Homilia - 02/12/2018 - Primeiro Domingo do Advento
Mais um fim de ano se aproxima. Percebe-se que a propaganda comercial “natalina” começou a aparecer em toda parte prometendo muita alegria e felicidade, ilusoriamente “embutidas” nos produtos de consumo.
Para a nossa comunidade cristã, hoje é o primeiro domingo do Advento, e com ele iniciamos também um novo ano do calendário litúrgico.
É a ocasião para desejarmos “Feliz Ano Novo em Cristo”. O novo início é marcado pela cor roxa na celebração, símbolo da espera ansiosa e penitente. A coroa do advento simboliza a atitude de espera, acendendo a cada semana uma das quatro velas, é a luz que ilumina a caminhada cristã. Em nossas casas fazemos a Novena de Natal. Com o advento a vinda de Jesus se torna próxima. Apenas quatro semanas nos separam do Natal, a festa do nascimento de Jesus. Por isso, nossa atitude é de espera, é de alegria e preocupação.
“Quando virá, Senhor, o dia?”.
Expectativa de quê, afinal?
As leituras de hoje alertam que a espera de Jesus é alegre, mas deve ser também preocupante. Será que a humanidade está preparada para receber a visita de Jesus? Desde o seu nascimento em Belém, será que houve progresso nas relações humanas?Depois de mais de dois mil anos, será que temos mais paz, mais justiça, mais segurança, mais amor? Para quem acompanha noticiários televisivos ou redes sociais, vemos somente violência, matança, tráfego de drogas e armas, assaltos, corrupção, migrações desenfreadas sem controle em todos os continentes. Tudo isso revela o lado maldoso da humanidade capaz de promover a destruição, a desgraça, o medo, a guerra, a morte...
Mas o povo ainda alimenta muitas expectativas, e são expectativas que coincidem com o plano divino: a paz, que é fruto da justiça; dirigentes e governantes honestos; libertação da ganância e corrupção; fraternidade e solidariedade entre todos.
Acabamos de ouvir a Palavra do Senhor. Deus mesmo nos falou. Vejamos mais de perto o que ele nos diz.
Jesus nos apresenta um discurso à primeira vista apavorante. Fala de transtornos nos astros, forças do céu abaladas, mar enfurecido como nunca se viu, pavor e angústia entre os povos, desmaios de medo: fim do mundo! E diz Jesus que “então o Filho do Homem aparecerá descendo numa nuvem, com poder e grande glória”, acrescentando ainda: “quando essas coisas começarem a acontecer, fiquem firmes e de cabeça erguida, pois logo vocês serão salvos” (Lc 21,27-28). .
Em seguida, Jesus chama a atenção para não nos deixar levar pela gula, embriaguez e preocupação pela vida, pois isso nos torna insensíveis e desatentos para a chegada do Filho do Homem. “Não deixem que as festas, ou as bebedeiras, ou os problemas desta vida façam vocês ficarem tão ocupados, que aquele dia pegue vocês de surpresa, como se fosse uma armadilha” (Lc 21,34).
Algo novo está acontecendo: a vinda de Jesus, o Libertador! É preciso estar atento!
Esta esperança de um futuro novo, de justiça e salvação, o profeta Jeremias já havia intuído centenas de anos antes (1ª leitura - Jr 33,14-16). Precisamente, num período em que por causa da corrupção e injustiça instaladas em todos os setores da sociedade (sobretudo entre governantes), nação judaica havia sofrido uma derrota implacável: fora parar no exílio. O profeta então sente Deus dizendo palavras de esperança: “Farei brotar de Davi a semente da justiça (isto é, um governante de fato honesto!), que fará valer a lei e a justiça na terra” (Jr 33,15).
O sonho do profeta continua atual e necessário. Ainda estamos tão carentes de direito, justiça e segurança!
Assim como a humanidade esperava ansiosa pela vinda de um governante justo, vivemos nós a mesma tensão por dias de mais paz e justiça. Essa situação ensina que precisamos mudar muito, melhorar vários aspectos e crescer mais para estarmos em condições de viver o advento.
O Evangelho nos fala da preparação para a vinda de Jesus. As palavras de Jesus chegam a assustar. Se levadas ao pé da letra, são terríveis.
O que significa tudo isso? Não é preciso desesperar-se, mas é bom ficar atento, pois não sabemos o dia nem a hora. “Fiquem alertas! Não deixem que as festas, ou as bebedeiras, ou os problemas desta vida façam vocês ficarem tão ocupados, que aquele dia pegue vocês de surpresa, como se fosse uma armadilha” (Lc 21,34-35).
Já imaginou se soubéssemos que o fim do mundo aconteceria em um futuro bem próximo, tipo assim, em dois meses?
Mas se soubéssemos mesmo que o mundo estava por um fio, com certeza as reações das pessoas seriam de três maneiras, a saber.
Uma parte da humanidade se entregaria a todo tipo de prazer sem limite, para aproveitar os últimos dias de vida.
Outra parte se empenharia em se preparar espiritualmente para o final. Para o julgamento, para a vinda do Senhor.
E a terceira parte da população mundial, talvez ficasse indiferente, com uma ironia de quem está fingindo felicidade por não acreditar em nada. Essa turma não demonstrava preocupação, nem mesmo medo.
E você? Em que grupo ficaria? Eu acho que ficaria no grupo de oração, ou de preparação, pelo fato de querer seguir as palavras do Senhor: “Fiquem vigiando e orem sempre, a fim de poderem escapar de tudo o que vai acontecer e poderem estar de pé na presença do Filho do Homem, quando ele vier” (Lc 21,36).
Vigilância e oração são as atitudes ideais para os cristãos. A vigilância prepara-nos para aceitar com naturalidade a aproximação do fim dos tempos, seja no caso da velhice e morte, seja no caso do juízo final. Quem não está preparado, quem não acredita em Deus, entra em pânico quando a hora se aproxima. Porque instintivamente ele sabe que do outro lado para onde logo estará, coisas boas não o esperam. Lá no fundo ele(a) sabe que não fez por merecer um futuro tranquilo, e a sua realidade escatológica, torna-se uma coisa muito assustadora.
Ao contrário, aquela pessoa que tem a certeza de que Deus o espera despede-se deste mundo com muita tranquilidade. Ele ou ela está consciente de ter feito tudo que pode para estar preparado(a) para aquele momento. Pela oração e pela comunhão, acima de tudo, ele(a) se empenhou a viver em comunhão com o Senhor que vem.
Ou seja, já no presente, ele(a) experimenta o paraíso que está se aproximando. É o antegozo da Vida Eterna.
Isso acontece porque a oração e a vigilância nos levam a uma sintonia profunda para com a aproximação da chegada do Senhor, e a antecipar as alegrias do Reino.
Viver a vigilância orante é rezar com o salmista: “Senhor nos mostre o seu caminho e que sua verdade oriente as nossas vidas” (Sl 84,8). Amém!
Frei Gunther Max Walzer