Homilia - 11/09/2016 - XXIII Domingo do Tempo Comum
O evangelho de hoje nos conta uma experiência muito comum em nossa vida: perder algo e reencontrá-lo. Passamos por uma sensação de angústia da perda. No entanto, grande é também a alegria quando recuperamos o que estava perdido. Como deve ser grande a angústia e a tristeza quando pais perdem seus filhos na fuga do terrorismo reinante em muitos países do Oriente Médio, na Ásia e na África. São, atualmente, milhares de crianças que foram acolhidas nos países da Europa sem pais e família.
As parábolas do evangelho que acabamos de ouvir são respostas a alguns grupos de pessoas que se sentiam incomodados com os ensinamentos de Jesus, principalmente, com seu modo de agir, pois, para esses grupos, esses ensinamentos estavam destoando do que tinham aprendido e ensinado até então.
Com suas atitudes, Jesus escandaliza os escribas e fariseus porque está frequentando ambientes onde está em más companhias. Não só se encontra com pecadores públicos, mas até toma refeição com eles.
Lembramos que tanto publicanos como pecadores eram discriminados e desprezados na religiosidade judaica. Pecadores eram os publicanos porque cobravam impostos do povo por concessão do império romano opressor. Considerados pecadores eram pessoas que tinham conduta imoral: prostitutas, ladrões, assassinos. Mas não somente estes eram considerados pecadores, também os que exerciam uma profissão considerada impura pela religiosidade judaica: pastores de ovelhas, tecelões, tosquiadores, enfermeiros que aplicavam sangrias, curtidores, navegadores, médicos, condutores de camelo e açougueiros. Os fariseus também consideravam pecadores todos os que não seguiam as regras farisaicas.
Assim, quem demonstrava amizade e intimidade com essa gente, tornava-se “impuro”, indigno de entrar na casa de Deus.
Jesus percebendo a situação, contou estas parábolas para dizer que ele está agindo como Deus age, como é correto. Porque Deus gosta de reencontrar o que tinha perdido. As parábolas contam então a busca de algo que se perdera: uma ovelha, uma moeda.
Na parábola da ovelha perdida, o dono das ovelhas faz o que ninguém faria: deixa tudo e vai atrás da ovelha perdida. Só Deus faz isso! Os fariseus e os escribas abandonavam os pecadores e os excluíam. Eles nunca teriam ido atrás da ovelha perdida. Teriam-na deixada no deserto, perdida. Preferiam as noventa e nove. Mas Jesus fica no lugar da ovelha que se perdeu e que cairia no desespero, sem esperança de ser acolhida.
Jesus nos conta, também, a parábola da moeda perdida. Esta moeda de prata era uma dracma. Uma dracma não era tão valiosa assim; correspondia ao salário de um dia de um trabalhador braçal. Mas para uma mulher pobre, que vivia numa pequena casa desconfortável, quase sem janelas, dez dracmas representavam uma pequena fortuna, na verdade era o que ela tinha de mais valioso no momento. Por isso fez um esforço tão grande para encontrar a moeda perdida.
Com esta história Jesus quis não só evidenciar o valor de uma pessoa para Deus, mas também o fato de que Deus nos busca um a um, para sermos salvos um a um, e para cada salvo haverá muita alegria.
Jesus deixa claro para os fariseus e para nós: Se nós nos sentimos pecadores, perdidos, lembremo-nos que para Deus valemos mais do que as outras noventa e nove ovelhas. E no caso que se nos convertermos, saibamos que “haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte do que por noventa e novo justos que não precisam de conversão” ( Lucas 15,8-10).
Por que Jesus conta estas parábolas? Jesus quer nos mostrar o verdadeiro rosto de Deus com os traços da bondade e da misericórdia. Jesus sentando-se à mesa com os pecadores e excluídos da convivência é como o Pai do Filho Pródigo. Jesus responde com atitudes àqueles que o criticam porque acolhe pecadores e come com eles. Deus não exclui ninguém da salvação. Ainda mais: dá prioridade àqueles que são mais fragilizados, marginalizados e oprimidos pela sociedade. O que importa é que todos, independente do que seja ou onde esteja, venham acolher a salvação que Deus oferece.
As duas outras leituras confirmam a misericórdia e bondade de Deus.
A primeira leitura fala da infidelidade do Povo, que fabricou um bezerro de metal fundido, ofereceu sacrifícios e o declarou seu deus. Deus ficou com raiva e ameaçou destruir o povo, mas Moisés intercedeu, lembrando a Deus o que ele já tinha feito em favor deste povo. Então, o Senhor desistiu da ideia. Moises nos lembra Jesus que sempre intercede por nós junto ao Pai.
A imagem de Deus misericordioso, revelado em Jesus, aparece na Carta de São Paulo a Timóteo. Paulo agradece a Cristo Jesus por tê-lo escolhido para seu serviço, ele “que outrora era blasfemo, perseguidor e injuriador. “Mas alcancei misericórdia, porque ainda não tinha recebido a fé e o fazia por ignorância”.
O que aprendemos de tudo isso? Aprendemos que o amor misericordioso de Deus é capaz de perdoar tudo. Aliás, como nos diz o Evangelho de hoje nas parábolas contadas por Jesus: Deus faz festa quando nos encontra. Todos somos pecadores, todos somos ovelhas perdidas. Todos precisamos que Deus nos busque, nos perdoe, nos acolha, nos salve. Não por merecimento, mas porque Ele quer, porque Ele nos ama.
Frei Gunther Max Walzer