Homilia - 14/06/2015 - 11º Domingo do Tempo Comum
Que São coisas pequenas que podem provocar grandes efeitos.
Uma pequena gota de perfume enche um recinto com seu aroma agradável.
Uma pequena faísca de um curto-circuito pode provocar um grande incêndio.
Um dito popular fala dessas pequenas coisas. Diz-se com freqüência: “Tamanho não é argumento”. Como também: “Pequeno por fora, grande por dentro”.
Verdade é que o nosso mundo só dá valor às coisas grandes, dá valor aos fortes e aos grandes, às coisas que aparecem. Pouco se valoriza o que é pequeno.
Assim já pensavam muitos contemporâneos de Jesus. Eles esperavam um Reino de Deus poderoso: com exército forte, com riqueza ostensiva, com luxo e tudo. E Jesus, como ouvimos no Evangelho, apela para a experiência do colono e do camponês: o homem lança a semente, e esta cresce por si mesma e dá os frutos a serem colhidos. Aí Jesus coloca uma pulga atrás da orelha dos ouvintes. O crescimento e a produção dos frutos não dependem, propriamente, da preocupação do semeador “mas a semente germina e cresce, sem que ele saiba”. O agricultor não ficou vigiando para ver a semente germinar e brotar. Não puxou o broto para forçá-lo a crescer.
Não é difícil entender as leituras que ouvimos hoje. Elas nos mostram como Deus se utiliza de coisas pequenas para plantar o seu Reino entre nós. Foi o caso de um broto de cedro, na 1ª leitura, uma semente ou um grão de mostarda, a menor de todas as sementes, como explicou Jesus, para plantar o seu Reino.
Qual é a conclusão? O plantio do Reino de Deus não acontece pela grandeza, por coisas vistosas, mas pela simplicidade. Esse fato é ilustrado com a parábola do grão de mostarda. Quando semeado, é uma semente minúscula. Mas depois se torna “maior do que todas as hortaliças, a ponto de poder abrigar em seus galhos as aves do céu”.
Como cristãos somos tentados a querer que as coisas do Reino de Deus cresçam e apareçam com estardalhaço e chamando muita atenção, como as obras faraônicas. Mas com o Reino de Deus é muito diferente!
A mania de grandeza estava presente até no grupo dos primeiros discípulos. Eles queriam saber, exatamente, quem, dentre eles, era o maior (Lc 22,24). O Mestre os censurava severamente, mostrando como deveriam superar esse modo de pensar mundano: “Entre vós não seja assim” (Lc 22,26). Jesus até põe de cabeça para baixo os modelos vigentes: o grande é o pequeno; o servo é servido; o primeiro é o último; quem se exalta será humilhado e o humilhado será exaltado; o ignorante é o sábio e o sábio é privado da revelação...
A 2ª leitura lembra que um dia teremos que apresentar os frutos das sementes que colocamos no campo da nossa vida quando comparecermos diante do Tribunal de Cristo, como explica Paulo: “Todos nós temos de comparecer perante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio ou castigo – do que tiver feito ao longo de sua vida”.
Aqui surge uma questão: embora pudesse — porque Deus tudo pode — Deus precisa de nós para fazer crescer a semente. Ou seja, se nós não preparamos o terreno, se nós não semeamos a semente da vida, a semente do Evangelho, Deus não pode agir no silêncio para fazer a semente germinar e nem dar frutos.
A crise econômica e as tantas crises que passamos (política, da família, educação, saúde, religiosa, vocacional...), com certeza, não é culpa de Deus, é nossa, que deixamos de semear a vida para semear a ganância, a avareza, o consumismo; e a crise é o fruto daquilo que semeamos. A semente plantada não foi boa. O jeito como lidamos com a natureza, o modo como se manipula a vida em laboratórios, também são sementes que geram doenças e vírus que nunca tínhamos visto, como foi daquela “gripe A”.
E nós, será que somos diferentes dos outros? Sonhamos ganhar enormes quantias na loteria, queremos possuir sempre além do que já temos, valorizamos as pessoas pelo que elas produzem e fazem; queremos apresentar uma religião com grande aparência, queremos apresentar a nossa religião em enormes concentrações. E, na família, deixamos de valorizar os idosos, as crianças e as mulheres e, em nossas conversas, elogiamos aqueles que se saem melhor na vida, os que ocupam altos postos e damos destaque naquilo que eles fazem.
O Reino anunciado por Jesus não passa por aí. Se queremos viver precisamos semear vida, se queremos paz precisamos semear justiça, se queremos que o Reino de Deus cresça precisamos semear o Evangelho.
E, não esqueçamos, o Reino cresce silenciosamente! Quer dizer, não precisamos de nada grande, não precisamos fazer grandes coisas. São pequenos gestos de caridade, nosso trabalho diário feito com amor e dedicação, nosso olhar silencioso e caridoso; tudo isso faz germinar a vida e a paz no mundo. Importante é abrir as mãos e semear o Evangelho.
Vou concluir com uma pergunta bem clara e direta: que tipo de semeador você é? De que espécie são as suas sementes? São de boa qualidade?
Frei Gunther Max Walzer, Ofm