Homilia - 02/08/2015 - 18º Domingo do Tempo Comum
Ouvimos, hoje, no Evangelho Jesus dizendo: “Estais me procurando porque comestes pão e ficastes satisfeitos”. Esta é a queixa de Jesus: “Vocês me procuram só por causa da comida” (Jo 6,26). Isso é que é falar claro. Sabemos que o mundo está cheio de gente que procura o Cristo só por causa de interesses materiais.
Não é segredo para ninguém que vivemos numa sociedade que supervaloriza os bens materiais. Todos os dias, cada hora, minuto a minuto, somos bombardeados por inúmeras ofertas na mídia que prometem a realização pessoal, prometem um sentido novo para a vida. Ouvimos promessas de felicidade, de bem-estar, de prosperidade, até mesmo, mudança de personalidade. Muitas pessoas acreditam nessas mensagens. Pensam que possuindo este carro, tendo aquele tipo de casa, usando esta ou aquela roupa viverão realizadas. Do ponto de vista psicológico, até pode haver uma compensação, mas, como mostra a experiência, compensa por um tempo e, depois, desgasta-se, acaba, some e cai no vazio. E a consequência é que em seguida estas pessoas já buscam outro bem ou produto e mais outro e um mais caro que o outro.
A mentalidade do mundo é esta, mentalidade marcada pelo ter, pelo possuir, pela exibição, pela ânsia que fomenta a necessidade de aparecer, de ser visto e admirado.
São Paulo nos diz hoje na Carta aos Efésios: “Não continueis a viver como vivem os pagãos, cuja inteligência os leva para o nada” (Ef 4,17). São Paulo nos incentiva a não modelar nosso caráter e nossa personalidade com a mentalidade do mundo. Ao contrário, Paulo incentiva a despojar-se desta mentalidade, que é próprio de homens e mulheres velhos, que vivem presos ao desejo de possuir, e ele nos orienta a viver com outro Espírito. Este outro Espírito, nada mais é que o Espírito Santo. É a presença do Espírito divino em nós que ilumina e ajuda a entender o que é melhor para a vida humana. Podemos ter bens, mas o Espírito divino ajuda-nos a viver de modo despojado, sem colocar nos bens o sentido último da vida.
Um segundo incentivo para não viver de acordo com a mentalidade consumista do mundo está no Evangelho. E aqui, temos um dado interessante.
No Evangelho, ouvimos como o povo procurava Jesus depois da multiplicação dos pães. Percebiam que era muito fácil alimentar-se, porque bastaria ouvir Jesus e, no final da pregação, ele multiplicaria os pães.
A multiplicação dos pães levou muita gente a identificar Jesus com uma espécie de “milagreiro”. As pessoas confundiram as coisas, pensando que Jesus fosse uma ótima solução para conseguir de maneira fácil o pão de cada dia. Ou seja, quando sentissem fome, era só recorrer ao “milagreiro” e não precisavam mais trabalhar para produzir e partilhar os alimentos.
Aí Jesus aponta para o alimento que merece ser procurado porque não estraga nunca. Esse pão é diferente do maná que o povo comeu no deserto (Êx 16,12-15).
E, novamente, as pessoas começaram a confundir as coisas. Pensavam, “se a gente come um pão que ‘dura para a vida eterna’, logo, não haverá necessidade de trabalhar”. Foi com essa ideia na cabeça que eles pediram inocentemente a Jesus: ”Senhor, dá-nos sempre deste pão!” (Jo 6,34). Aí, Jesus falou bem claro: “Eu sou o pao da vida. Aquele que vem a mim não terá mais fome, e aquele que crê em mim não terá mais sede”.
O que significa essa frase misteriosa de Jesus? Jesus está dizendo que, antes de mais nada, é preciso que o procuremos. O povo foi à procura de Jesus e, assim que o encontrou perguntou: “Mestre, onde estavas?” É a pergunta de quem está à procura, de quem busca. Jesus nos está dizendo hoje, que o procuremos – sua pessoa, seu projeto de vida, seu Reino. Isso sempre deve estar em primeiro lugar em nossa vida.
Muitas pessoas vão a procura de sinais, de milagres, de curas. Assim como a multidão, muitas vezes buscamos a Deus com algum interesse, pois herdamos uma religiosidade que afirma que Deus nos dá coisas em troca de nossa fé, de nossos pedidos, de nossas orações e não queremos olhar o seu amor gratuito. Se Deus nos ama gratuitamente não precisa de nada em troca para nos amar. A maior prova de amor ele nos deu quando nos deu o seu próprio Filho, o pão que não perece e que dá vida ao mundo.
Jesus é o verdadeiro pão do céu, ele mesmo se faz alimento. O pão antigo perecia, precisava ser consumido no mesmo dia. O novo pão é para sempre: “quem se alimenta dele não terá mais fome”.
É isto que acontece em cada celebração eucarística. E é para isso que o Senhor Jesus nos deu o sacerdócio para poder se tornar um alimento do cotidiano do povo.
Como já foi anunciado no início da celebração, o mês de agosto é dedicado à oração pelas vocações. Não é um mês de homenagens, mas de orações pelas vocações. Neste 1º domingo de agosto, rezamos pelas vocações sacerdotais.
Mas, afinal, em que consiste o valor da vida sacerdotal?
Como todos sabem, o padre não foi ordenado para ser um agente social, um animador de um auditório religioso, promovendo milagres, fazendo novenas para pedir de tudo...
São Francisco de Assiste teve esta concepção de um sacerdote: “Se pelo caminho encontrar um anjo e um sacerdote, cumprimente primeiro o sacerdote. O anjo é apenas um servo de Deus; o sacerdote representa o próprio Deus”.
Qual seria a importância do sacerdote?
Quando se pensa... que nem os anjos, nem os arcanjos podem fazer o que um sacerdote faz...
Quando se pensa... que Nosso Senhor Jesus Cristo, na última ceia, realizou um milagre maior que a criação do Universo, ao transformar o pão e o vinho em seu Corpo e Sangue para alimentar a nós pecadores e que o sacerdote é capaz de repetir este prodígio todos os dias.
Quando se pensa... no outro milagre que somente o sacerdote é capaz de realizar: perdoar pecados pois o que ele liga no confessionário, Deus, obrigado por sua própria palavra, o liga no céu e o que ele desliga, no mesmo instante o desliga Deus.
Quando se pensa... que um sacerdote não é apenas um símbolo, nem sequer um embaixador de Cristo, mas é o próprio Cristo quem está ali, repetindo o maior milagre de Deus...
Quando se pensa... que um sacerdote é mais necessário que um presidente, mais que um senador, mais que um banqueiro, mais do que um médico e mais que um professor, porque sem sacerdote não existe Igreja.
Quando se pensa... que o mundo morreria da pior fome se chegasse a lhe faltar esse pouquinho de pão e esse pouquinho de vinho.
Quando se pensa... que isso pode acontecer porque estão faltando vocações sacerdotais.
Quando se pensa nisso tudo, compreende-se, o quanto se deve amar os sacerdotes, respeitá-los, fomentar as vocações.
Rezemos para que muitos jovens coloquem sua vida a serviço do povo, mostrando-lhes, que Jesus alimenta nossas vidas com uma vida plena de sentido e de alegria.
Frei Gunther Max Walzer