Homilia - 27/01/2019 - III Domingo do Tempo Comum
O evangelho diz que Jesus tinha o costume de frequentar a sinagoga aos sábados, como bom judeu interessado em guardar o Dia do Senhor. Jesus cumpria os deveres da tradição religiosa em que foi educado.
Na sinagoga de Nazaré, Jesus lê um texto do profeta Isaias, e reconhece nesse texto o resumo da sua missão. Não duvidamos que a missão de Jesus seja religiosa, quem o envia é Deus, não age em nome de nenhuma ideologia ou grupo político. Mas qual é o fundamento da missão ou seja: Qual é seu “programa de ação”? Será que Jesus anuncia: hoje vim para dominar, para ser homenageado e para exaltar os que têm prestígio na comunidade? A preocupação do programa de Jesus é curar corações, dar vista aos cegos, libertar cativos e anunciar a boa nova aos pobres, ou seja, veio para que aqueles membros mais necessitados do corpo da humanidade fossem atendidos. Tudo isso é só no sentido espiritual? Ou em todos os sentidos? O que será uma boa nova para os pobres? Será só a notícia de que eles podem ir para o céu quando morrem? Ou será também o anúncio de que Deus é solidário com seu sofrimento e quer justiça e mais vida agora mesmo?
O Papa Francisco iniciou as atividades na manhã da sexta-feira (25/01), terceiro dia da sua viagem ao Panamá (Jornada Mundial da Juventude), com uma visita ao Centro de Reabilitação de Menores “As Garças”, em Pacora, situado a cerca de 40 quilômetros da capital panamenha.
O Papa presidiu uma liturgia penitencial no local, com os menores e jovens, privados de liberdade, partindo da citação evangélica: “Haverá alegria no céu por um só pecador que se converte”.
Jesus acolhe os pecadores e come com eles! Esse gesto, disse o Papa, causou murmuração entre alguns fariseus e escribas, escandalizados e incomodados com a atitude de Jesus. Eles queriam desqualificá-Lo e desacreditá-Lo diante do povo.
Jesus não tem medo de Se aproximar daqueles que, por inúmeras razões, carregavam o peso do ódio social, como no caso dos publicanos – lembremo-nos que os publicanos eram corruptos ese enriqueciam roubando o seu próprio povo, provocando muita indignação – ou o peso das suas culpas, erros e enganos, como no caso daqueles que eram conhecidos por pecadores. Fá-lo porque sabe que, no Céu, há mais alegria por um só pecador convertido do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão (cf. Lc 15, 7).
Enquanto eles se limitavam a murmurar ou a ficar indignados, sem oferecer a possibilidade de qualquer mudança, conversão e inclusão, explicou o Papa, Jesus se aproxima, se compromete, colocando em risco a sua reputação, e convida sempre a uma maior renovação da vida e da história. Dois modos de se comportar, bem diferentes, que se contrapõem: um olhar estéril e infecundo – murmuração e fofocas – e o outro que convida à transformação e à conversão, proposta pelo Senhor.
Explicando o primeiro modo de se comportar, Francisco disse parece ser mais fácil colocar etiquetas e rótulos que produzem divisão: aqui os bons, ali os maus; aqui os justos, ali os pecadores.
Esse modo de agir dos fariseus e escribas, disse o Papa, contamina tudo, levanta um muro invisível, marginaliza, separa e isola num círculo vicioso.
“Que pena é ver uma sociedade que concentra as suas energias mais em murmurar e indignar-se do que em comprometer-se, empenhar-se por criar oportunidades e transformação! ”
Aqui, Francisco esclareceu a atitude de Jesus que visa a conversão e a transformação, mediante o amor misericordioso do Pai:
Um amor que não tem tempo para murmurar, mas procura romper o círculo da crítica inútil e indiferente, neutra e imparcial e assume a complexidade da vida e de cada situação; um amor que inaugura uma dinâmica capaz de proporcionar caminhos e oportunidades de integração e transformação, cura e perdão, caminhos de salvação.
Ao comer com os publicanos e pecadores, Jesus rompe a lógica de separação, exclusão, isolamento e divisão entre bons e maus. Assim, rompe também com outro tipo de murmuração, a interior, incapaz de transformação.
Por isso, o Santo Padre exortou os presentes a percorrer esse caminho de superação, proposto por Jesus, sem desanimar. Este é o plano de ação e a missão de Jesus.
"Amigos, cada um de nós é muito mais do que os rótulos que nos dão", disse o Papa.
Uma sociedade adoece quando não é capaz de fazer festa pela transformação dos seus filhos, uma comunidade adoece quando vive a murmuração que esmaga e condena, sem sensibilidade. Uma sociedade é fecunda quando consegue gerar dinâmicas capazes de incluir e integrar, assumir e lutar para criar oportunidades e alternativas que deem novas possibilidades aos seus filhos, quando se preocupa por criar futuro com comunidade, instrução e trabalho. E embora possa experimentar a impotência de não saber como, nem por isso se arrende, mas tenta de novo. Todos nos devemos ajudar para aprender, em comunidade, a encontrar estes caminhos.
O Papa finalizou convidando todos "a lutar sem cessar para encontrar caminhos de inserção e transformação", e a "experimentar o olhar do Senhor que vê, não um rótulo ou uma condenação, mas filhos".
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos”.
Frei Gunther Max Walzer