Homilia - 19/06/2016 - XII Domingo do Tempo Comum
Encontramos multidões nas manifestações e nas ruas das cidades do nosso país. Multidões da sociedade brasileira que manifestaram seu descontentamento com a situação política e econômica. Podemos ver multidões que se juntam em grandes estádios e igrejas, delirando com o “Show de Jesus” que provoca “catarses coletivas”. O povo também procura Jesus em grandes templos querendo obter curas ou alívio de seus males e angústias. No nosso mundo um tanto paganizado, Jesus não passa de um grande filósofo, de um sábio, de um homem maravilhoso, pregador de grandes valores humanos.
Multidões estavam seguindo Jesus e ele quis saber dos discípulos a opinião do povo a seu respeito: “Quem diz o povo que eu sou?” (Lc 9,18). Os discípulos responderam: “Alguns acham que és João Batista que voltou, ou Elias, ou algum grande profeta que ressuscitou” (Lc 9,19). Pode-se perceber, nessas respostas, que Jesus é considerado como precursor daquele que o povo espera: o Ungido de Deus, o Messias. O Messias esperado pelo povo seria um rei poderoso, que venceria os inimigos, alguém que viria com majestade e grandeza. Para o povo daquela época, o Messias devia ser muito mais forte, triunfante e milagroso.
Jesus também queria saber, o que seus discípulos estavam pensando: “E vocês, quem dizem que eu sou?”. Pedro, em nome de todos, responde: “Tu és o Cristo, o Ungido de Deus, o Messias!”.
Agora, com essa resposta, está tudo resolvido? Jesus não discorda da afirmação de Pedro. Ele sabe, no entanto, que os discípulos sonhavam com um “messias” político, poderoso e vitorioso e apressa-se a desfazer possíveis equívocos e a esclarecer as coisas: Ele é o enviado de Deus para libertar os homens; no entanto, não vai realizar essa libertação pelo poder das armas, mas pelo amor e pelo dom da vida (vers. 22). Jesus reconhece que ele é o Filho do Homem. Mas o seu destino seria diferente daquilo que o povo estava esperando do Messias. Ele irá sofrer muito, será rejeitado pelos líderes religiosos, será morto cruelmente, e, no terceiro dia, ressuscitará.
Jesus, com estas palavras, colocou seus amigos diante de uma realidade difícil de compreender e que lhes pareceu cruel. Nem se deram conta que Jesus falou também em ressurreição! Podemos observar que, cada vez que Jesus fala do seu sofrimento, ele menciona a ressurreição, para vermos além da cruz.
E Jesus continuou: “Se vocês querem andar comigo, se querem me seguir, renunciem a si mesmos, tomem a sua cruz cada dia, e sigam-me.” Agora ficou mais difícil ainda. O que iriam decidir?
Na vida de cada cristão surge essa pergunta: “Quem é Jesus Cristo para você?”.
Jesus fez essa pergunta aos discípulos; a todos os discípulos, também aos discípulos de hoje. Não é suficiente responder com uma frase decorada do catecismo, mas com a realidade da vida. È uma pergunta existencial. O que Jesus Cristo representa na sua vida, da sua família e da mossa comunidade? Como você vive e convive com Jesus Cristo em todos os momentos de sua existência? Qual é a influência de Jesus em sua vida? Pois, se aceitamos Jesus, haverá consequências imprevisíveis.
A escolha de Cristo não é ele entre outros, mas só ele, com absoluta exclusividade! Não é: Cristo e outros, mas só Cristo! Ponto final! Assim fizeram os apóstolos, assim praticaram os santos.
Hoje, como sempre, será uma pergunta crucial para cada um de nós: “Quem sou eu para você?” No mundo, o valor de Cristo não passa da importância de um filósofo, de um sábio oriental, mas dificilmente o mundo o aceita como Filho de Deus. Num mundo paganizado e materializado, é difícil apresentar a personalidade de Cristo e sua mensagem. Basta ver o que o mundo fez da festa de Natal, da Semana Santa etc.
Num mundo com total desvalorização do sobrenatural, poderíamos perguntar a um jovem casal: “O que vocês pensam de Cristo na vida matrimonial? “. Assim por diante.
Será que nossas decisões são feitas à luz de Cristo? Nossas amizades têm a aprovação de Cristo? Cristo poderia sentar-se ao nosso lado, assistindo ao mesmo programa de TV? Ele aprovaria nossas leituras? Ele poderia ouvir nossas conversas quando falamos de outras pessoas? Quantas vezes por dia pensamos nele? E que tipo de Cristo aceitamos? Um Cristo que influencia nossa vida familiar, profissional e social?
O evangelho de hoje, portanto, serve como um balanço. É uma proposta para uma reflexão bem sincera em vista de avaliar se Jesus Cristo está presente no dia a dia de nossa vida.
Cristo diz no mesmo evangelho: “O Filho do Homem deve sofrer muito!”. Aceitamos um Cristo com a cruz?
E Jesus continuou: “Se vocês querem andar comigo, se querem me seguir, renunciem a si mesmos, tomem a sua cruz cada dia, e sigam-me.”
A primeira pergunta que fazemos é: o que significa tomar (ou carregar) a cruz? Há uma explicação óbvia: tomar a cruz significa carregar o sofrimento, assim como Jesus carregou a cruz à qual seria pendurado.
Lucas é o único evangelista que, às palavras de Jesus “tome sua cruz”, acrescenta: “cada dia”. Isto não significa que quem quer seguir Jesus deve carregar todo dia uma cruz pesada. O discípulo que quer seguir Jesus deve seguir e imitar Jesus na entrega de si e na doação da própria vida.
O evangelista, portanto, não está falando da última cruz da vida, e sim daquela que se vive diariamente, realizada, desde as pequenas coisas, em uma vida de solidariedade, doação de si, amor ao próximo...
O amor a Jesus leva a quem queira segui-Lo, aprender a viver não para si próprio senão para os demais. É um estilo de vida diferente marcado pelo serviço, pelo amor até o extremo.
É evidente que é uma proposta que vai em contracorrente com a mentalidade individualista e narcisista de nossa época, mas, sem dúvida, responde perfeitamente ao ideal de felicidade e realização que todo ser humano deseja alcançar.
Muitos cristãos, talvez, têm da cruz uma visão pessimista. A cruz é sinônimo de sofrimento e dor. Jesus não pregou o sofrimento, mas o amor. O amor verdadeiro é doação da própria vida, doação total se for preciso. O amor sofre pelo outro, porém esse sofrimento está sempre impregnado da alegria de quem ama. Não há outro maior valor do que o amor.
Com certeza, precisamos repensar nossa convivência com Jesus. Repensar para considerar se somos ou não discípulos de Jesus e do Evangelho. É claro que não estou falando aqui de conhecimento teórico, que encontramos em livros, em cursos de formação ou em palestras... falo de conhecer Jesus pelo seguimento e, seguimento no discipulado.
Infelizmente, pela falta de interesse e pouco investimento na vida cristã, muitos têm um conhecimento de Jesus Cristo superficial, apenas teórico, sem nenhuma interferência em suas vidas. Conhecem frases do Evangelho, mas não fazem do Evangelho um estilo de vida pessoal, um modo de pensar e um jeito de viver. Respostas vazias indicam que caminhamos pouco no caminho do discipulado, no caminho do Evangelho.
Quem é Jesus Cristo para nós? A 2ª leitura ajuda-nos a dar nossa resposta. Paulo diz que desde o dia que abraçamos a fé e colocamos Jesus em nossa vida. Assim como Jesus encarnou-se e se fez homem, assim podemos nos encarnar em Cristo, nos cristianizar, revestindo-nos de Jesus Cristo, como diz Paulo.
Frei Gunther Max Walzer