpretar as leis, para dizer o que se pode ou não fazer, e chegam ali para condenar Jesus.
Naquele momento estão reunidos dois grupos que não concordam com o que Jesus está fazendo: os seus parentes e os fariseus. Mas qual era a preocupação dos seus parentes? Jesus praticava atos e falava coisas que não estavam de acordo com as normas e costumes da época, por isso, pensavam que ele estava ficando louco, por estar colocando a sua vida em risco. Eles não entendiam que a Boa Nova exigia postura nova! Jesus não pactua com o mal, e tem a missão de libertar todas as pessoas de qualquer tipo de opressão que as excluem da vida social e religiosa.
Diziam que Jesus estava possuído por Belzebu, o pior dos demônios, e que agia em nome dele.
A inveja, o ciúme, o ódio costumam usar ofensas absurdas, até ridículas.
Imaginem só: Jesus é taxado de “demônio”. Maior absurdo não se podia dizer!
Quem disse isso? Um desequilibrado? Não! Os chefes religiosos daquele tempo. Os doutores de Jerusalém o caluniavam, porque não sabiam explicar os benefícios que Jesus realizava para o povo. Estavam com medo de perder a liderança. Sentiam-se ameaçados na sua autoridade junto ao povo.
Jesus diz que um reino dividido não tem subsistência.
“Como é que Satanás pode expulsar a Satanás? Se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se.
Se uma família se divide contra si mesma ela não poderá manter-se.
Assim, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não poderá sobreviver, mas será destruído”.
O demônio desde sempre é mestre em criar divisão, porque o ódio sempre divide, ao passo que o amor sempre congrega. O demônio já criou divisão entre os anjos do céu e tentou o homem no paraíso. O demônio nem deixou de provocar Jesus depois de sua penitencia no deserto. E assim o demônio vai continuar sempre.
Lembro-me que, na primeira aparição pública depois da renúncia, o Papa Bento XVI condenou a divisão na Igreja e a hipocrisia religiosa. O Papa disse que a unidade da Igreja está em perigo. E diante dos cardeais, Bento XVI condenou as divisões na igreja e propôs que as rivalidades sejam superadas. Lembrou que Jesus denunciou a hipocrisia religiosa e criticou a atitude daqueles que só buscam o poder e o sucesso.
Jesus quer a unidade. “Este é o meu mandamento, que vos ameis uns aos outros”, e ainda: “Nisto todos conhecerão que vós sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”.
“Quem não está comigo, está contra mim, e quem não recolhe comigo, dispersa”, diz Jesus. Jesus veio para acolher e unir as pessoas de boa vontade. Quem dispersa, divide, tumultua, engana, quer lucrar e levar vantagem, este sim, é o demônio. Este, por sua vez, vai entrando de mansinho no coração da pessoa enfraquecida espiritualmente e vai fazendo a maior confusão. Quando o "cristão" perceber onde está se metendo pode ser tarde demais. Devemos ficar atentos para não cair na tentação.
Assim até pode acontecer na Igreja. O que destrói a unidade da Igreja é a desunião, ou a desintegração. Tudo o que é negativo, em vez de construir, destrói.
Neste 10º domingo do tempo comum, a Palavra de Deus leva-nos a meditar sobre a nossa resposta de vida ao projeto de Deus para nós, na liberdade de optar pelo bem e pelo mal.
Deus pede que nos afastemos do mal e que assumamos a sua vontade, a exemplo de Jesus, para vivermos livres da opressão do pecado e da maldade.
O final do Evangelho mostra quem faz parte da família de Jesus: aquele que faz a vontade do Pai. Se fazemos a vontade do mal, se vivemos no pecado e concordamos com o pecado, não pertencemos à família de Jesus. Se vivermos fazendo a vontade do Pai somos membros da família de Jesus e viveremos longe do mal, da maldade e do pecado.
Frei Gunther Max Walzer, Ofm