Homilia - 19/03/2017 - Terceiro Domingo da Quaresma
Ao ouvir as leituras de hoje, um elemento logo chama a nossa atenção: a água. A água, todos nós sabemos, é o elemento mais precioso que temos na natureza. A água é o elemento mais importante para a sobrevivência de todos os seres vivos na terra. Sem água, tudo morre.
Também sabemos da força da água e que inunda e mata e provoca enchentes.
No entanto, muito preocupante é a notícia de que desperdício, descaso e contaminação podem levar à escassez da água. Vai faltar água. Dados da ONU de 2006 revelam que até 2050 mais de 45% da população mundial não terá acesso à água potável.
O tema da água é constante na Bíblia. A água é símbolo de vida e salvação.
O Evangelho de hoje é muito conhecido. Jesus estava com sede e pede água para beber. Muitas vezes, perdemos o sabor dessa narrativa pelo fato de que, entre nós, em nossas cidades, em cada esquina há um bar onde podemos tomar um refrigerante ou uma cerveja geladinha quando estamos com sede. Assim nunca temos a necessidade de pedir a alguém que nos dê um copo de água.
No entanto, podemos imaginar como deve ser terrível andar com sede, numa temperatura de 35 graus, e numa estrada poeirenta se encontra alguém que lhe oferece um copo de água fresca. É como um presente caído do céu. E foi esta a experiência que Jesus fez quando viajou de Jerusalém para Samaria.
Mas os discípulos ficaram surpresos porque Jesus não pediu apenas um copo de água, ele ficou conversando um tempão com essa mulher. Não havia nada de malícia neles. Mas Jesus, na opinião deles, não devia perder tempo e ficar conversando com uma mulher. Judeu algum falava com os samaritanos, inimigos antigos dos judeus. Jesus quebra dois preceitos: fala com uma mulher e, ainda mais, com uma mulher que era samaritana.
Mas, sobre o que Jesus estava conversando com a samaritana?
Jesus fala da água que mata todas as “sedes” humanas para sempre. Neste momento, a samaritana, certamente, ficou contente pensando como seria bom não ter mais que vir ao poço todos os dias e carregar água.
Mas, a água viva que Jesus promete é de outra espécie, é o espírito de Deus, é aquele amor que enche os corações; quem se deixa guiar por este Espírito encontra a paz e não precisa de mais nada.
Jesus é a água que mata a sede de Deus e nos faz encontrar a verdadeira vida.
Existe outro dado importante nas leituras da liturgia de hoje. Na conversa com a Samaritana, Jesus diz que quem beber da água que ele der terá dentro de si uma fonte de água que jorra para a vida eterna. Em outras palavras, Jesus está dizendo que cada um de nós não só consome água viva, mas é também fonte de vida.
Falar de fonte de água viva dentro de nós, portanto, é dizer que o Espírito de Deus na gente é uma fonte de vida que distribui alegria, fraternidade, compaixão pelos outros, solidariedade, carinho, amor.
O tempo da Quaresma é um tempo de reflexão. Por isso, devemos questionar a nossa vida, devemos nos perguntar em que fontes estamos buscando e bebendo a vida.
Muitas fontes que existem na sociedade são boas, mas muitas oferecem vidas contaminadas, outras causam a sensação de matar a sede, mas não saciam a sede de viver. Por isso, a interrogação nesta Quaresma é de suma importância: em qual fonte procuramos vida para nossas sedes existenciais? Do ponto de vista da espiritualidade, a pergunta é: qual é a fonte em que bebemos alegria, esperança, paz, fé, amor?
Somos fonte de água viva! Se alguém vier pedir: “Dá me de beber”. De que qualidade é a água que brota da nossa fonte interior? É água contaminada, cheia de bactérias de rancor, inveja, ciúme, ganância? Ou é uma água cristalina, água que transmite vida, paz e conforto, água que mata a sede de compreensão e de amor do meu próximo?
Por fim, um breve pensamento relacionado com a água, que tem muito a ver com a Campanha da Fraternidade de 2017. A água era uma riqueza para o povo de Jesus. Para nós que moramos num país com fartura de água em algumas regiões, e sabemos sofrer com a seca em outras regiões do Brasil, podemos ter uma idéia do valor da água para nossas vidas e para a vida de toda a terra. Vemos como tantas pessoas sofrem com a seca e é por isso que tratamos a água como uma riqueza. A água é importante na vida de todos nós, porque não podemos viver sem água. Este é o motivo pelo qual a Campanha da Fraternidade deste ano diz que o cuidado com a natureza tem a ver com o não desperdício da água. Além disso, o não desperdício da água é uma forma de ser fraterno, se fazer fraterno com todos para que a água não falte para ninguém. Hoje, o governo insiste muito na questão do desperdício da água por questões econômicas. É algo importante e necessário. Podemos ter esta motivação, mas nossa motivação maior para cuidar da água, a partir da Campanha da Fraternidade deste ano de 2017, é a fraternidade. Cuidando da água para que não seja desperdiçada, nós nos fazemos fraternos para que todos possam ter água sem precisar passar por necessidade.
Peçamos que a água viva, que nos foi transmitida quando fomos batizados, tenha seus efeitos sobre nós e nos una ao Senhor e entre nós com laços de amor e fraternidade.
Frei Gunther Max Walzer