Homilia - 24/03/2019 - III Domingo da Quaresma
Tragédias chocantes e famílias traumatizadas chorando a perda de seus filhos e entes queridos no ataque a uma escola em Suzano. A dor mais ainda aumentou pelas 50 vitimas do terrível atentado contra duas mesquitas em Christchurch, na Nova Zelândia. As regiões de Brumadinho e do vale do Rio Doce estão sofrendo ainda as consequências do rompimento da barragem quando a lama tirou o sustento de milhares de pessoas. Quanto sofrimento causado pelas enchentes em diversas cidades do Brasil, mil e duzentos mortos na Indonésia, milhares de mortos e desabrigados em Moçambique e outros países da África, guerras e conflitos que não param de afligir a humanidade. As tragédias e catástrofes no nosso mundo não acabam mais. Lembrem-se da epidemia da Aids nos anos 1980. O terremoto no Haiti, alguns anos atrás. A própria pobreza em que vivem milhares de pessoas, doenças e tantas epidemias.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, os desastres naturais causados pela mudança climática provocam 60.000 mortes por ano.
Diante de uma catástrofe, de um desastre, ou diante de um acidente, muitos têm o costume de perguntar “por que Deus permite que isso acontecesse?” ou “será que Deus castiga?”.
No tempo bíblico, acreditava-se que a desgraça que acontecia na vida de alguém, a doença e os acidentes eram castigos de Deus pelos pecados cometidos pelas pessoas.
Ainda hoje, será que não se reage da mesma maneira quando acontecem tragédias ou catástrofes no nosso mundo? Algumas pessoas questionaram Jesus indo a Jerusalém quando contaram dois acontecimentos trágicos, ocorridos exatamente lá, em Jerusalém. O primeiro deles: um massacre de galileus, por ordem do governador Pilatos, quando ofereciam sacrifícios no templo. O outro fato: um acidente matando 18 pessoas, quando a torre do bairro de Siloé desabou sobre elas.
Como sempre acontece, a gente procura logo culpados – porque aquilo tinha acontecido com eles? Assim, as pessoas, que informaram Jesus sobre as duas tragédias acontecidas em Jerusalém, no fundo, se perguntavam: que pecado fizeram para merecerem tal castigo?
Jesus responde (Lc 13,2-12): “Pensam vocês que esses galileus, por terem sofrido tal coisa, eram mais pecadores do que todos os outros galileus?". A resposta é: Não! E, em relação à queda da torre de Siloé, ele diz: “E aqueles dezoito que morreram quando a torre de Siloé caiu em cima deles? Pensam vocês que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém?” A resposta é ainda: Não! Deus não castiga...
E Jesus, no fundo, responde: “Gente, a questão não é saber que pecado cometeram; a questão é que vocês mesmos se consideram santinhos e bons: pois eu lhes digo: “Se vocês não se converterem, perecerão do mesmo modo”.
Por que se converter? Por que Jesus fala assim?
É que Jesus estava se dirigindo a Jerusalém e estava percebendo nitidamente que muitos, julgando-se melhores, iriam rejeitar Jesus e sua mensagem. Consequência: Vão acabar perecendo do mesmo jeito, isto é, não vão participar da vida nova que Jesus estava trazendo. Se não se converterem...
O apelo da conversão é também para nós?
A finalidade da Quaresma não é fazer nossas penitências porque é Quaresma. É bom fazer uma revisão da nossa vida para não correr o risco de nos sentirmos melhores que os outros, não necessitando de conversão, de mudança de vida. São Paulo nos alerta na segunda leitura: “Quem julgar estar de pé tome cuidado para não cair” (1Cor 10,12).
Depois da análise dos dois desastres acontecidos, Jesus conta a parábola da figueira seca. Costumamos comparar Deus com o proprietário exigente, que manda cortar o que não produz. Mas, na verdade, a parábola mostra a paciência e a misericórdia de Deus. Na parábola, se dá um novo prazo, uma nova chance para a figueira.
Jesus faz uma comparação: compara a vida humana a uma árvore. Para que serve uma árvore que não produz frutos? Para que serve uma vida humana que não produza frutos de vida, capaz de multiplicar a vida em mais vida?
Jesus, no Evangelho de hoje, nos interroga: o que estamos produzindo em nossa vida? Respondendo a esta pergunta encontramos o sentido da conversão: converter-se para ser um discipulado de Jesus em vista de produzir mais vida, mais qualidade de vida para si e para os outros.
No contexto da Campanha da Fraternidade deste ano, podemos considerar que não basta buscar culpados pelo sofrimento do povo, porque o mais importante é favorecer e agir em favor de políticas públicas que produzam frutos, que tragam melhorias de vida.
É necessário um sério exame de consciência!
Quais são os frutos que produzimos? Somos uma figueira estéril? Em que precisamos nos converter? Qual a nossa atuação nesta Campanha da Fraternidade? Já decidimos que gestos concretos precisamos fazer?
Frei Gunther Max Walzer