Homilia - 30/08/2015 - 22º Domingo do Tempo Comum
Vivemos num mundo de muitos mestres, de muitas opiniões, de muita gente que entende de tudo e fala sobre tudo.... Há tantos caminhos, tantas propostas, sugestões e conselhos, tanta gente com ares de sábio e tantos entendido... Os meios de comunicação nos propõem tantas coisas: livros, televisão, rádio, Internet, aplicativos, jornais, revistas... Em tudo podemos perguntar com Pedro: “A quem iremos?” (Jo 6,68).
A grande tentação do nosso tempo é pensar que nossa razão é o critério da verdade, é a medida do bem e do mal. Assim, é certo, é bom, é aceitável o que nós julgamos ser ou o que a maioria pensa ser bom. Se agora o divórcio é um bem, então que seja; se nos tempos atuais a união homossexual é normal, então que seja aprovada; se nos cânones da ciência manipular embriões humanos é correto, então vá lá; se todo mundo acha uma boa ter relações pré-matrimoniais, então para que se opor? Vejam: o homem agora se julga adulto, emancipado, liberado: ele próprio julga poder definir sua vida, construí-la a seu modo. Para que um Deus que me diga o que fazer? Para que uma Igreja com ares de dona da verdade? Ninguém precisa mais disso! Esta parece ser a mentalidade de hoje...
A primeira leitura nos vem do Deuteronômio. O Deuteronômio é o “Livro da Lei” e diz que um povo que segue as boas e justas leis de Deus será considerado sábio. Isso acontece porque Deus nos quer mostrar caminhos para vivermos melhor. Caridade, solidariedade, justiça não devem ser considerados sacrifícios, mas são maneiras de organizar melhor os relacionamentos pessoais e sociais aqui no nosso mundo. Se alguém duvidar, então olhe em volta, leia o jornal e perceba quanto sofrimento e violência simplesmente não existiriam se as leis de Deus fossem de fato o critério prioritário que decide as ações humanas. Muita gente acha que viver num mundo violento é castigo de Deus. Verdade é que os sofrimentos decorrentes da falta de fraternidade são coisas que Deus não quer e que só acontecem porque não observamos as leis de Deus.
Uma rápida leitura de jornal já nos faz perceber quanta coisa começa a dar errado simplesmente porque as pessoas não praticam as leis de Deus. Não é só o assaltante que está violando um mandamento. Por trás da violência dos nossos dias está um mundo de valores que não são os valores de Deus. Tudo seria diferente se, de fato, a sociedade se organizasse para defender os filhos e filhas de Deus, em todas as etapas da vida, em todos os seus direitos e necessidades. Perdoar é mais tranquilizante do que guardar rancor e retribui o mal com o mal, praticando mais um crime. Socorrer os desamparados é mais fácil e mais barato do que encher prisões. Educar crianças e jovens com limites, mostrar um ideal de vida é mais produtivo do que deixá-los sem ter outro remédio para a frustração que não seja a droga. Amar de verdade é mais emocionante do que usar o outro como objeto de diversão e, para evitar uma gravidez de uma adolescente, distribuir, simplesmente, preservativos.
Não há ninguém como o fabricante para saber como um produto funciona melhor, dando as instruções para o seu uso. Deus nos fez e nos conhece bem. Como Criador, ele não gosta de ver sua obra estragada. É muito sábio seguir as instruções do fabricante de gente. “Vós guardareis os mandamentos do Senhor, porque neles está vossa sabedoria e inteligência”, diz o Deuteronômio (Dt 4,6).
“Sede praticantes da Palavra” nos diz a Carta de São Tiago. “Não sou católico praticante”, ouço muita gente dizer. O que significa “praticar a religião”? A Igreja insiste, com razão, nas chamadas “práticas religiosas”: participar da missa, receber regularmente os sacramentos, rezar com frequência, participar das atividades da comunidade paroquial, ler a Bíblia... Tudo isso é muito bom e importante, mas nisso não se resume a “prática da religião”. Ficar só nisso seria como se alfabetizar e nunca ler nada, ou como curar a paralisia e continuar na cadeira de rodas ou como preparar comida para ninguém comer.
A memória de Jesus, que celebramos na Eucaristia, é força para agir como ele agiria, para dar valor ao que ele achava importante, para acolher as pessoas com que ele se importa. De outro modo, seria culto vazio.
Além da crise econômica, um dos temas mais comentados é a corrupção. O trecho da carta de Tiago, que lemos hoje, recomenda também que os cristãos se afastem da corrupção do mundo: “Não se deixem contaminar pelo mundo” (Tg 1,27). Isto não significa que devamos nos afastar do mundo. É neste nosso mundo que temos que ser fraternos, caridosos, solidários, defensores da justiça. Deus que criou o mundo quer salvar a sua obra, quer ver o mundo funcionar direito. Mas há no mundo uma corrupção da qual não podemos fazer parte, porque corrupção é apodrecimento, estrago da obra de Deus. Dizer “todo mundo faz assim”, para ignorar a justiça ou violar direitos não é desculpa aceitável. Estamos no mundo, sim, mas é para fazer diferença, respeitar a direção dos planos de Deus.
O evangelho lido hoje confirma o sentido das duas primeiras leituras. Os discípulos de Jesus são censurados
por não cumprirem leis do rito de purificação. Não eram leis ruins, é claro. De certa forma, até serviam de proteção
para o povo que não tinha as condições higiênicas da vida moderna. Ou como em nossos dias aconselhamos procedimento de higiene para evitar contágio da gripe A. o problema estava em achar que isso era suficiente para estar “em dia” com Deus.
“Escutai todos e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior” (Mc 7,15). Jesus alerta para algo que suja a vida de maneira mais prejudicial. Jesus lança o programa de uma ecologia do coração. Jesus então enumera algumas coisas que poluem o coração: imoralidades, adultérios, maldades, inveja, calúnia, orgulho... Não seria bom fazermos já um trabalho de saneamento do coração? Por exemplo, lutar contra nosso costume de fofocar, de fazer críticas, de participar em murmurações contra pessoas ausentes, de julgar as pessoas precipitadamente. Isto é um veneno que é muito difícil a ser neutralizado.
Irmãos e irmãs!
Nossas mãos foram feitas para lutarem em defesa da vida, não para destruírem a vida.
Cuidemos, portanto, que nossas mãos sejam sempre limpas. Elas são limpas, se o nosso coração estiver limpo.
Hoje, celebramos o “Dia do Catequista”. É um domingo para refletir e rezar pelo o ministério catequético. O tema da catequese é muito oportuno para esta celebração, principalmente, porque existe uma mentalidade — equivocada, diga-se de passagem — que considera os catequistas responsáveis pelo “ensinamento” da religião. Hoje, essa mentalidade, embora persista em alguns católicos, pouco a pouco vai dando lugar a outro modo de entender o ministério catequético.
O catequista é um discípulo de Jesus, alguém com experiência no estilo de vida cristã e, por isso, alguém preparado para ajudar outras pessoas, de crianças a idosos, a serem discípulos de Jesus.
Os catequistas são aqueles que mostram o caminho de como viver e praticar a religião pura e sem mancha.
Os catequistas, ao lado dos pais, — e principalmente com os pais — são aqueles que conduzem as pessoas no caminho do Evangelho, ajudando a fazer da religião um modo de viver como discípulos e discípulas de Jesus; viver caminhando nas estradas de Jesus.
— Parabéns catequistas e que Deus os abençoe e os ilumine em seus caminhos para testemunharem, pelo estilo de vida cristã, como se vive a religião pura e sem mancha em nossos dias. Amém!
Frei Gunther Max Walzer, Ofm